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Técnicas qualitativas de recolha de dados

N. º de downloads e percentagem por país º de consultas e percentagem por país (Adaptado de UM, 2009) (Adaptado de UM, 2009)

4. Métodos de investigação Resumo

4.4 Técnicas qualitativas de recolha de dados

Ao nível da abordagem qualitativa, Simoni e Baranauskas (2003) referem que a entrevista pode ser considerada como uma das técnicas mais utilizadas, pois em algum momento da pesquisa qualitativa ela é quase sempre usada, como estrutura, técnica e princípio que servem aos demais métodos. Os mesmos autores afirmam ainda, que esta é uma técnica verbal de recolha de dados, que se caracteriza pela riqueza da informação recolhida.

Os autores Almeida e Pinto (1995) caracterizam-na considerando que, quanto maior for a liberdade e iniciativa deixada aos intervenientes, quanto maior for a sua duração e, quantas mais vezes ela se repetir, mais profunda e rica será a informação obtida.

Se comparada com os inquéritos, a entrevista apresenta como grande vantagem o facto dos inquiridos não necessitarem de saber ler e escrever e, mais importante, possibilita a obtenção de informação mais pormenorizada (Almeida e Pinto, 1995).

No entanto, a entrevista apresenta uma série de desvantagens. Uma delas diz respeito ao tempo de duração das entrevistas. Segundo Ferreira (1990) uma entrevista que demore mais de 45 minutos pode provocar resistência no inquirido para responder a mais perguntas. Este autor considera que existem certas profissões, como os Advogados, Juízes, Assistentes Sociais ou os Investigadores Sociais, que devido a serem profissões muito vocacionadas para “fazer falar os outros” têm dificuldade em falar de si. Por conseguinte, uma entrevista que se prolongue no tempo, poderá levar a criar resistências nos inquiridos para responder.

Uma questão associada é a gestão de tempo disponível pelo investigador para realizar as entrevistas. Com os prazos bastante apertados para investigações, os investigadores não podem disponibilizar muito tempo para cada entrevistado, sob pena de inviabilizar em tempo útil a investigação. Neste âmbito, os inquéritos enviados por correio normal ou por correio electrónico, possibilitam que as perguntas cheguem ao

94 mesmo tempo aos inquiridos agilizando o tempo disponível para responder e para a investigação.

Pardal e Correia (1995) destacam sobretudo a dificuldade de recolha de dados sobre assuntos delicados, em virtude dessa recolha não ser anónima, bem como a fraca possibilidade de aplicação e extensão das conclusões a grandes universos.

Por seu turno, Almeida e Pinto (1995) destacam também esta última desvantagem referida por Pardal e Correia (Pardal e Correia, 1995), justificando-a no facto de ser uma técnica muito centrada na recolha de informação da pessoa sendo dificilmente generalizável em termos de explicação de um problema global.

Uma outra técnica vulgarmente aplicada é a Investigação-acção. Este tipo de abordagem tem sido usada há várias décadas, sendo também conhecida por Ciência-Acção (Baskerville, 1993). Esta abordagem é aceite como um método válido de investigação em variadíssimas disciplinas, desde os Sistemas de Informação, à Educação, até à Gestão de Organizações (Avison e Myers, 2005).

Cohen e Manion (1989) definem Investigação-acção como um procedimento essencialmente in loco com o intuito de lidar com um problema concreto, localizado numa situação imediata. Esta situação faz com que o processo seja constantemente controlado, passo-a-passo, durante períodos de tempo variáveis, através de diversos mecanismos, como por exemplo, entrevistas ou estudos de casos.

Complementando a definição, Baskerville (1993) define-a como uma acção de investigação que envolve intervenção, em que os investigadores observam e participam no fenómeno em estudo. Segundo o mesmo autor, existem cinco fases identificáveis no desenvolvimento de uma Investigação-acção. A primeira fase consiste no diagnóstico do problema, seguido do estabelecimento de um plano de acção. Em terceiro lugar, é colocado em prática o plano previamente estabelecido na fase anterior, seguindo-se a fase de avaliação. Por fim, apresentam-se as principais conclusões retiradas do processo de investigação (Baskerville, 1993).

Uma característica referida por Bell (1997) é o facto de o trabalho não estar terminado quando o projecto acaba. Ou seja, continua-se a rever, a avaliar e a melhorar a sua prática.

Para finalizar a descrição dos diversos métodos utilizados, de referir o Estudo de Caso. Neves (1996) refere que esta técnica é amplamente usada em estudos de gestão e Avison e Myers (2005) observam a boa aceitação em pesquisas que envolvem a análise de sistemas de informação.

95 Neves (1996) refere que a técnica se tornou na modalidade preferida dos investigadores que procuram saber como e porque certos fenómenos acontecem ou dos que se dedicam a analisar acontecimentos sobre os quais a possibilidade de controlo é reduzida ou quando os fenómenos analisados são actuais e só têm sentido dentro de um contexto específico.

Por seu turno, Varaschin (1998) argumenta que é a técnica de pesquisa mais apropriada quando se deseja estudar situações complexas. A autora observa que, nesses casos, a técnica permite que uma investigação mantenha as características significativas dos eventos reais do fenómeno.

Segundo Coutinho e Chaves (2002), a característica que melhor identifica esta técnica é o facto de se tratar de um plano de investigação que envolve o estudo intensivo e detalhado de uma entidade perfeitamente definida, ou seja, o caso. Para os mesmos autores, o caso, pode ser um indivíduo, um pequeno grupo ou uma organização.

Nesta técnica, o caso é examinado em detalhe e profundidade, no seu contexto natural, na sua complexidade, recorrendo-se a todos os meios que se considerem apropriados (Coutinho e Chaves, 2002). Para os autores, a finalidade é sempre holística, visando preservar e compreender o caso em estudo no seu todo e unicidade.

Uma das maiores vantagens desta abordagem reside no seu cariz fortemente descritivo e exploratório, levando Bell (1997) a considerá-la como uma técnica na esfera dos métodos qualitativos. Uma outra vantagem é o estudo aprofundado de um problema, num curto espaço de tempo. No entanto, o mesmo autor argumenta que a sua principal vantagem reside no facto de permitir ao investigador concentrar-se num único caso específico (Bell, 1997).

A nível das suas limitações, Varaschin (1998) observa o facto de não ser possível generalizar o resultado alcançado para outras situações, sendo os resultados unicamente válidos para o caso em estudo. Visão contrária tem Coutinho e Chaves (2002), ao considerarem este método como não pertencendo, por completo, ao universo dos métodos qualitativos. Justificam, argumentando, que entender o estudo de caso, como uma técnica meramente qualitativa é uma visão errada, porque pode ser conduzido para outros paradigmas, como o positivista, pelo que pode ser considerado como uma técnica de investigação mista, entre o quantitativo e o qualitativo.

Esta é uma técnica bastante particular e específica. Como referido, aplica-se a um caso único e particular, sendo uma vantagem para o investigador. No entanto dada a possibilidade de se poder recorrer a fontes múltiplas de dados qualitativos (entrevistas,

96 observações directas) ou quantitativos (como os inquéritos) leva-nos a ter dúvidas sobre o melhor enquadramento desta técnica. Tendemos, desta forma, a considerar o Estudo de Caso como uma técnica mista, indo de encontro à opinião de Coutinho e Chaves (2002).