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Projeções demográficas

2.2. TÉCNICAS DE PROJEÇÃO DEMOGRÁFICA

tipos principais de metodologias advém da forma de tratar a incerteza associada à previsão do compor- tamento de todas as componentes da dinâmica populacional, cuja evolução futura é garantidamente incerta.

Nas projeções determinísticas, recorre-se à apresentação de cenários ou variantes que traduzem a combinação de diferentes pressupostos sobre a fecundidade, mortalidade e migrações, de formas con- sideradas possíveis e consistentes, com o intuito de fornecer uma visão abrangente de como poderá ser o futuro em termos demográficos. Esta abordagem tem sido amplamente utilizada em projeções oficiais: a apresentação de três variantes - elevada, média e baixa - tornou-se comum em projeções elaboradas pelas Nações Unidas, pelo Eurostat, pelo IIASA ou pelo INE, I.P.. Estas variantes per- mitem considerar futuros alternativos para o desenvolvimento das forças demográficas, mas sem que seja possível quantificar a incerteza associada a cada cenário. Habitualmente, a variante média ou central é percecionada como sendo a que conduz a resultados ’mais prováveis’, dado que se baseia no pressuposto de manutenção das tendências verificadas até então em termos das componentes demo- gráficas, mas é necessário ter em conta que: (1) esta maior plausibilidade não pode ser quantificada e (2) esta variante não considera o efeito de políticas futuras já conhecidas ou de outros fatores que possam afectar as tendências demográficas.

No sentido de evitar as limitações associadas às projeções determinísticas, o desenvolvimento de pro- jeções probabilísticas tem sido substancial nas últimas décadas (Wilson e Rees, 2005). Neste tipo de projeções, a incerteza inerente à evolução demográfica é considerada de forma explícita, permitindo associar probabilidades à projeção das diferentes componentes e à projeção da população resultante. Desta forma, obtém-se uma perspetiva mais detalhada da incerteza, podendo ser apresentados in- tervalos de confiança para traduzir a plausibilidade do futuro demográfico (Skirbekk et al., 2007). A elaboração de projeções probabilísticas passa pela definição de distribuições de incerteza para cada uma das componentes demográficas, que pode ser conduzida através da análise de séries temporais, a partir da análise dos erros de projeções anteriores ou pode ser baseada na avaliação de argumentos de especialistas resultando em conjuntos de distribuições probabilísticas subjetivas (O’Neill et al., 2001). Estas distribuições são depois estocasticamente combinadas num grande número (tipicamente alguns milhares) de projeções, analisando-se a distribuição dos resultados destas simulações. As vantagens deste tipo de projeções são evidentes, mas o seu desenvolvimento encontra-se ainda numa fase inicial e não existe para já uma abordagem universalmente aceite para descrever quantitativamente a incerteza das projeções demográficas, sendo necessária investigação adicional neste campo (Lutz e KC, 2010). A sua utilização é ainda reduzida, continuando a prevalecer as projeções determinísticas. Ao nível global, o IIASA produziu projeções probabilísticas para 13 regiões do mundo (Lutz et al., 1997; Lutz et al., 2001; Lutz et al., 2008); Scherbov e Mamolo (2006) produziram projeções probabilísticas para os então 25 Estados-Membro da União Europeia e, mais tarde, para os 27 que a compõem atual- mente (Scherbov et al., 2008), baseando-se nos pressupostos utilizados pelo Eurostat na elaboração de projeções determinísticas e nas respetivas variantes elevada, média e baixa (tendo sido necessário

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estabelecer que extensão da incerteza total a ser simulada se encontrava abrangida pela diferença en- tre as variantes elevada e baixa); a nível nacional, Pedrosa (2011) apresentou recentemente projeções probabilísticas para a população portuguesa, por sexo e idade, até ao ano de 2050.

Os vários tipos de projeções existentes, distinguidos pelas diversas formas de tratar a incerteza, apre- sentam em comum, na maior parte dos casos, a forma de conjugar a evolução futura dos processos demográficos (fecundidade, mortalidade e migrações) de modo a obter projeções sobre a estrutura e dimensão da população: o método de componentes por coorte é a técnica habitualmente utilizada neste sentido.

