• Nenhum resultado encontrado

Classe IV – baixa solubilidade, baixa permeabilidade

3.4.1 Tecnicas espectroscópicas

O termo espectroscopia é a designação para toda técnica de levantamento de dados físico-químicos através da transmissão, absorção ou reflexão da energia radiante incidente em uma amostra. Para tanto, os métodos espectroscópicos de análise baseiam-se na medida da quantidade de radiação produzida ou absorvida pelas moléculas ou pelas espécies atômicas em determinados comprimentos de onda (SETTLE, 1997). As regiões no espectro eletromagnético que têm sido mais empregadas incluem os raios gama, os raios X, ultravioleta (UV), visível, infravermelha (IV), micro-ondas e radiofrequência (RF) (SKOOG et al., 2006). A Figura 14 mostra uma representação do espectro eletromagnético com as principais regiões utilizadas nas técnicas espectroscópicas.

Figura 14 – Espectro da radiação eletromagnética

Fonte: Adaptado de Shackelford (2008).

Em seguida, serão apresentadas as generalidades das técnicas espectroscópicas utilizadas neste trabalho: difração de raios X, espectroscopia do infravermelho e espectroscopia Raman.

3.4.1.1 Difração de raios X pelo método do pó (PXRD)

Os raios X são constituídos por radiação eletromagnéticas com comprimentos de onda curto, produzida pela desaceleração de elétrons de alta energia ou pela transição

eletrônica de elétrons dos orbitais internos dos átomos. O intervalo de comprimento de onda dos raios X varia de cerca de 10-5 Å a 100 Å. Porém, a espectroscopia convencional de raios X geralmente fica restrita à região de 0,1 Å a 25 Å, aproximadamente (BECKHOFF et al., 2007).

Para fins analíticos, os raios X podem ser produzidos de quatros formas: (1) pelo bombardeamento de um alvo metálico com um feixe de elétrons de alta energia, (2) pela exposição de uma substância a um feixe primário de raios X para gerar um feixe secundário de fluorescência de raios X, (3) pelo uso de uma fonte radioativa cujo processo de decaimento resulta na emissão de raios X, e (4) a partir de uma fonte de radiação síncronton (HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009). Na forma (1), a mais comum de produção de raios X, partículas carregadas são aceleradas (por exemplo, elétrons acelerados a 30 kV) e colidem contra um alvo metálico (CULLITY, B. D.; STOCK, 2001). A forma (4) é tida como a mais sofisticada destas, produzida em aceleradores sincronton, onde elétrons são acelerados a grandes velocidades, próximas à da luz, por campos magnéticos e, ao serem desacelerados, produzem raios X em vários comprimentos de onda (STOUPIN, 2014).

A difração de raios X de monocristais (XRD, do inglês X-Ray Diffraction) em estudos de cocristais utiliza-se o termo SXRD com o mesmo sentido de XRD. Ela é a técnica considerada definitiva na determinação da estrutura cristalina pela possibilidade de avaliação direta do empacotamento e conformação das moléculas, bem como pela elucidação das interações moleculares (BATES, S. et al., 2006; CALLISTER; RETHWISCH, 2007; KLUG; LEROY, 1974; KRAWITZ, 2001).

Para que ocorra o fenômeno da difração são necessárias relações de simetria e ordem nos sólidos analisados. Nos cristais, a ordem dos átomos nos sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de átomos formam um padrão repetitivo. Portanto, ao descrever as estruturas cristalinas, é conveniente subdividir a estrutura em pequenas unidades que se repetem, chamadas células unitárias. Nesse sentido, a célula unitária é a unidade básica, ou bloco construtivo, da estrutura cristalina e define a estrutura cristalina por meio da sua geometria e das posições dos átomos no seu interior. Além disso, as células unitárias podem ser agrupadas em 7 sete sistemas cristalinos: triclínico, monoclínico, ortorrômbico, tetragonal, hexagonal, trigonal e cúbico (CALLISTER; RETHWISCH, 2007; SHACKELFORD, 2008). As relações para os parâmetros de rede e a representação das células unitárias para cada um desses sistemas estão apresentadas na Tabela 5.

