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1950 1960 1970

P. tot P. urb. P. tot. P. urb. P. tot. P. urb. Cariacica 21.741 8.312 39.608 23.316 101.422 69.200 Serra 9.245 2.666 9.192 3.445 17.286 7.967 Vitória 50.922 50.415 83.351 81.989 133.019 132.036 Vila Velha 23.127 20.834 55.589 54.490 123.742 121.850 Viana 5.896 600 6.571 614 10.529 1.620 GV 110.931 82.827 194.311 163.854 385.998 332.673 Vitória/GV 45,90 60,87 42,90 50,04 34,46 39,69 Fonte: IBGE, 1950, 1960 e 1970.

Uma possibilidade de apreender esse processo se dá pela mudança da proporção da população urbana da capital com referência à soma da população dos cinco municípios da Grande Vitória. Em 1940, Vitória continha quase 70% da população urbana da Grande Vitória, dez anos depois, o percentual se reduziu para 60% e em 1970 não chegava aos 40% (IBGE, 1940, 1950, 1960 e 1970). Além do fluxo migratório em direção a Vitória, as atividades portuárias, em Vila Velha, e da CVRD (VALE) e da siderúrgica COFAVI, em Cariacica, foram primordiais para a consolidação desse primeiro contínuo urbano, como descrito por Abe (1999):

[...] A área urbanizada contínua abrangia três municípios e a urbanização apresentava diferentes indutores funcionais, em Vitória, a capital com suas funções mercantil-burocráticas; em Vila Velha, a atividade portuária; e em Cariacica, as oficinas e a siderúrgica. (p. 409)

As transformações ocorridas no campo durante a década de 1960, por conseguinte, refletiram diretamente no crescimento da população, especialmente, dos municípios de Vitória, Vila Velha e Cariacica. Embora os municípios de Serra e Viana também tenham conhecido um relativo crescimento demográfico, a integração de tais municípios ao aglomerado urbano ainda era significativamente limitada.

Frente às mudanças estruturais ocorridas no campo capixaba, o governo local, entre a segunda metade da década de 1960 e os primeiros anos da década de 1970, buscou estimular o processo de industrialização através de incentivos fiscais e mecanismos de financiamento (ABE, 1999). Entretanto, apesar do crescimento da

produção industrial nos anos 1960, a economia ainda permanecia vinculada à dinâmica agrícola. O desenvolvimento industrial ocorrido até a primeira metade da década de 1970, fundamentado em capitais locais, vinculava-se diretamente ao campo, como era caso da indústria madeireira e alimentícia (ROCHA e MORANDI, 1991). Desse modo, a consolidação do processo de industrialização enquanto “motor” da urbanização capixaba ocorreu somente a partir da segunda metade da década de 1970, com o advento dos Grandes Projetos Industriais.

Os Grandes Projetos Industriais caracterizaram-se por enormes plantas industriais, produtoras de semielaborados (aço, pelotas de minério de ferro e celulose) voltados, principalmente, para o mercado externo. Nesse contexto, foram desenvolvidos os seguintes empreendimentos industriais: CST (Arcelor Mittal), a Aracruz Celulose, que passou a se chamar recentemente de Fibria, as usinas pelotizadoras da CVRD (Vale) e a Samarco Mineradora. Para o desenvolvimento industrial nesses moldes, dois elementos foram decisivos. Primeiramente, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), implementado pelo governo federal entre 1975 e 1979. Com o II PND, o Estado brasileiro objetivava criar condições para a industrialização em outras partes do território nacional, desconcentrando a atividade industrial do eixo Rio-São Paulo. Outro elemento essencial foi o próprio momento da economia internacional22 que estimulava a industrialização de semielaborados a partir da disponibilidade de capitais. Com isso, os Grandes Projetos Industriais tornaram-se realidade por intermédio da articulação de incentivos diretos do governo federal e de capitais externos interessados nessa produção industrial (ROCHA e MORANDI, 1991; MORANDI, 1996).

A partir da década de 1960, em função da expectativa de crescimento da economia, combinada à pressão popular dos países desenvolvidos sobre a questão ambiental, foram abertas as possibilidades concretas de investimentos estrangeiros no setor de semielaborados. De tal modo, empresas como a Aracruz Celulose, CST e CVRD receberam importantes injeções de capital externo, provenientes de investidores de países como a Itália, Japão e Suécia (ABE, 1999).

22“Esses investimentos vieram no bojo das transformações por que passava o Brasil, trazidas pelas

condições favoráveis de localização frente às novas estruturas macrolocacionais do capitalismo avançado no país e de redistribuição regional da divisão nacional da produção [...] (ABE, 1999, p. 132).

O desenvolvimento da industrialização em território capixaba teve como principais protagonistas o Estado (sobretudo na esfera federal) e o capital externo. No primeiro caso, além dos incentivos diretos relacionados ao II PND, que buscavam adaptar o país a um novo momento do capitalismo internacional, o Estado participou decisivamente da industrialização a partir da CVRD. A ex-estatal, além de produzir pelets23 para o mercado externo, foi responsável pela construção e manutenção da infraestrutura logística e oferta de parte dos insumos necessários à CST, um dos principais empreendimentos dos Grandes Projetos Industriais (ABE apud PEREIRA, 1998).

Em relação, particularmente, à instalação da CST no Espírito Santo, Morandi (1996) sintetiza da seguinte maneira os principais fatores:

Pode-se listar uma série de fatores que favoreceram a implantação da CST no Espírito Santo, internos (locais e nacionais) e externos. Entre outros, destacam-se os reflexos na economia estadual da crise do setor cafeeiro, na década de sessenta; a existência de significativas vantagens locacionais; a demanda aquecida de produtos siderurgicos no início da década de setenta, com previsões de continuidade do crescimento; os interesses

particulares dos investimentos estrangeiros e a disposição do governo federal em ampliar a base produtiva da siderurgia nacional (p. 103, grifo

nosso).

Como se observa na citação acima, num contexto de redefinição da economia, no Brasil e no mundo, o Estado (federal) e o capital externo juntaram esforços na consolidação da industrialização no Espírito Santo. O que resultou na passagem definitiva de uma estrutura agroexportadora para urbano-industrial. Um indicador dessa mudança pode ser observado na recomposição setorial do PIB estadual, em que se nota o crescimento considerável da participação da indústria (Tabela 2). É interessante ainda observar que embora a participação do setor de serviços na economia capixaba em 1960 e 1985 tenha valores semelhantes, no último ano de referência o setor se caracteriza por atividades ligadas à economia urbano-industrial.

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TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO SETORIAL DO PIB DO ESPÍRITO SANTO