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Fichas técnicas de identificação de bens de acervos etnográficos para instrução de processos de inventário e salvaguarda de patrimonio cultural

DEPARTAMENTO DE PATRIMÔNIO IMATERIAL / IPHAN

FICHA TÉCNICA DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS DE ACERVOS ETNOGRÁFICOS PARA INSTRUÇÃO DE PROCESSOS DE INVENTÁRIO E SALVAGUARDA DE PATRIMONIO CULTURAL

INSTITUIÇÃO ONDE É FEITO O INVENTÁRIO: Patronato Santa Terezinha / Irmãs Maria

Auxiliadora

NÚMERO DA FICHA:

NÚMERO DOS ARTEFATOS:

NÚMEROS DE TOMBO:

“faixas frontais emplumadas” TK 63261

BR 63325 BR 63724 TK63228 TK 63260

“hastes de pluma branca (parte inferior da plumária)” 63723 63722 S/N 63720 63 718 63724

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1. IDENTIFICAÇÃO DA PROCEDÊNCIA

A) COMUNIDADE: sem indicação da comunidade de origem

B) LOCALIZAÇÃO: Uaupés (Caiari) checar, boa parte deles vem dos Bara do Alto Rio Tiquié

C) COMPLEMENTO: Estes objetos são reconhecidos como originários de povos indígenas da região do rio Uaupés / Caiarí, do lado brasileiro, incluídos os povos da família lingüística Tukano Oriental (Tukano, Wanano, Barasana, Desana, Tuyuka, Arapaso, Mirititapuya, Piratapuia...) e povos da família lingüística Aruak (Baniwa, Kuripako, Tariana). Conhecedores da história deste acervo poderiam oferecer detalhes sobre a procedência. Segundo o Livro de Tombo,

2. IDENTIFICAÇÀO DO ARTEFATO ETNOGRÁFICO

A) IDENTIFICAÇÃO: mapua ou pesaro (cangatara)

B) CLASSIFICAÇÃO: adorno ritual

Categoria artesanal: objeto ritual / adorno plumário

Denominação: faixa frontal emplumada C) AUTOR: sem indicação de autoria

D) DESCRIÇÃO SUMÁRIA (MATERIAL, TÉCNICA)

Tira ou faixa emplumada, que se usa na fronte, amarrada no occipício, em combinação, no caso dos índios tukano, com vários adornos occipitais (plumárias, osso e cordas de pelo de macaco). A faixa corresponde a um tecido de tucum ( sendo que a urdidura predomina aparente em ambas as faces, ocultando a trama), tecido em tear. A partir do acabamento do tecido (costura transversal, algumas vezes englobando uma vareta roliça de paxiúba para melhor sustentação da faixa), os fios da urdidura ficam livres, sendo unidos pelas extremidades através de amarração de tucum ou fio de curauá untado com breu. Através dessa mesma amarração estaria fixada, de cada lado, uma corda mais ou menos fina de pelo de macaco. Estas cordas servem para amarrar o adorno no occipício

Na emplumação, segundo Koch-Grunberg, “uma faixa de penas vermelhas é circundada, na parte superior por uma faixa de penas amarelas e, na parte inferior, por uma faixa de penugem branca de urubutinga ou outro”. Fieiras e hastes emplumadas elaboradas separadamente (duas fieiras de penas amarelas superiormente, uma fieira de penas vermelhas abaixo, uma haste de plumas brancas inferiormente) são costuradas ao tecido de suporte.

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haste ou tala fina de tururi, mais flexível, segundo técnica de amarração em apenas uma das faces da haste, de plumas, chamada emplumação embricada.

E) MOTIVOS DECORATIVOS - comentários gerais sobre o conjunto

F) OUTRAS PARTICULARIDADES:

Aparentemente, são feitas fieiras de pena sem cordel base, a amarração entre elas sendo feita com cordel intermediário, na parte inferior da pena. Nessa mesma altura as fieiras são costuradas ao tecido, em intervalos maiores. Ajuda na fixação destas fieiras ao forro ou suporte tecido a técnica aparente onde o cálamo de cada pena é encaixado numa linha longitudinal da trama. (fieira de penas com cordel intermediário, com encaixe do canhão das penas; Berta Ribeiro pág. 137: “técnicas de amarração”)

No entanto, segundo Koch-Grunberg, “as penas com suas hastes dobradas estão amarradas, sobrepostas na maneira de telhas, na faixa tecida com fios de fibras”

Penas das fieiras amarelas e vermelha são cortadas horizontalmente nas pontas.

Na fieira amarela inferior, bem no meio da faixa, existe sempre uma pena vermelha, chamada de “porta do mapua”, ou mapua sope em tuyuka.

FORMAS DE USO: Uma série de adornos cerimoniais dorsais são complementares à faixa emplumada usada na fronte (BR).

G) MATERIAS-PRIMAS NATURAIS:

Em geral, estes artefatos apresentam fios de tucum tecido, fios de fibras de tucum ou curauá mais grosso, penas de arara vermelha e amarela; penugens brancas de garça, pato ou urumutum; cordas de tucum e pelo de macaco.

