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É uma tarefa difícil ou fácil?

A atividade voluntária é apresentada pelos agentes como uma ação de fácil execução para uns e difícil para outros.

Os voluntários que consideram essa atividade fácil a relacionam à questão de

“não ser difícil dar amor,”

e que, por ser algo realizado por opção, proporciona prazer, dependendo somente de boa vontade.

Nem o fator tempo é problema, segundo a voluntária entrevistada, se a pessoa

"estabelece uma prioridade e inclui nesta o seu trabalho

"Este é o primeiro; a partir dai eu passei a abrir mais meu campo. Quando a

gente inicia no voluntariado, tem vontade de ajudar a todos, é uma coisa

grande, não é uma coisa que fica ali e vai murchando, a coisa vai se

estendendo sempre mais

Outro dado que levou os entrevistados a considerarem a atividade do voluntário uma tarefa fácil, é o fato de ser uma opção que faz a pessoa sentir-se valorizada e motivada, a ponto de se dispor a realizar trabalhos dos quais não tem conhecimentos ou de que não gosta e mesmo a realizar tarefas que não faria em um trabalho remunerado.

O exemplo do exposto é dado pelo depoimento desta entrevistada:

"Uma moradora fez suas necessidades na cama, estava só eu, não tinha quem

ajudasse; sai de perto para não limpar, pois não tinha coragem. Andei uns dez

metros, me arrependi e voltei para fazer a higiene nela, criei coragem e hoje

faço normalmente ”.

0 que impulsiona as pessoas a romperem, em determinados momentos còm as próprias limitações em prol do outro, tem a ver com a capacidade existente em todo ser humano de ser altruísta, enfatizado por uma “

moral cristã do

amor",

da qual nos fala Alberoni e Veca (1990:52).

Entre as dificuldades apresentadas pelos voluntários, foi ressaltada a exigência de uma disponibilidade interior (para vivenciar os problemas alheios) e de tempo, para a realização do trabalho. Essa é uma atividade que se diferencia

de qualquer outra no que diz respeito à conscientização que deve haver, por parte dos voluntários, em relação à necessidade de uma dedicação contínua e uma disposição para o aprendizado e o crescimento pessoal, constantemente exigidos no transcorrer da mesma.

"O voluntário vem para ser voluntário de forma individual, ele tem que fazer

um entrosamento grupai, e vai ter que conviver com pessoas diferentes dele e é

ai que reside um ponto difícil no voluntariado, tanto de respeitar as pessoas

quanto de se entrosar no próprio grupo respeitando limites”,

relata um entrevistado.

O exercício do trabalho voluntário exige também de seus agentes um estabelecimento de regras pessoais, que inclui uma conciliação das atividades pessoais e da vida familiar, juntamente com uma boa dose de persistência.

A tarefa do voluntário, segundo um entrevistado, se apresenta, em alguns momentos, de forma problemática, pelo fato de ser difícil manter as pessoas interessadas, principalmente considerando que o trabalho voluntário deve ser bem feito e de boa qualidade.

"Às vezes as pessoas vêm com o interesse de resolver seus problemas

espirituais, suas dificuldades, seus ressentimentos e mágoas da vida, então tudo

isso tem que ir passando por um processo de purificação”.

Assim, a atividade voluntária constitui-se em algo que exige, muitas vezes, mais do que o voluntário está

""preparado”

para oferecer.

Neste sentido, Agnes Heller (1989) lembra-nos que é na vida cotidiana que se fazem presentes as exigências de uma boa dose de fé e confiança, mais do que em outras esferas da vida, no sentido de sua função mediadora diante das inúmeras situações.

O exercício de relações sociais, através da manutenção da relação inter- grupal, e dessa com o trabalho voluntário, torna-se, por vezes, muito exigente para quem as realiza, pois segundo relata um entrevistado,

"aspessoas não colhem

resultado imediato do que fazem e às vezes elas se cansam".

Uma das tarefas mais difíceis nesse trabalho é manter acesa a

"chama”

do voluntário.

As experiências pessoais e do grupo, constantemente vivenciadas e relatadas pelos entrevistados, ao mesmo tempo que permite aos seus agentes conhecer o campo de ação em que atuam, terminam por se constituírem nas responsáveis pelo maior envolvimento e permanência das pessoas neste tipo de atividade. No dizer de um entrevistado:

"O voluntário tem em comum 'o despertar' de uma consciência comum; nós

devemos fazer nossa parte nessa parceria, movimentando o voluntariado,

deixando uma espécie de chama, de uma alma acesa aqui dentro”.

A estrutura na qual se instaura a ação do voluntário demonstra que, ao contrário de algo que seja feito de qualquer maneira, essa é uma atividade que exige dele, o exercício constante de relações sociais. Isso ocorre, segundo observamos, devido ao aprendizado social e político de negociar e intermediar

relações entre interesses pessoais e interesses coletivos, existentes na vivência efetiva dessa atividade.

A ação do voluntário representa desse modo, uma prática de relações sociais e políticas, que se expressa no convívio com o antagônico, com a diversidade religiosa, de etnias e filosofias pessoais. É um trabalho que, no seu contexto geral, apresenta uma dinâmica interativa representada pelas relações, compromissos e responsabilidades individuais e coletivas advindas dessa atividade. Ser voluntário, ao lado da satisfação que esta atividade proporciona, inclui também as dificuldades aqui apresentadas, como partes do "pacote” da opção dos seus agentes, de desenvolver essa atividade no social. Constitui-se, deste modo, a ação voluntária, representante de uma forma ativa de participação social, um exercício de cidadania sem a cédula do voto.

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