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Com vista à concretização dos nossos objetivos, socorremo-nos de diferentes técnicas e instrumentos de recolha de informação, nomeadamente entrevista individual semi- estruturada (com registo áudio, de modo a permitir posterior transcrição), técnicas participativas.

Tendo em consideração que a génese deste projeto se encontra no nosso objetivo de concluir o mestrado em Ciências da Educação, na vertente de Educação Social e Intervenção Comunitária, sendo, portanto, exterior ao próprio grupo de participantes, seguindo a recomendação de Guba e Lincoln, referida por Lima (2003), procuramos saber mais um pouco sobre as jovens que aceitaram nele participar. Para tal, recorremos à técnica da entrevista individual semi-estruturada para recolher informações mais específicas.

4.1. Entrevista individual semi-estruturada

Segundo Haguette, a entrevista é “um “processo de interação social entre duas pessoas, na qual uma delas, o entrevistador, tem por objectivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”” (Haguette cit. in Boni & Quaresma, 2005).

Quivy e Campenhoudt (1992) defendem que na entrevista aplicam-se os processos básicos da comunicação e da interação humanas. Quando utilizados corretamente, estes processos possibilitam ao investigador colher, das suas entrevistas, informações e pistas para reflexão ricas e diferenciadas.

A entrevista individual é uma técnica de recolha de dados, largamente utilizada nas ciências sociais, e apresenta as seguintes características: possibilita a obtenção de uma informação rica e profunda, os inquiridos não têm de saber ler nem escrever, possibilita ao investigador avaliar a subjetividade do entrevistado, bem como observar o meio em que este se encontra.

A preparação da entrevista assume particular importância no processo de recolha de informação e exige tempo e determinados cuidados. A saber: o planeamento da entrevista, que não deve perder de vista os objetivos definidos; a seleção do entrevistado, que deve estar familiarizado com o tema em investigação; o agendamento da entrevista, que deve ser feito com antecedência e de acordo com a disponibilidade do entrevistado de modo a garantir a concretização da mesma; as condições de realização da entrevista, que deve salvaguardar o anonimato do entrevistado e a confidencialidade das informações obtidas; e a construção do guião da entrevista (Boni & Quaresma, 2005). Boni e Quaresma (2005) referem diferentes tipos de entrevista – estruturada, semi- estruturada, aberta, projetiva, com grupos focais, entre outras. Optámos pela entrevista semi-estruturada, já que pretendíamos obter conhecimento sobre um problema específico, as suas causas e consequências.

No entendimento das mesmas autoras, as entrevistas semi-estruturadas conjugam perguntas abertas e fechadas, possibilitando ao entrevistado discorrer sobre o assunto em análise. O investigador deve observar um conjunto de perguntas previamente definidas, mas adotando uma postura semelhante à que assume durante uma conversa

informal. Deve permanecer atento, para, de forma oportuna, orientar o discurso para o tema em análise, colocando perguntas adicionais para elucidar aspetos menos claros ou para reorganizar o contexto da entrevista, evitando assim eventuais desvios ao tema. Este tipo de entrevista permite delimitar o volume de informação, direcionando a informação obtida para os objetivos propostos.

Este tipo de entrevista apresenta as seguintes vantagens: elasticidade no que à sua duração diz respeito, possibilitando o aprofundamento das questões consideradas pertinentes; a interação que se estabelece entre entrevistado e entrevistador promove a espontaneidade das respostas e uma maior abertura e proximidade entre ambos, o que permite ao entrevistador abordar assuntos mais delicados (quanto menos estruturada for a entrevista, maior é a possibilidade de se criar empatia e afetividade entre os dois elementos). Assim, este tipo de entrevista adequa-se particularmente ao estudo dos aspetos afetivos e valorativos dos entrevistados, aspetos estes que fundamentam os significados que cada vivência e situação assume para os próprios. A maior liberdade e as respostas espontâneas dos entrevistados levantam assuntos inesperados os quais se poderão revelar úteis para a investigação (Boni & Quaresma, 2005).

Resta dizer, que foi elaborado um guião, onde estão elencados os aspectos a abordar (anexo 2), o qual serviu de base à aplicação desta técnica de recolha de informação

4.2. Técnicas participativas

Após a concretização das três entrevistas, avançamos para a fase seguinte – a da realização de sessões de grupo.

Apesar de, devido ao número reduzido de participantes, não nos podermos estabelecer como um “grupo de discussão focalizada”, a verdade é que nas diversas sessões foi possível debater não só a temática da gravidez e maternidade, mas outras que, frequentemente, lhe estão subjacentes – a baixa formação académica, a dificuldade de arranjar emprego, a carência económica, a violência (doméstica e entre pares, física e psicológica), a desigualdade de género, a desvalorização pessoal.

Buscando informação sobre o funcionamento dos grupos de discussão focalizada, detivemo-nos num texto de Luciana Kind (2004).

Segundo Kind (2004), os grupos (de discussão focalizada), a partir da interação grupal, produzem dados e perceções, que dificilmente podem ser alcançados fora do grupo. A informação obtida considera a realidade que é o grupo, que é necessariamente diferente da soma das partes. Ou seja, a informação produzida pelo grupo enquanto tal é mais do que a soma das opiniões, sentimentos e perspetivas de cada um dos seus elementos individualmente. A autora estabelece que esta é uma técnica de recolha de dados, na qual o investigador tem, não só, a oportunidade de auscultar diversos sujeitos em simultâneo, bem como a de observar as interações que esses mesmos sujeitos estabelecem entre si, enquanto elementos do grupo. Esta técnica tem como objetivo a obtenção de uma diversidade de “informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos acerca de um determinado tema” (Kind, 2004: 126). De acordo com Kind (2004), nesta técnica de recolha de dados, compete ao investigador, assumir a mediação, intervindo na dinâmica grupal sempre que houver desvios ao tema em discussão, sendo necessário que o investigador esteja atento à dinâmica grupal e que tenha capacidade para avaliar os dados sob esta perspetiva e que tenha presente os critérios que devem condicionar a condução da discussão, como sejam a dimensão do grupo, a focalização num tema, a homogeneidade do grupo, a garantia de participação de todos os elementos.

Ao longo das sessões, na qualidade de investigador, tentamos ter presentes as premissas apontadas por Kind, não porque tivéssemos aspirações de nos constituirmos como um grupo de discussão focalizada, mas porque as referidas premissas nos pareceram pertinentes dos pontos de vista da recolha de informação e da construção coletiva de conhecimento.

Foram realizadas cinco sessões informais de grupo, as quais decorreram todas no mesmo espaço. Uma sala de reuniões airosa e bem iluminada, com o equipamento adequado, cedida gratuitamente pela Santa Casa da Misericórdia da Murtosa.

Resta esclarecer que ao longo de todo este processo, desde o primeiro contacto, coligimos as informações mais pertinentes e as nossas impressões pessoais num diário de campo (anexo 3). Trata-se de um registo informal e livre, um exercício de reflexão sobre as interações estabelecidas, as metodologias utilizadas, as dificuldades sentidas, as expetativas concretizadas e até superadas. Não podemos deixar de referir que os registos no diário de campo relativos às sessões de grupo foram elaborados com o apoio dos registos áudio das mesmas, os quais foram efetuados com o conhecimento das participantes e o seu consentimento, com o objetivo de evitar a perda de informação verbal pertinente.