H) MATÉRIAS-PRIMAS INDUSTRIAIS: ausentes matérias-primas industriais

I) DIMENSÕES (cm): TK 63261 46.5X11,5cm Corda solta n. TK 63391 129cm Corda presa n tm 63392 117cm BR 63325 79X13cm

197 BR 63724 66X10cm PESARO TK63228 50X12cm TK 63260 PESARO

Hastes de plumas brancas BR 63723 45,5cm BR 63712 40cm BR 63722 43,3cm SEM NUMERO 38X5cm ESTADO DE CONSERVAÇÃO: TK 63261 46.5X11,5cm RUIM Corda solta n. TK 63391 129cm Corda presa n tm 63392 117cm BR 63325 REGULAR

198 79X13cm BR 63724 PÉSSIMO 66X10cm PESARO RUIM TK63228 50X12cm TK 63260 RUIM PESARO OBSERVAÇÕES:

Comentário geral sobre o estado de conservação

O suporte tecido, os informantes avaliam que estão em boas condições, embora o tecido apareça em geral escurecido e bem amaciado. Não há avarias no tecido, embora estejam faltando em vários casos as varetas de sustentação nas costuras laterais de acabamento do tecido; ausentes também em alguns casos a amarração das extremidades livres dos fios da urdidura. Na maioria dos casos esta amarração está presente, mas as cordas que também são aí fixadas estão ausentes ou avariadas.

Quanto à plumária, a conservação é bem pior. Em todos os casos as penas estão escurecidas, manchadas e sem brilho, exceto em um artefato que mantem o brilho das penas. Penas vermelhas e amarelas pouco, ou muito conforme o caso, corroídas nas bordas.

Falhas (penugens ausentes) freqüentes de penugens brancas nas hastes inferiores. Ãs vezes esta haste está descosturada do suporte. Observamos em um dos artefatos que a faixa de penas vermelhas também está amarrada sobre uma haste flexível costurada ao tecido, enquanto as faixas amarelas corresponderiam sempre a fieiras de penas costuradas ao tecido. No caso das penas amarelas, há casos em que restaram apenas o cálamo e base das penas, deixando aparente a amarração, em geral oculta no adorno bem conservado.

As talas de pluma branca que compõem a linha inferior da faixa emplumada, aparecem muitas delas relativamente conservadas, apenas com manchas de escurecimento e indícios de

prensamento (amassadas em um só sentido). Em algumas, no entanto, as fibras que amarram as plumas na haste estão entrecortadas e dessa forma, as plumas caíram nestes segmentos. A haste de uma delas está quebrada ao meio.

3. IDENTIFICAÇÀO DO OBJETO MUSEAL 4.

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B) DOCUMENTAÇÃO ESCRITA

Não pudemos consultar o livro de tombo na ocasião da visita. Posteriormente acessamos duas cópias xérox, uma de consultor do IPHAN Manaus, uma de Geraldo Andrello (ISA).

Termos mais usados no livro de tombo faixa frontal emplumada

faixa frontal emplumada - coroa dos velhos penas vermelhas, amarelas e branca faixa frontal emplumada (coroa dos velhos)

faixa frontal emplumada (coroa dos velhos) faixa frontal emplumada (coroa dos velhos) Termo mais usado no livro da Berta Ribeiro

“faixa frontal emplumada – coroa dos velhos, penas vermelhas, amarela e branca sobre tecido”

C) DOCUMENTAÇÃO GRÁFICA

Tanto para documentação escrita quanto gráfica, consultar especialmente:

i) Dicionário do Artesanato Indígena de Berta Ribeiro,contendo muitas ilustrações (de Hamilton Botelho Malhano), publicado pela Editora Itatiaia (Belo Horizonte) e Edusp (São Paulo), em 1988. (grampo da cabeleira)

ii) Koch-Grunberg, Dois Anos entre os Índios. Especialmente capítulo da viagem a Pari-Cachoeira e Alto Rio Tiquié.

iii) ....

D) INFORMAÇÒES VERBAIS

Consultar irmãs, outros estudiosos destas coleções, etc. Na ocasião não foi possível.

Os informantes neste inventário comentam que os mesmos fios da urdidura, que ficam livres nas extremidades, poderiam ser torcidos entre si resultando nas cordas que amarrariam a faixa frontal no occipício. No entanto, em todos os artefatos, o que se observa são cordas independentes com este fim, de pelo de macaco, fixadas à faixa frontal através da mesma amarração das extremidades livres do conjunto de fios da urdidura.

As penas vermelhas são de arara. Quanto à origem das penas amarelas e brancas na emplumação da faixa, Informam ser a amarela de arara ou de japu, e a branca, penugem de garça ou pato. Depois de alguma reflexão, de que esse conjunto de penas coloridas pode ser chamado de mahapuari, deduzem que as amarelas devem ser também de arara.

A tala emplumada de penugem branca, agora dizem que são de garça, mas ontem diziam, para hastes localizadas isoladamente, ser penugem de pato, gavião...

“A principal arara é a vermelha. Amarela é arara de segunda categoria”.

“Vai ser fácil hoje [reformar estes artefatos], porque as mulheres têm agulha, vai ser fácil agora. Eu nunca conheci isso, para tecer. É fácil tecer”, está dizendo seu Laureano, “só com um novelo de tucum já dá para fazer. Estende no tear. Quando o tecido estiver pronto, completo, começa a colocar essas penas de arara. Terminado tudo, tem que preparar a haste de penugens brancas”.