2.2.2. Método de componentes por coorte. O desenvolvimento do método de componentes por coorte foi a maior inovação no desenvolvimento das metodologias de projeções demográficas. Esta abordagem foi inicialmente proposta pelo economista inglês Cannan (1895) e formalizada em termos matemáticos por Leslie (1945). A partir da projeção de Notestein (1945), o método das componen- tes por coorte tornou-se o principal meio de projetar a população e permaneceu fundamentalmente inalterado até à atualidade (O’Neill et al., 2001). Nos dias de hoje, todas as organizações nacionais e internacionais que produzem estatísticas utilizam o método das componentes como ferramenta padrão para a elaboração de projeções demográficas de longo prazo (Lutz e KC, 2010).

De acordo com a descrição de O’Neill et al. (2001), a população inicial do país ou região em estudo é agrupada em coortes definidas, regra geral, pela idade e o sexo, e a projeção processa-se passo a passo através da atualização da população de cada grupo específico de acordo com os pressupostos referentes à fecundidade, mortalidade e migrações que tenham sido estabelecidos. Os grupos etários quinquenais (e os intervalos temporais de cinco anos) são frequentemente utilizados em projeções de longo prazo; como tal, cada coorte sobrevive até ao grupo etário seguinte de acordo com as taxas de mortalidade assumidas para cada período, específicas para a idade e sexo. As migrações podem ser consideradas aplicando-se a cada coorte taxas de migração ou um determinado saldo migratório, também específicos. A dimensão do grupo etário mais jovem é afetada ainda pelo número de nascimentos, calculado com base em taxas de fecundidade relativas às coortes femininas na faixa etária correspondente à idade reprodutiva e, eventualmente, em taxas de mortalidade infantil. É assumida uma determinada relação de masculinidade para repartir os nascimentos totais em masculinos e femininos.

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População portuguesa por sexo e grupo etário (1981) População portuguesa por sexo e grupo etário (1991)

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Homens 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75+ Mulheres 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75+ Homens 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75+ Mulheres Fecundidade Migrações Migrações Mortalidade Mortalidade

Figura 2.2.1. Esquema da projeção demográfica por idade e sexo

Fonte: Adaptado de Lutz et al. (2005)

Uma característica essencial do método é que a dimensão e estrutura etária da população projetada num qualquer momento depende inteiramente da dimensão e estrutura etária iniciais e das taxas de fecundidade, mortalidade e migração assumidas para o período de projeção. A incerteza nos resultados advém, assim, da incerteza sobre a população de partida e sobre as tendências de evolução destas taxas (O’Neill et al., 2001).

O método de componentes por coorte pode ser matematicamente sumarizado através da matriz de Leslie (ver secção 1.3) e de uma equação de projeção que relaciona os efetivos no momento t com a população projetada para o momento t + 5 (no caso de projeções quinquenais), considerando ou não a existência de migrações (ver, por exemplo, Siegel (2012)).

A utilização do método de componentes por coorte para projetar uma população por sexo e idade é prática comum e tal metodologia encontra-se bem estabelecida. Contudo, a inclusão de dimensões adicionais a considerar na formação das coortes conduz à necessidade de adaptar o método a uma população caracterizada por um modelo multiestado.

2.2.3. Métodos de projeção demográfica multiestado. Quando se pretendem acrescentar novas dimensões às projeções (considerando atributos adicionais, para além da idade e sexo, para distinguir os indivíduos) pode seguir-se uma das seguintes abordagens principais: o chamado método de distribuição, em que a população projetada por idade e sexo é dividida pelas categorias referentes a outras características, com base em taxas de prevalência ou funções de distribuição (por exemplo, no caso de se pretender dividir a população desagregada por idade e sexo pelos níveis de escolaridade, é comum utilizar-se as taxas de matrícula nos diferentes níveis de ensino); ou o modelo multiestado, ba- seado na caracterização demográfica através de um modelo populacional multiestado (ver secção 1.4), que leva em conta as probabilidades ou intensidades de transição entre os vários grupos determinados pelas dimensões consideradas. O primeiro é considerado um método estático e, em oposição, o modelo de projeção multiestado, ao focar-se sobre os eventos ocorridos no decorrer de um certo período, para um determinado grupo de indivíduos, incorpora uma perspetiva dinâmica da evolução demográfica.

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É considerado, por isso, mais adequado para modelar a evolução demográfica nos casos em que as interações entre grupos desempenham um papel central. No entanto, como discutido anteriormente, a exigência de dados complexos e precisos pode impossibilitar o uso destes modelos e este aspeto conduz ao escasso desenvolvimento de projeções multiestado fiáveis por parte de organismos oficiais (Willekens, 2006). A escolha entre um método estático ou dinâmico tem sido alvo de debate no âmbito da análise e prospetiva demográfica.