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T ÉCNICAS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE DADOS

A recolha de dados foi efetuada através de Entrevistas à Direção do Agrupamento e aos Coordenadores de Departamento e Diretores de Turma e de Inquéritos aplicados aos Professores dos três ciclos do Ensino Básico.

Pretendemos, com as sete entrevistas dirigidas20 e realizadas ao nível da liderança de topo e intermédia de um agrupamento, percecionar as realidades conceptualizadas e vividas no campo da (in)disciplina.

19 A definição de investigação como «um processo sistemático e intencionalmente orientado e ajustado

tendo em vista inovar ou aumentar o conhecimento num dado domínio.» (Ketele & Roegiers, 1993,

p.104)

20 A entrevista «denomina-se dirigida quando o discurso da pessoa entrevistada constitui exclusivamente

a resposta a perguntas preparadas antecipadamente e planificadas numa ordem precisa.» (Ketele &

48 Foi elaborado um Guião das Entrevistas (cf. Anexo 4) organizado em oito grupos, tendo os dois primeiros o enquadramento da entrevista (informação sobre o âmbito, motivação, garantia de anonimato e pedido de gravação) e os restantes incidindo na problemática da indisciplina. Deste modo, com base na tipificação e compreensão da indisciplina na sala de aula de João Amado (2000; 2007) e Maria Teresa Estrela (2002; 2007), a recolha de informação foi orientada pelas conceções de indisciplina em sala de aula, designadamente deslocações e movimentos, regras e rotinas, convenções sociais, distrações/entretenimento, barulho, trabalho, relação aluno/aluno e relação professor/aluno. Outros aspetos a entender são a existência de diferentes níveis/graus de indisciplina, a sua frequência, a relação entre comportamentos indisciplinados e o nível de ensino e/ou disciplina lecionada.

Simultaneamente, numa ótica organizacional, os dados a recolher são as estratégias preventivas da indisciplina, as dinâmicas organizacionais para lidar com a mesma, as medidas corretivas e sancionatórias e na generalidade a resposta que os órgãos de gestão e pedagógicos do Agrupamento oferecem para a resolução dos problemas disciplinares. O guião da entrevista foi testado com uma entrevista-piloto, que ajudou a aferir a compreensão das questões e a sua pertinência em função dos objetivos, a condução e a duração da entrevista. Foram ajustadas as formulações de algumas questões e introduzidas pequenas orientações ao longo da entrevista para focar as respostas no tema a tratar. Do material recolhido e gravado pelas entrevistas fizemos análise de conteúdo, criando categorias pertinentes face ao enquadramento teórico.

O outro instrumento de recolha de dados foi o inquérito, que segundo Jean- Marie de Ketele e Xavier Roegiers (1993)21 é entendido como um conjunto de

perguntas aplicado a uma população, para a qual se determina ou não uma amostra e que tem como finalidade precisar certos parâmetros. Torna-se uma ferramenta útil quando pretendemos recolher informação específica sobre uma população ou quando os temas a tratar implicam grande número de variáveis, porém algumas difculdades se podem colocar no que se refere aos objetivos, precisão das perguntas e validação de resultados. Desta forma, o inquérito é um bom instrumento em função da presença e pertinência dos objetivos e das hipóteses prévias, da validade das perguntas que são

21 No inquérito, de acordo com F. Bacher (1982), podem ser equacionados dois tipos de problemas, «que

são os problemas precisos levantados à escala de uma população inteiramente determinada e a propósito da qual se pretende chegar a conclusões generalizáveis e os problemas complexos que põem em jogo um grande número de fatores.» (Ketele & Roegiers, 1993, pp. 35-36)

49 efetuadas e da fiabilidade dos resultados recolhidos (Ketele & Roegiers, 1993, pp. 35- 36).

O inquérito entendido como um sistema de observação e medida deve ter em conta um conjunto de princípios e objetivos claros, tal como refere João Manuel Moreira (2009), assinalando que a medida, num sentido lato, é um processo de codificação das propriedades dos objetos. Por este facto, as medições nunca são dos objetos, mas das suas propriedades, sendo a definição das características a observar do domínio da teoria e a relevância do resultado da investigação dependente dos instrumentos de medida utilizados no apoio ou desconfirmação da teoria que a subjaz. Ao codificar a informação para que seja tratada, armazenada e integrada há que considerar alguma perda da informação original, contudo deve ser preservada a informação que se julga essencial em detrimento da que achamos irrelevante. Por isso, a escolha da forma de codificação22 dos dados de base deve ser orientada com vista a identificar o processo mais económico de recolher e registar a informação relevante face aos objetivos e hipóteses do estudo.

Na elaboração do guião do inquérito (cf. Anexo 6) procurou-se elencar um conjunto de questões fechadas, tendo por base uma estruturação teórica sobre a temática. À semelhança do Guião das Entrevistas para a construção do inquérito criámos os assuntos que se nos afiguraram pertinentes para o tratamento da indisciplina na sala de aula. Assim, surgem as categorias: 1º Nível de Indisciplina com a subcategoria das Regras na aula; 2º Nível de Indisciplina com a subcategoria das

Relações entre pares; 3º Nível de Indisciplina com a subcategoria das Relações entre professor/aluno; Medidas Disciplinares com as subcategorias Medidas preventivas, Medidas corretivas e Medidas sancionatórias. Para cada comportamento elencado, as

questões solicitavam a concordância ou desacordo, o indicador da gravidade e da importância, numa escala crescente de 1 a 5 (da menor para a maior gravidade), e o indicador da frequência na escala crescente de 1 a 5 (da menor à maior frequência). O modo de organizar os inquéritos resultou da necessidade de complementaridade da informação obtida pelas entrevistas, visando a sua articulação e análise, para que este

22 João Manuel Moreira refere que no processo de codificação é essencial reter que: «a) nenhum processo

de análise de uma situação ou comportamento dispensa uma codificação; b) nenhum processo de codificação permite evitar a perda de uma parte da informação; c) diferentes processos perdem (e retêm) diferentes partes da informação; d) alguns processos retêm uma maior proporção da informação, embora sejam mais complexos e dispendiosos.» (Moreira, 2009, p. 22)

50 estudo de caso refletisse uma realidade (in)disciplinar vivida no Ensino Básico de um Agrupamento.

A primeira versão do inquérito foi testada por dois professores, tendo sido efetuados pequenos ajustes no vocabulário e na forma de preenchimento do mesmo. A versão final do inquérito foi aplicada a todos os docentes do Ensino Básico do Agrupamento, através do Google Forms, sendo enviado por e-mail pela Direção da escola, num total de 153 professores, mas só obtivemos 63 respostas, que foram tratadas quantitativamente no Excel, a fim de obtermos as percentagens das respostas, e as médias da gravidade e frequência dos comportamentos indisciplinados.