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Capítulo 3 – Esquema analítico e metodológico do estudo

3.4. Técnicas de recolha e análise de dados

No plano da recolha de dados, destaco a pluralidade de técnicas de investigação utilizadas – em articulação com a vertente mista metodológica – na fase exploratória da investigação e na etapa posterior de recolha de dados primários.

3.4.1. As técnicas exploratórias

Numa fase exploratória da investigação, mobilizamos a técnica de observação direta, relevante para testemunhar os comportamentos sociais dos indivíduos nos próprios contextos sem lhes alterar o seu ritmo normal (Peretz, 2000). Esta pautou-se por uma vertente participativa vincada na medida em que ao longo das 15 incursões ao terreno, nos envolvemos ativamente nas atividades rotineiras da cooperativa. A recolha dos dados foi orientada pela elaboração de duas grelhas de observação, presentes no anexo 3 e 4. Aplicamos, também, entrevistas conversacionais informais aos trabalhadores procurando esclarecer algumas dúvidas acerca do funcionamento da entidade (Júnior; Júnior, 2011). Este guião informal encontra-se no anexo 5.

Posteriormente, recorremos à análise documental de fontes secundárias, concretamente a documentos oficiais públicos digitais produzidos pela cooperativa (websites oficiais, estatutos da cooperativa e Guia para o Consumo Responsável) e pela

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comunicação social nacional e internacional. Consultamos um total de 68 notícias, das quais 45 nacionais e 28 internacionais, publicadas entre junho de 2013 e outubro de 2017. Dada a dispersão destes conteúdos, os mesmos foram alvo de análise de conteúdo qualitativa temática, resultando num extenso documento com as múltiplas dimensões da cooperativa, tais como a apresentação e evolução histórica da mesma. Para este fim mobilizamos as metodologias e princípios conceção de projetos de intervenção social presentes em Santos, Carvalho e Salvado (2013), os quais se revelaram importantes para a organização desta informação relativa.

Durante este período recorremos ao diário de campo enquanto instrumento de consulta e registo de notas descritivas e teórico-metodológicas (Peretz, 2000). A riqueza de dados obtida durante este processo exploratório concorreu para a familiarização com as dinâmicas organizacionais, aproximação ao grupo em estudo, levantamento de hipóteses teóricas e seleção de uma problemática teórica apropriada (Quivy; Campenhoudt, 1992; Peretz, 2000; Ghiglione; Matalon, 2005).

3.4.2. A entrevista

Metodologicamente, esta técnica enquadra-se numa lógia qualitativa pois descreve, descodifica e interpreta dados que estão sob forma de palavras, e que remetem para significados e atitudes pessoais (o quadro de perceção da realidade) atribuídos por parte dos entrevistados ao mundo social que os rodeia (Creswell, 2014; Guerra, 2014).

O objetivo desta vertente foi contribuir para a compreensão em profundidade de um dado fenómeno social, sem pretensão de generalizar os resultados a todo o universo, tratando-se, portanto, de um tipo de conhecimento subjetivo e situado num contexto socio-histórico e institucional muito específico.

Numa primeira fase elaboramos um guião de entrevista enquanto fonte primária de investigação (disponível em anexo 6), composto por três grandes temas estruturadores, ordenados de acordo com os objetivos da mesma: apresentação do produtor, procurando compreender a racionalidade agrícola moderna e RC; os motivos de adesão à cooperativa e relação com o mercado; e a proximidade face aos princípios da ESS e permanência na cooperativa.

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Optamos pela modalidade semidiretiva e individual, possibilitando a partilha detalhada e aprofundada de opiniões e significados, a adaptação do guião ao decorrer da entrevista, a introdução de novas perguntas e a atribuição de tempo e liberdade necessárias aos entrevistados (Ghiglione; Matalon, 2005). Na construção do guião, integramos os seguintes tipos de questões para dinamização da entrevista: introdutórias, de continuidade (follow up), de aprofundamento e de interpretação, evitando sempre a aplicação de perguntas indutoras de resposta.

Foram realizadas 5 entrevistas individuais aos agricultores da CFF no âmbito das quais os acontecimentos estudados foram reconstituídos a partir das declarações dos atores (Quivy; Campenhoudt, 1992). Todas as entrevistas foram marcadas com antecedência e realizadas nos espaços de trabalho dos próprios produtores. Foi deixado ao critério dos mesmos a escolha da data, hora e local da entrevista, procurando um contexto neutro, familiar e confortável, de forma a interferir o menos possível no decorrer da entrevista (Guerra, 2014).

Em temos de preparação, foi essencial a familiarização com todos objetivos e tópicos do guião e o auxílio de um bloco de notas no qual foram registados outros elementos relevantes surgidos ao longo da entrevista. Os primeiros momentos do encontro com o entrevistado foram pautados pela apresentação do entrevistador, dos objetivos e caraterísticas da investigação, dos tópicos do guião e do consentimento informado (disponível em anexo 7) - reforçando-se a garantia de confidencialidade e anonimato (um dos elementos éticos fundamentais da pesquisa científica). Não foram registados constrangimentos no decorrer da aplicação desta técnica, tendo-se adotado uma atitude de inocência deliberada de forma a evitar a inibição do entrevistado.

Seguimos para a transcrição das entrevistas gravadas e o tratamento e análise de conteúdo das mesmas no âmbito do programa informático NVivo de suporte à pesquisa de métodos qualitativos e mistos. Primeiramente, procedemos à importação do conteúdo das entrevistas para o software, à leitura e a categorização das mesmas. Criamos diversas categorias de análise, umas autónomas, outras relacionadas entre si numa lógica organizativa hierarquia. Seguiu-se o processo de codificação das entrevistas com base nas categorias e em simultânea criação de novas – um processo importante na função de administração da prova no âmbito da investigação qualitativa. Procurou-se criar

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categorias únicas, específicas, mutuamente exclusivas e coincidentes com os objetivos e dimensões de análise. As categorias criadas estão presentes no anexo 8, na grelha de categorias de análise das entrevistas, a qual reflete o resultado final deste processo.

No âmbito da vertente qualitativa da investigação qualitativo foi importante ativar mecanismos de incremento do rigor e transparência, de controle da qualidade e redução da subjetividade. Uma das formas de garantir estes aspetos constituiu a descrição detalhada e pormenorizada dos procedimentos metodológicos, como foi o caso da elaboração de um manual de codificação, um instrumento que visa a identificação, definição e explicitação detalhada do que se entende por cada categoria e subcategoria presente na grelha de análise. Este encontra-se em anexo 9 e foi construído após a formulação da grelha de análise no NVivo.

3.4.3. O inquérito por questionário

Na vertente quantitativa da investigação, aplicamos a técnica de inquérito por questionário - presente em anexo 10 - um instrumento estandardizado que visa a comparabilidade das respostas e a verificação das hipóteses, por via da recolha de um maior número de dados possível para fins de identificação das principais regularidades e tendências verificadas (Ghiglione; Matalon, 2005).

O inquérito em questão foi construído tendo em conta as hipóteses teóricas apresentadas e estruturado em 4 secções coerentes no seu conjunto, nomeadamente: motivações de adesão à CFF; opiniões e práticas de CR; níveis de satisfação dos consumidores; e caraterísticas sociodemográficas do associado/a.

O respetivo guião privilegiou perguntas fechadas e semifechadas e questões sobre factos, opiniões e atitudes. Optamos pela modalidade de administração indireta para obter de taxas de resposta maiores, esclarecer dúvidas adicionais, abordar temáticas mais complexas e recolher informação complementar (D’Ancona, 2001). Foram aplicados 332 inquéritos ao longo do mês de julho de 2018 nas delegações da CFF alvo de estudo, correspondendo cada inquérito a um tempo estimado de 15 minutos. A sua aplicação foi iniciada com um pedido de autorização dos consumidores para participação no estudo,

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seguindo-se a apresentação da origem institucional da mestranda e um esclarecimento sucinto dos objetivos da investigação.

No plano das considerações éticas e deontológicas, destacamos o respeito pelos princípios do anonimato, confidencialidade e ausência de juízos de valor durante o decorrer dos questionários, aceitando as recusas em colaborar na investigação. Realizamos, também, um processo de rutura epistemológica face às preconceções em torno do grupo social dos consumidores da CFF, estabelecendo uma equidistância relacional com os atores sociais. A aplicação desta técnica foi bem-sucedida na medida em que conseguimos ultrapassar o número de inquéritos necessários para possibilitar a representatividade estatística dos dados.

Para fins de verificação das hipóteses, os resultados dos inquéritos foram estatisticamente examinados através do programa informático Statistical Package for the

Social Sciences (SPSS) por via do qual elaboramos análise estatística descritiva,

nomeadamente tabelas de frequências, agregamos de categorias de forma a obter percentagens mais robustas e criamos índices compósitos.

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