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Técnicas e instrumentos de recolha de dados

PARTE II – PROJETO DE INVESTIGAÇÃO-AÇÃO

1.1. Metodologia utilizada: planear e desenvolver a prática usando procedimentos de

1.1.1. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Numa primeira fase durante o decorrer da PES, entre janeiro e fevereiro do ano letivo 2011/2012, tivemos a oportunidade de nos integrarmos de uma forma natural e progressiva numa creche, de modo a obtermos conhecimento sobre a dinâmica de um grupo de crianças e da instituição. Esta fase constituiu um dos nossos primeiros envolvimentos profissionais, permitiu-nos conhecer e adaptarmo-nos a um grupo de crianças com caraterísticas próprias e, assim, iniciar o desenvolvimento da nossa identidade profissional.

De acordo com Estrela (1994), “A observação caracteriza-se por um trabalho em profundidade (…)” (p. 18) para conhecimento de uma situação específica num determinado período de tempo. O mesmo autor acrescenta ainda que este método também tem como finalidade “(…) fixar-se na situação em que se produzem os comportamentos, a fim de obter dados que possam garantir uma interpretação “situada” desses comportamentos“ (p. 18). Ou seja, a observação é um método de investigação que permite fazer uma recolha de dados concisa e que nos aproxime o mais possível da realidade do contexto observado.

Por ser uma técnica de recolha de dados fidedigna que nos possibilita um contacto direto com a realidade sem que a informação obtida fique condicionada pelas opiniões e pontos de vista dos sujeitos (Afonso, 2005), a observação foi um método bastante útil e imprescindível no nosso processo de integração e familiarização com o contexto, pois permitiu-nos “(…) compreender os contextos, as pessoas que nele se movimentam e as suas interacções” (Máximo-Esteves, 2008: 87).

Especificamente recorremos a uma observação participante, ao longo de todo o percurso de desenvolvimento da PES, observando e participando na vida de um grupo de crianças num contexto de creche, e a esta observação aliámos alguns instrumentos e técnicas de recolha de dados, depois de termos definido as questões e os objetivos já anteriormente referidos, para tornarmos mais fiável e fundamentado o presente percurso de investigação.

Os instrumentos e as técnicas de recolha de dados pelos quais decidimos optar na primeira fase do percurso para analisar e compreender o ambiente educativo foram as fichas de observação do contexto educativo e o guião da entrevista à educadora, retirados do Manual Desenvolvendo a Qualidade em Parcerias (DQP) (Bertram & Pascal, 2009), e a Escala de

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Avaliação do Ambiente em Creche – Edição Revista (ITERS-R) (Harms, Cryer & Clifford, s.d., traduzido por Barros, Pinto, Peixoto e Pessanha).

Uma grande parte da informação que obtivemos foi recolhida através de alguns instrumentos retirados do manual DQP, de Bertram e Pascal (2009). Este manual é o resultado da adaptação do projeto inglês EEL (Effective Early Learning) e, tendo sido “pensado para ser contextualizado em diferentes realidades e situações, propondo uma flexibilidade de uso” (Bertram & Pascal, 2009: 14), reúne uma série de instrumentos e referenciais que permitem a avaliação da qualidade das aprendizagens das crianças em contextos educativos portugueses. Os instrumentos a que recorremos deste manual foram a ficha do estabelecimento educativo1,

a ficha do espaço educativo da sala de atividades, a ficha relativa ao nível socioeconómico das famílias das crianças que frequentam o estabelecimento educativo2, a ficha do(a) educador(a)

de infância e, ainda, o guião da entrevista à educadora, o qual utilizámos como questionário3.

A ITERS-R contém as caraterísticas programáticas, espaciais e interpessoais que, num contexto de creche, influenciam diretamente as crianças e os adultos e é constituída por trinta e nove itens que se encontram agrupados em sete subescalas para obter uma medida geral ou discriminativa da qualidade: Espaço e Mobiliário, Rotinas de Cuidados Pessoais, Escuta e Conversação, Atividades, Interação, Estrutura do Programa e Pais e Pessoal. A cotação de cada item é expressa numa escala de 7 valores com descritores para 1 (inadequado), 3 (mínimo), 5 (bom) e 7 (excelente). Os níveis de qualidade são sustentados nas definições atuais de práticas de qualidade e em pesquisa que relaciona o ambiente educativo com os resultados das crianças.

Para uma caraterização mais completa e rigorosa do ambiente educativo, sobretudo com o objetivo de fazer uma análise de aspetos significativos na temática estudada, a importância dos cuidados e das rotinas no ambiente educativo da creche, foram utilizadas da ITERS-R as subescalas Espaço e Mobiliário, Rotinas de Cuidados Pessoais e Interação. À subescala Rotinas de Cuidados Pessoais foi utilizada com o objetivo de efetuar uma análise mais aprofundada, visto que a qualidade de um ambiente educativo em creche depende em grande parte de um currículo organizado a partir de uma rotina de cuidados, o que nos leva a uma atenção especial.

1 Instrumento adaptado à valência de creche.

2 Instrumento apenas utilizado para o registo do nível socioeconómico das famílias do grupo de crianças

observado.

3 As pessoas envolvidas, investigador e inquirido, não interagem em situação presencial, sendo considerado um

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Posteriormente, numa segunda etapa do projeto realizada de março a junho, partimos dos conhecimentos científicos e práticos adquiridos para compreender em que medida a organização do ambiente educativo com base numa rotina de cuidados favorece o bem-estar e o desenvolvimento das crianças. Desta forma, foi nos momentos de experimentação e desenvolvimento da nossa intervenção prática que recorremos a outros instrumentos de recolha de dados e informação que nos auxiliassem numa constante reflexão e procura de resposta às questões formuladas, respetivamente as notas de campo e os registos fotográficos.

As notas de campo e os registos fotográficos facilitaram-nos a recolha de dados pertinentes para este projeto, sendo dois instrumentos favoráveis à análise e reflexão sobre momentos específicos vividos ao longo do dia-a-dia na creche.

No que confere às notas de campo, Máximo-Esteves (2008) diz que estas incluem registos detalhados, descritivos e focalizados do contexto observado e também material reflexivo, como notas interpretativas, interrogações, sentimentos, ideias ou impressões que surgem ao longo da observação. Este instrumento metodológico é um dos mais utilizados por profissionais da educação em investigações para o registo de dados, pois, segundo a mesma autora, a sua finalidade é “(…) registar um pedaço da vida que ali ocorre, procurando estabelecer as ligações entre os elementos que interagem nesse contexto” (p. 88). É também de salientar que o momento de registo das notas de campo pode decorrer tanto durante o acontecimento como após e, assim, devido às condições do contexto observado, optámos pelo registo escrito o mais rapidamente possível após a sua ocorrência.

Por último, os registos fotográficos são uma outra forma de registo utilizada regularmente por profissionais por permitir facilmente inventariar os objetos da sala, os trabalhos das crianças ou as interações dos sujeitos envolvidos na ação, o que torna este recurso para fins investigativos um objeto comum no quotidiano da prática educativa, não perturbando o ambiente e o desempenho natural das crianças. Porém, no contexto em que estivemos inseridos, inicialmente os registos fotográficos provocaram alguma estranheza, mas, tendo em conta que foram introduzidos e usados naturalmente na rotina do grupo, tornaram-se um recurso habitual (Máximo-Esteves, 2008).

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