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5. REVISÃO BIBLIOGRÁIFICA

5.2 TEÓRICO

Maria Alice Nogueira (2021) em seu texto “O CAPITAL CULTURAL E A PRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES ESCOLARES CONTEMPORÂNEAS”

apresenta um debate sobre o conceito de capital cultural criado pelo sociólogo Pierre Bourdieu voltado, em especial, a pensar sua validade/relevância nos anos 2000. A autora defende a existência de três gerações de pesquisadores, e cada uma delas atribui ao conceito significados relativamente diferentes. A partir dos anos 2000 a terceira geração de pesquisadores têm refletido sobre o papel determinante atribuído à alta cultura nas avaliações escolares, argumentando sobre as novas formas de produção cultural e modos de gerir a escolaridade dos filhos nas sociedades contemporâneas questionando o êxito escolar para além da posse de uma cultura dita legítima.

Nogueira enfatiza em seu artigo a famosa transição nas últimas décadas do século XX, descrita pelo sociólogo Phillip Brown (1990) de um regime meritocrático para um regime parentocrático. Esse tem como foco o sucesso escolar dos alunos está cada vez menos ligado ao mérito e esforços pessoais e cada vez mais atrelado aos recursos financeiros e capacidades estratégicas dos pais de impulsionar a vida competitiva escolar de seus filhos o que permitiria ao autor afirmar que a variável renda seria hoje quase tão forte para ditar o desempenho escolar quanto a variável escolaridade dos pais. Trata-se, aqui, de uma conversão de recursos econômicos em vantagens escolares. Dessa forma, atualmente não se trata mais de uma capital buscando por estabelecimentos de ensino e salas de aula mais eficazes. Dubet afirma que em todos os meios sociais o investimento em educação aumenta, embora de modo e em graus distintos e, também, com efeitos desiguais.

Por fim, o intuito desse trabalho é apenas levantar algumas discussões e pontos importantes e necessários sobre o conceito de capital cultural na atualidade e como ele pode desempenhar análises sociológicas sobre os fundamentos sociais das

desigualdades escolares. Diferentemente de Bernard Lahire (2006), em seu livro A Cultura dos Indivíduos que procedeu a um exame do conceito de capital cultural em si mesmo.

“Assim como o sociólogo belga Hugues Draelants (2014), que conclui pelas vantagens atuais dos “detentores de capital econômico”, ao invocar “a tendência da excelência escolar de se construir na sombra de atividades para-escolares onerosas como as aulas particulares e os intercâmbios linguísticos no exterior” (NOGUEIRA, 2021 p.11)

Em “O tema jogo infantil no periódico Pro-posições”, as autoras Flávia Roberta dos Santos Pereira, Litza Pereira Santos, Karen Santos Amorim e Lílian Miranda Bastos Pacheco apresentam uma revisão bibliográfica na plataforma periódico Pro- Posições entre os anos de 1990 e 2003 sobre o tema jogos na educação infantil realizando um breve resumo de seis textos selecionados que abordam o tema.

O texto de Kishimoto (1995) “O jogo e a educação infantil” traz o conceito de jogo na Educação Infantil e diferencia jogo de brinquedo e brincadeira. Já Wajskop (1996) “A brincadeira infantil na educação pré-escolar paulista e parisiense: o que pensam sobre elas os adultos? ” analisa as concepções das mães e profissionais da educação sobre a relação existente entre o brincar e a educação, tendo como objetivo compreender a diversidade das propostas escolares. Prado (1999) “As crianças pequenininhas produzem cultura? Considerações sobre educação e cultura infantil em creche” observa a produção cultural das crianças de zero a três anos no intuito de compreender se os pequenos produzem cultura e busca identificar as concepções do brincar na Educação Infantil. Além disso, Assis (1994) em “O jogo simbólico na teoria de Piaget” apresenta a classificação e a evolução do jogo na concepção piagetiana.

Em “A influência de atividades com os jogos Quilles e Cilada no desempenho operatório e na compreensão de noções aritméticos em Crianças com dificuldades de aprendizagem” Brenelli (1994) procura discutir o efeito dos jogos com regras no desenvolvimento cognitivo de crianças que estão na terceira série do ensino fundamental de uma escola pública. E, por último, Finco (2003) em “Relações de gênero nas brincadeiras de meninos e meninas na educação infantil ” destaca a relação de gênero nas brincadeiras infantis.

Todos os artigos destacariam, de acordo com a análise das autoras, a conservação, assim como reconhecer os direitos e os deveres de cada um no jogo. ” (PEREIRA, 2009 p.111).

Ademais, o texto ressalta a importância de continuar estudando e investigando e principalmente socializar a informação para que ela possa chegar até os cursos de formação de professores ou sessões de orientação pedagógica das escolas.

No artigo “As crianças pequenininhas produzem cultura? Considerações sobre educação e cultura infantil em creche ” (1999) Patrícia Dias Prado traz as concepções de psicologia sobre a infância e as creches e aponta a creche como ambiente interacional que se preocupa com os valores das interações e do jogo no desenvolvimento infantil, apontando novos avanços e antigos limites.

Explicando o significado de cultura e seu processo histórico, a autora indaga se as crianças pequenas também são seres produtores de cultura. Por isso, fez uma observação em uma creche de Campinas.

