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71tar o processo, mas como resistências As crises nacionais

No documento AÇÃO POlíTICA: CONDICIONANTES (páginas 71-77)

não propiciaram ajustes no processo de integração, mas redundaram em seu debilitamento e na redução do esfor- ço de complementaridade.

Cabe afirmar que a debilidade dos grupos epistêmi- cos pró-integração, que no caso brasileiro acentuou-se a partir de 1998, viabilizou o fortalecimento de outros que, mesmo não sendo contrários a ela, no bojo de um sistema internacional em transformação passam a valorizar ideias, projetos e interesses, que nela não confluíam, nem a for- taleciam. A percepção, que é verdadeira, de que na medi- da em que se projeta maior aprofundamento do bloco haveria perda de soberania e de autonomia na relação do Brasil com o mundo, nunca desapareceu completamen- te e acabou sendo um componente importante da ação do Estado e da sociedade. Inversamente, a percepção de que a integração fortaleceria a própria posição do país no mundo não prosperou. Consequentemente, rejeitou- se uma opção que poderia limitar a movimentação inter- nacional do Brasil e que seria contrária ao universalismo. Vimos que os princípios brasileiros – autonomia e uni- versalismo –, bem como o papel que as elites atribuem à integração, confluem para a manutenção de um processo no Cone Sul, limitado ao nível de uma união alfandegá- ria, essencialmente intergovernamental, compatível com o alargamento do bloco e com as aspirações do Brasil. A forma como a elite e o Estado foram processando o tema Mercosul, a partir de 1991, explica o crescimento do sig- nificado para o Brasil do tema América do Sul. O alarga- mento geográfico dos objetivos de integração vincula-se à mesma percepção que o país tem de si próprio em relação ao mundo exterior.

Apesar das dificuldades, a integração pode ser a chave para definir o rumo a ser tomado pelo Brasil num siste- ma internacional em forte mudança e em gravíssima crise

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econômica e financeira a partir de 2008. Pode também ser a base para se projetar a possibilidade de criação de um modelo de desenvolvimento menos vulnerável e que pode ser importante para garantir maior expressão inter- nacional para o país, para o Cone Sul e para a América do Sul no atual cenário internacional. Na análise que fizemos, discutimos e acreditamos termos demonstrado que, até aqui, o Brasil vem seguindo caminhos diferentes, priorizando o multilateralismo e buscando enfraquecer o unilateralismo.

Tullo Vigevani

é professor da Unesp e pesquisador do Cedec

Haroldo Ramanzini Júnior

é mestrando da USP e pesquisador do Cedec

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Marcelo de Almeida Medeiros

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