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Talentos do Brasil rural: turismo e agricultura familiar a caminho dos

3 PRODUÇÃO ASSOCIADA AO TURISMO

3.1 Talentos do Brasil rural: turismo e agricultura familiar a caminho dos

O Projeto Talentos do Brasil Rural: Turismo é Agricultura Familiar a Caminho dos Mesmos Destinos (TBR), resultado do Acordo de Cooperação Técnica assinado entre MTur e MDA em outubro de 2009, durante a Feira Nacional da Agricultura Familiar, no Rio de Janeiro, tem por objetivo implementar ações conjuntas que visem identificar, ordenar, promover e fortalecer a relação entre a agricultura familiar e a atividade turística.

Além desses ministérios, responsáveis pela concepção do projeto, são parceiros o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Agência de Cooperação Alemã (GIZ). No âmbito da execução do projeto, se encontra o Sebrae do Rio Grande do Sul, mediante convênio com o MDA, órgão financiador do projeto.

A contrapartida do MTur tem se dado por meio de assessoria técnica e apoio logístico para gestão, qualificação, promoção dos roteiros e formas de promoção e comercialização.

O projeto tem ainda o objetivo de inserir produtos e serviços da agricultura familiar no mercado turístico, agregando valor à oferta turística brasileira. Dessa forma, serão identificados e qualificados produtos da agricultura familiar a serem ofertados nos empreendimentos turísticos, como bares, restaurantes, meios de hospedagem e lojas de artesanato. Além disso, será apoiada a estruturação de empreendimentos rurais, para que os turistas possam vivenciar a produção da agricultura familiar.

A estrutura do projeto tem dois eixos principais: produtos e serviços. Para o primeiro eixo, por meio de chamada pública, foram selecionados 88 empreendimentos (associações e/ou cooperativas), com, no mínimo, 70% de agricultura familiar. Para o segundo eixo, foram selecionadas instituições e entidades representativas de 24 roteiros turísticos comercializados, compostos por, no mínimo, 10% de empreendimentos da agricultura familiar, em que propriedades/atrativos tenham esta característica, como estarem acessíveis em até 3 horas, por via terrestre ou aquaviária, de uma das doze cidades-sede da Copa de 2014: Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

No tocante aos produtos da agricultura familiar – amenities (cosméticos), decorativos e utilitários (artesanato) e alimentos e bebidas –, estes devem ser inseridos em meios de hospedagem, restaurantes, bares, lojas de artesanato e suvenires. No que diz respeito aos serviços, o intuito é preparar a propriedade familiar para receber turistas, dotando-a das condições necessárias para o desenvolvimento da atividade turística.

O Projeto Talentos do Brasil Rural prevê a realização de estudos para conhecimento da oferta e da demanda, a qualificação de empreendimentos da agricultura familiar e ações de promoção e comercialização dos produtos da agricultura familiar em todas as regiões do país. Almeja-se trabalhar com empreendimentos da agricultura familiar que estejam minimamente estruturados e organizados.

Para os empreendimentos turísticos participantes do projeto, é a possibilidade de agregar imagem de responsabilidade social e ambiental, estabelecer relações mais diretas com produtores e ofertar produtos saudáveis e de qualidade, que permitem a diferenciação do equipamento.

Pretende também iniciar a preparação dos agricultores familiares para a prestação de serviços aos turistas e oferta de produtos diferenciados ao mercado turístico – em hotéis, bares, restaurantes, lojas de artesanato – na Copa do Mundo de 2014, agregando valor socioambiental e sustentabilidade ao produto turístico.

As vantagens para os agricultores familiares serão acessar um novo mercado, estabelecer relações mais diretas com compradores, diversificar e aumentar a renda das famílias. Espera-se beneficiar 112 empreendimentos da agricultura familiar

minimamente estruturados e organizados (24 de serviços turísticos, 61 de alimentos e bebidas, 24 de decorativos e utilitários e 5 de amenities). Para os turistas, é a possibilidade de ter acesso aos produtos diferenciados, com identidade regional, saudáveis e com responsabilidade social e ambiental.