Tabela 5 – Relação entre os parâmetros da rede cristalina e figuras mostrando as geometrias das células unitárias

para os sete sistemas cristalinos

Sistema Comprimento axiais e ângulosa Geometria da célula unitária

Cúbico a = b = c, α = = = λ0° Tetragonal a = b ≠ c, α = = = λ0° Ortorrômbico a ≠ b ≠ c, α = = = λ0° Romboédrico a = b = c, α = = ≠ λ0° Hexagonal a = b ≠ c, α = = λ0°, = 1β0° Monoclínico a ≠ b ≠ c, α = = λ0° ≠ Triclínico a ≠ b ≠ c, α ≠ ≠ ≠ λ0°

aOs parâmetros de rede a, b e c são os tamanhos das arestas da célula unitária. Os parâmetros de rede α, e são

os ângulos entre os eixos adjacentes da célula unitária, onde α é o ângulo visto ao longo do eixo a (ou seja, o ângulo entre os eixos b e c). O símbolo de desigualdade (≠) significa que a igualdade não é exigida. A igualdade acidental ocorre ocasionalmente em algumas estruturas. Fonte: Adaptado de Shackelford (2008).

Entretanto, nem todos os compostos cristalinos são monocristais, por exemplo, alguns cocristais. Para estes compostos utiliza-se a PXRD onde se obtém os espectros de difração de raios X dos policristais do API e do coformador e se compara com aquele obtido do cocristal em busca de identificar novas fases cristalinas (BÁTHORI et al., β011ν BRITTAIN, β000ν BUČAR et al., 2009; ELBAGERMA; EDWARDS; MUNSHI; SCOWEN, 2010; ELBAGERMA et al., 2011; FERREIRA et al., 2010; SARRAGUÇA et al., 2014; STEED, JONATHAN W., 2013).

A PXRD é uma técnica de incidência de radiação em materiais cristalinos em pó, ou policristalinos, que se baseia na detecção das difrações do feixe de fótons incididos sobre a amostra, que fornece um padrão de difração na forma de uma série de picos detectados em ângulos de espalhamento característicos e específicos para cada substância (HALEBLIAN; MCCRONE, 1969; YU; REUTZEL; STEPHENSON, 1998). Ela é a principal técnica que permite a identificação das estruturas e das fases cristalinas para determinado composto. Atualmente, em conjunto com as técnicas de análise térmica, a PXRD destaca-se em estudos relacionados a compostos farmacêuticos, principalmente na identificação de polimorfos, caracterização, análise da composição e cristalinidade de fármacos (ALBERS et al., 2002; BRITTAIN, 2000; CHIENG et al., 2009; DONG; BOYD, 2011; FERREIRA et al., 2010; HALEBLIAN; MCCRONE, 1969; HAWARE et al., 2011; STOUPIN, 2014).

A difração é o fenômeno que ocorre ao se incidir um feixe de raios X em um cristal. Esse fenômeno é resultante da interação entre o feixe de raios X incidente e os elétrons dos átomos componentes do material, produzindo um determinado espalhamento, que pode ser coerente ou incoerente. No espalhamento coerente, a onda espalhada adquire direção definida, mesma fase e energia em relação a onda incidente, representando uma colisão elástica. Já no espalhamento incoerente a onda espalhada não adquire direção definida, nem mantém mesma fase e energia, representando uma colisão inelástica, onde a diferença entre a onda incidente e a onda espalhada traduz-se em ganho de temperatura (vibração do átomo). Quando o espalhamento, portanto, for elástico, é possível a indentificação e descrição precisa das substâncias cristalinas (CALLISTER; RETHWISCH, 2007; CULLITY, B.; STOCK, 1978; PECHARSKY; ZAVALIJ, 2009; WOOLFSON; HAI-FU, 2005).

Por volta de 1912, o físico alemão Max Von Laue foi o primeiro a utilizar cristais como rede de difração tridimensional para os raios X, feito que lhe rendeu o prêmio nobel em 1914. William Henry Bragg, em 1913, estabeleceu a relação entre o ângulo de difração e a

distância entre os planos que a originam (BRAGG, W.; BRAGG, 1913; BRAGG, W. L., 1913a). A Figura 15 ilustra o fenômeno relatado por Bragg:

Figura 15 – Representação da difração de raios X por dois planos paralelos de átomos (A ̶ A’ e B ̶ B’) separados

por uma distância interplanar dhkl

Fonte: Adaptado de Callister e Rethwisch (2010).

As linhas horizontais (A ̶ A’ e B ̶ B’) representam os planos de átomos paralelos, os quais possuem os mesmos índices de Miller h, k e l, separados por um espaçamento interplanar dhkl. Os feixes de raios X paralelos, monocromáticos e coerentes (em fase), com

comprimento de onda , estão incidindo (1 e β) e difratando (1’ e β’) sobre esses dois planos segundo um ângulo (CALLISTER; RETHWISCH, 2007).

Bragg observou que para que haja uma interferência construtiva das ondas espalhadas é necessário que fosse obedecida a condição expressa pela Equação 3. Assim, surge a lei de Bragg, escrita como: