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A NOVA REFORMA DO ENSINO INDUSTRIAL: A LEI Nº 3.552/

TÉCNICO INDUSTRIAL

Esses elevados índices de matrícula no ensino propedêutico apontam que, nesse tempo histórico, década de 1960, em nível nacional, o ensino industrial médio57 pouco havia se expandido,

mesmo naquelas cidades localizadas nas regiões Sul e Sudeste, espaços geográficos onde o processo de industrialização se efetivava, desde os anos de 1930, de forma mais vigorosa. Essa situação "indica, consequentemente, que a dicotomia trabalho manual x trabalho intelectual ainda não foi superada" (RIBEIRO, 1982, p. 148).

Em 1963, após os exames seletivos, a Escola Industrial de Natal iniciava o ano letivo com ofertas de vagas para o Ginásio Industrial e, pela primeira vez, destinadas aos cursos técnicos de Mineração e Estradas, conforme quadro a seguir (Quadro 16):

Quadro 16 – Matrículas do Ginásio Industrial e dos cursos técnicos ANO INDUSTRIALGINÁSIO

TÉCNICO INDUSTRIAL (Estradas e Mineração) TOTAL GERAL 1962 256 - 256 1963 453 56 521 Fonte: GALVÃO (1974).

Em termos comparativos com o ano de 1962, que totalizou uma matrícula de 256 alunos no Ginásio Industrial, a EIN conseguiu alcançar um aumento de 49,14%. No caso dos cursos técnicos, em seu primeiro ano de funcionamento, foram constituídas duas turmas, correspondendo a 56 alunos matriculados.

Esse incremento de vagas ocorreu num momento em que a Escola enfrentava redução de recursos em seu orçamento. 57. A partir da LDB, 1961, o ensino médio se tornou uma nomenclatura.

Assim, na sessão do dia 13 de março de 1963, o então Diretor da EIN, Irineu Martins de Lima, afirma aos professores que esse ano seria árduo, pois, ao tratar das demandas financeiras junto ao Ministério de Educação e Cultura - MEC, destaca que não obteve o êxito esperado, já que "como a política do governo é economia, uma parte da verba do Ministério da Educação teria sido cortada" (ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL, 1964, n. p.). Esse fato, em sua opinião, atingirá a Escola por algum tempo, o que o leva a tomar a seguinte decisão: "com o corte de verbas e o aumento de alunos, a Escola não fornecerá almoço para a primeira série. O mesmo se dará com os livros, pois é impossível o fornecimento total para os alunos" (ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL, 1964, n. p.). A garantia da merenda aos alunos das escolas profissionais da rede federal, incluindo a EIN, remonta ao ano de 1922, quando o governo, por meio de portaria assinada pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, órgão ao qual essas escolas eram então vinculadas, a define como uma das estratégias definidas para manter os alunos nessas instituições.

Essas medidas de contenção social atingiram quase a metade dos seus alunos, haja vista a existência de 250 (duzentas e cinquenta) matrículas na 1ª série do Ginásio Industrial, registradas no Livro de Matrículas da EIN, ano 1963.

Diante dessa redução dos benefícios sociais, é possível que os alunos tenham apresentado alguma reação, o que deve ter gerado problemas relacionados ao não cumprimento das normas disciplinares. Essa possibilidade é sugerida pelo diretor Pedro Martins de Lima, na Sessão do dia 19 de junho de 1963, com os professores. Segundo ele, estaria havendo entre os estudantes um pouco de falta de compreensão e acrescenta:

[...], talvez seja por efeito da redução do suprimento que houve este ano, em todos os setores, e que atingiu os alunos que estavam habituados a ter de tudo e viram-se de repente com quase nada materialmente. O que nos preocupa é que se tudo continuar assim, no segundo semestre não haverá distribuição de alimentos (ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL, 1964, n. p.).

No início do mês de março de 1964, na primeira reunião com os professores e alguns funcionários, o Diretor comunica o seu deslocamento até o Ministério da Educação e a sua luta por verbas, sobretudo, para a construção do novo prédio da escola, localizado no bairro do Tirol, e, assim, atender às demandas dos alunos. Diante disso, é provável que ainda persistisse a situação anterior, como a manutenção de cortes na alimentação e na distribuição da farda e dos livros.

Essa realidade de restrições financeiras enfrentadas pela EIN, atingindo diretamente uma clientela, em sua maioria, oriunda de famílias pobres, se inseria num contexto em que o governo brasileiro, para enfrentar uma crise econômica e política que havia se instalado a partir do início dos anos de 1960, decidia por tentar manter o crescimento econômico e reduzir a inflação através, dentre outras medidas, da aplicação de determinados cortes nos recursos destinados aos seus órgãos administrativos, como o que ocorreu no MEC, com repercussões imediatas no orçamento da EIN, conforme registro dos seus dirigentes.

Apesar desse cenário de cortes de verbas que atingia o Ministério da Educação, implicando menos recursos para as escolas federais, essa instituição continuava a sua investida para aumentar a oferta de vagas. Diante da limitação do prédio escolar, uma das decisões da EIN foi proceder a uma intervenção em alguns espaços já existentes e transformá-los em salas de aula. Para tanto, na sessão do dia 3 de março de 1964, foi decidido, segundo o diretor, "suprimir o salão de Honra, o salão de recreação e parte do refeitório" (ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL, 1964, n. p.). As transformações desses espaços em nome do seu crescimento quantitativo nos ajuda a entender um novo movimento que ocorria no interior da Escola Industrial de Natal, a partir da extinção, em especial, do salão de honra. Essa sala era o espaço antes reservado para o desenvolvimento, em especial, das solenidades oficiais. Contudo, a extinção do salão de Honra não significou o fim dessas atividades; pelo contrário, significou um olhar mais atento sobre as finalidades dos espaços existentes, agora, taticamente, transformados em espaços comuns para permitir à Escola incrementar o seu universo de alunos.

Outra decisão importante diz respeito ao fim do regime de semi-internato, sistema em que os alunos tiveram as suas aulas diárias distribuídas em dois turnos, a partir da Lei Orgânica/1942.

Com essa mudança, cada turma foi distribuída em um único turno, ampliando a possibilidade de aumento de matrículas. Nesse sentido, os anos seguintes confirmaram o crescimento do número de alunos na EIN, conforme podemos verificar no quadro a seguir (Quadro 17):

Quadro 17 – Matrículas - Ginásio Industrial, técnico industrial e curso de

aprendizagem (1964 a 1968)

ANO MATRICULA GINÁSIO

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