Para o eixo serviços, após a seleção dos roteiros da agricultura familiar, está em execução a realização de diagnósticos dos selecionados e elaboração de planos de ação. Os diagnósticos são compostos por etapas distintas. A primeira é a aplicação do questionário, realizado pelo articulador local, somente nas propriedades da agricultura familiar do roteiro, com a finalidade de conhecer de forma mais minuciosa os empreendimentos; assim sendo, diagnosticar as principais forças e fraquezas e verificar como o turismo está estruturado e como ele é comercializado.

A segunda etapa é realizada pelo técnico/consultor de diagnóstico antes de ir a campo. Tem a função de entender como o roteiro esta sendo comercializado, se há divergências ou alterações da proposta realizada na candidatura deste. Verificam-se aspectos ligados à promoção do roteiro, se houve alterações desde a candidatura, se há promoção conjunta com outros roteiros, se é promovido na internet por órgãos governamentais, como prefeitura ou representante estadual de turismo. Além de compreender como é a participação da agricultura familiar no roteiro, com participação mínima de 10% dos componentes do roteiro, e sua efetiva atuação neste como atrativo principal ou base de apoio.

Ainda na segunda etapa, é iniciada a preparação do cliente oculto, a fim de verificar os principais atrativos do roteiro, os componentes da agricultura familiar que necessitam ser visitados – se possível todos, a depender do tempo de permanência no destino e dos dados preliminares das entrevistas dos articuladores. A partir destas informações, define-se a logística para realizar o roteiro, além das sugestões do articulador local, que conhece de forma mais detalhada a região e os empreendimentos.

A próxima etapa denomina-se cliente oculto, sendo necessária para fazer que o técnico sinta as sensações e as dificuldades de um turista, sem qualquer preparo anterior, visando, assim, comprar o roteiro e realizá-lo como qualquer outra pessoa o faria. Ao se tenta comprar o roteiro como um todo, percebe-se claramente os que são comercializados, os entraves, as ausências de respostas, as alterações deste à candidatura, entre outros.

A filmagem é uma etapa para demonstrar e explicitar, da forma mais real possível, os principais pontos observados no diagnóstico, sem focar em um empreendimento específico. No entanto, em algumas localidades, não foi possível realizá-la, por questões operacionais e orçamentárias, sendo o caso dos dois roteiros que são analisados nesta dissertação, a saber: Trekking Travessia Leste, da prefeitura municipal de Alto Paraíso (GO), e Caminhos da Roça, da prefeitura municipal de Socorro (SP).

O intuito da filmagem é entender a composição do roteiro e a participação da agricultura familiar apenas como fornecedora de insumo, ou presente na hospitalidade, hospedagem, alimentação, passeios, entre outros. Destaca-se os principais atrativos do roteiro e a infraestrutura (acessos, sinalizações, serviços de transporte, acessibilidade, limpeza, iluminação, estacionamento, centro de informações para turistas), além dos aspectos culturais e da produção associada ao turismo; se possível, filma-se também depoimentos, para se ter as percepções dos visitantes. A ideia é mostrar o roteiro como um todo, ainda que para isso pegue exemplo de algum equipamento específico, no entanto, sem identificá-lo.

Posteriormente ao cliente oculto, ocorrem as entrevistas com os componentes do roteiro, realizadas pelo técnico/consultor de diagnóstico, com o intuito de conhecer a percepção dos principais agentes.

O Workshop é o momento de apresentação dos pontos fortes e fracos do roteiro, e de elaboração do plano de ação, que será construído no workshop. Após estas etapas, estão previstas as intervenções e o monitoramento.

Em seguida, ocorre a qualificação dos roteiros e empreendimentos da agricultura familiar para prospecção de mercado, promoção e apoio à comercialização de produtos e serviços da agricultura familiar no mercado turístico, bem como para o monitoramento e a avaliação das ações.

A figura 2 representa a estrutura da equipe para executar e gerenciar o Projeto Talentos do Brasil Rural.

FIGURA 2

Estrutura da equipe do Projeto Talentos do Brasil Rural

Fonte: Ministério do Turismo (Brasil, 2012).

O projeto TBR é uma iniciativa de valorizar o pequeno produtor familiar, auxiliar na preparação dos empreendimentos para o turismo e, possivelmente, provocar mudanças nos atores envolvidos.

4 A CONSTRUÇÃO ANALÍTICA DO OBJETO DE ESTUDO DOS ROTEIROS DO