“As crianças apropriavam-se dos espaços da creche, dos objetos e dos brinquedos de formas diversificadas, nem sempre dentro do que era esperado pelos adultos - o que mostrava que elas não estavam submetidas somente a este referencial, mas inovavam a partir dele. ” (PRADO, 1999 p.114)

A autora afirma que durante as brincadeiras adultos e crianças aprendem juntos, sendo proporcionado pelos momentos de brincadeira uma aprendizagem social por isso, a creche deve propiciar espaços para brincar onde adultos e crianças

possam explorar todas as riquezas culturais. Em suma, essas crianças produtoras de cultura são filhas dos trabalhadores brasileiros que no convívio com as diferenças dentro dos espaços educativos são capazes de estabelecer múltiplas relações, construindo seus saberes, reproduzindo e também criando novas brincadeiras com novos sentidos.

Pascale Garnier, em “A EDUCAÇÃO INFANTIL E A QUESTÃO DA ESCOLA:

O CASO DA FRANÇA” (2014) tem como desafio, tomando como base a situação francesa, construir uma grade de análise dos debates e das transformações da educação de crianças pequenas quando submetida a exigências crescentes de eficácia e de equidade escolar. A partir de análise das estruturas escolares francesas e com base em discussão de autores, o texto traz a origem da escola maternal, sua função e características e seu impacto na trajetória escolar dos alunos que a frequentam. Além disso, procura diferenciar a escola primária da creche.

Partindo do pressuposto de que o sistema escolar francês tem caráter profundamente desigual e elitista, o autor propõe um questionamento sobre as exigências de equidade do sistema educacional francês. Além disso, o texto apresenta as transformações recentes que envolvem o acolhimento das crianças de 2 anos e que reforçam as fronteiras entre a escola maternal a partir dos 3 anos e as estruturas para os pequeninos. Segundo o autor é impossível não relacionar a escolaridade como parte decisiva dos resultados no acesso ao emprego, o futuro profissional e, mais amplamente, a inserção social dos jovens

“A preocupação com a justiça e a eficácia na França parece monopolizada pela questão da escola, ao ponto de tudo conduzir a isso e de ocultar outros registros de justificação da pertinência da escola maternal: o do acolhimento e cuidado das crianças e o de sua educação. Colocada no cenário internacional, a situação francesa revela tensões entre a internacionalização e a globalização das questões de uma educação pré-escolar, e singularidades nacionais que fazem parte de tradições culturais e políticas relativas tanto ao papel respectivo do Estado e das famílias na educação da criança como às concepções da cidadania e da criança. ” (GARNIER, 2014, p.79)

Por fim, Ana Lúcia Goulart de Faria em “Políticas de regulação, pesquisa e pedagogia na educação infantil, primeira etapa da educação básica” (2005) tem o objetivo de refazer as trajetórias pelas quais passaram creche e pré-escola, até tornarem-se, pela LDB de 1996, instituições de educação infantil responsáveis pela primeira etapa da educação básica. Para isso, a autora realiza uma revisão de bases teóricas e científicas e pesquisas bibliográficas.

As crianças começaram a estar no centro das preocupações da pedagogia já com a Escola Nova.

“Não foram as crianças nessa fase da vida que reclamaram seus direitos. Foram adultos lúcidos que lutaram por eles, conquistando assim a possibilidade do coletivo infantil, isto é, de a criança ser educada na esfera pública complementar à esfera privada da família, por profissionais diplomados distintos dos parentes, para a construção da sua cidadania; e de conviver com a diversidade cultural brasileira, produzindo as culturas infantis, entre elas e entre elas com os adultos. ” (FARIA, 2005 p.1015).

Nos anos 70, as mulheres feministas lutaram pelo direito à creche para seus filhos, surgindo assim, as primeiras creches para atender a necessidade do ingresso da mulher no mercado de trabalho e aos interesses da elite que pretendeu educar as crianças das camadas populares, já que suas mães trabalhavam e não eram suas educadoras. No Brasil, isso ocorreu apenas em 1988 com a Constituição que garantiu a educação das crianças de 0 a 6 anos em creches e pré-escolas, educação essa que só é sistematizada na Lei de Diretrizes e Bases de 1996. A educação infantil e a escola obrigatória ambas pensam no cuidar e apesar do popularismo de que se educa apenas nas escolas e as creches serem vistas apenas como espaço de cuidado, as creches também tem o propósito educativo, mesmo que não tenham matérias escolares obrigatórias.

O antagonismo educação e assistência não está mais tão em evidência nos dias atuais perante aos novos assuntos, como inclusão, professores homens, etc. É preciso garantir a verba para a educação dos pequenininhos de 0-3 anos e uma universidade pública de qualidade que forme os pedagogos para a educação infantil.

Pensar o antagonismo existente entre educação e cuidado dentro da escola já não é mais prioridade diante dos outros debates que precisamos ter.

Sendo assim, com base na análise desses 10 artigos traremos os conhecimentos e debates aqui realizados para dentro do nosso contexto de pesquisa, as entrevistas. Dessa forma, no próximo capítulo abriremos uma discussão interligando os resultados obtidos nas entrevistas com os conhecimentos teóricos aqui adquiridos, tendo em vista o nosso objetivo de tentar entender compreender como os momentos de lazer, jogos e brincadeiras acontecem em crianças de distintas classes sociais.

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