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Técnicas de SPD aplicadas ao processamento de materiais armazenadores de hidrogênio

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 Técnicas de SPD aplicadas ao processamento de materiais armazenadores de hidrogênio

Trabalhos recentes têm mostrado que as rotas de processamento envolvendo deformação plástica severa também são promissoras para a preparação de ligas de Mg para armazenagem de hidrogênio [12, 34-36]. Entre as vantagens que podem ser obtidas com este tipo de processamento, em relação à moagem de alta energia, destacam-se: a maior resistência esperada em relação à ação de impurezas presentes no ar (tais como H2O, CO, CO2,

O2), devido à menor área superficial; a incorporação em um nível muito menor

de impurezas, e a possibilidade de processamento em tempos menores.

Huot e Dufour [12] prepararam Mg contendo 2,5% at. Pd utilizando duas rotas de processamento: (i) moagem de alta energia por 2 h e (ii) diversos passes de laminação a frio de folhas empilhadas de Mg e Pd. Embora apresentasse microestrutura menos refinada, o material laminado apresentou um tempo de ativação para absorção de H2 muito inferior ao exibido pela

amostra moída. A cinética dos processos de absorção e dessorção é comparável entre os materiais laminado e moído, como mostra a figura 2.7. Outra característica interessante apresentada pelo filmes laminado é alta resistência ao ar. Os autores apresentam como possível explicação para este último efeito a menor relação entre área superficial e volume dos filmes laminados quando comparada à de misturas moídas.

Em outro trabalho [34], os mesmos autores mostraram que o processo de laminação a frio pode ser usado para a síntese do intermetálico Mg6Pd e

reportaram melhores propriedades de armazenagem de hidrogênio para filmes laminados do que para pós moídos também para esta composição.

Skrypniuk et al [35] aplicaram deformação plástica severa a uma liga fundida de Mg-Ni com composição eutética através do processo ECAP utilizando diversos passes. Os grãos de Mg e Mg2Ni foram reduzidos à escala

sub-micrométrica e os grãos de Mg apresentaram uma supersaturação de Ni, o qual estava distribuído de forma heterogênea ao longo dos grãos. A liga

processada por ECAP apresentou excelente cinética de dessorção, liberando 5% em massa de hidrogênio em 5 min a uma temperatura inferior a 300°C.

Kusadome et al [37] utilizaram recentemente a técnica de HPT em pós de MgNi2. Este intermetálico, ao contrário do Mg2Ni, não é um formador de

hidretos. Os autores observaram neste trabalho que o aumento do número de rotações durante o processamento levava a intensa deformação e conseqüente refino de grão até o nível de 20 nm. O alargamento dos picos de DRX do MgNi2

de acordo com o número de rotações durante o processamento por HPT é mostrado na figura 2.8. O material assim processado mostrou-se capaz de absorver pequenas concentrações de hidrogênio (0,1% em massa) após tratamento de hidrogenação a 100ºC. Segundo os autores, o hidrogênio absorvido estaria alocado nos contornos de grão.

Figura 2.7 Curvas cinéticas de absorção/dessorção de hidrogênio a 350°C do nanocompósito Mg – 2,5% Pd (em átomos), moído e laminado a frio. A pressão de absorção é de 10 bar e a dessorção foi realizada sob vácuo. Adaptado de Dufour e Huot [12].

Figura 2.8 Padrões de DRX do MgNi2 antes e após HPT usando 2,8 GPa e

número de voltas N = 2, 5 ou 10 [37].

O processamento por ECAP de ligas comerciais de Mg tem sido bastante estudado nos últimos anos [52, 54, 69], tendo em vista aplicações estruturais. Entretanto, as ligas de Mg têm sido consideradas como de processamento difícil por esta técnica, e o grau de refino microestrutural alcançado é normalmente menor do que o obtido em outras ligas, como por exemplo em sistemas à base de Al [69]. A explicação dada para este fato é o número de limitado de sistemas ativos de escorregamento da estrutura HCP do Mg [70].

Su, Lu e Lai [50] propuseram, a partir de análise estrutural por microscopia óptica e eletrônica de transmissão, um mecanismo para o refino microestrutural do Mg processado por ECAP (figura 2.9). A liga AZ31 foi utilizada como referência e os principais parâmetros de processamento (temperatura e número de passes) foram considerados.

Segundo os autores, o mecanismo de refino de grão é uma combinação da ação do cisalhamento mecânico e dos processos contínuos subseqüentes de recuperação, recristalização e crescimento de grãos e de células de sub- grãos. Essa combinação de processos produz grãos refinados e equiaxiais a cada passe de ECAP. A análise dos resultados após múltiplos passes revelou que um refino adicional pode ser incorporado após cada passagem do material

pelo canal. Verificou-se também que a temperatura tem um papel central na efetividade do refino de grão do Mg, além da rota de ECAP utilizada e da quantidade de deformação acumulada.

Figura 2.9 Modelo para o refino de grão por ECAP do Mg proposto por Su, Lu e Lai a partir de análise microestrutural. (a) Microestrutura anterior ao processamento por ECAP, formada por grãos grosseiros e equiaxiais. (b) Imediatamente após a deformação por cisalhamento, grãos originais deformados ao longo do plano de cisalhamento, bandas de deformação e empilhamento de discordâncias formados no interior dos grãos. (c) Um pouco após a deformação, a recuperação devida ao aquecimento leva ao rearranjo de discordâncias e à formação de estruturas de subgrãos e à nucleação de novos grãos livres de deformação no interior das bandas de deformação. (d) Crescimento de grão devido ao aquecimento leva à formação de contornos de alto ângulo a partir dos subgrâos e grãos recristalizados, e dessa maneira formam-se grãos refinados e equiaxiais [50].

A análise dos resultados da literatura mostra que a microestrutura de diferentes ligas ou compósitos à base de Mg pode ser em princípio manipulada através do controle das variáveis de processamento em rotas envolvendo HEBM e/ou SPD.

O estudo de diferentes condições de síntese e de processamento na microestrutura e nas propriedades nos sistemas de interesse é bastante relevante e os avanços alcançados devem contribuir para o desenvolvimento de materiais mais interessantes para as aplicações de armazenagem de hidrogênio.