• Nenhum resultado encontrado

Tecnologia no campo

No documento Download/Open (páginas 42-47)

3.REFERÊNCIAL TEÓRICO

3.1 Conceito e aspectos da inovação tecnológica

3.1.2 Tecnologia no campo

A tecnologia é um dos fatores que afeta diretamente a economia dos trabalhadores do campo, sendo muitas vezes responsável pelas transformações que ocorre na unidade produtiva ou na sua relação com o ambiente externo a ela. No nível interno da unidade produtiva a variável tecnológica está associada com a oferta de recursos físicos e financeiros, com o processo de produção e de trabalho, com a divisão interna do trabalho entre os membros da família ou a mão de obra contratada. No nível externo à propriedade produtiva se encontra as relações comerciais e financeiras. Todos esses elementos são afetados pela tecnologia adotada, transformando ou sendo modificados por ela, em uma relação não linear (Silva, J. G. da, Kageyama, Romão, Wagner, Pinto, 1983).

As pesquisas sobre a agricultura, o agronegócio, a industrialização no Brasil, demonstram que a inovação e o desenvolvimento de tecnologia ainda estão em

fase de iniciação, como reconhecem Albuquerque (1996) e Villaschi (2005). Embora não se possa negar que, a partir da década de 90, vem ocorrendo transformações importantes na estrutura de produção do País e do Nordeste, que estão aliadas às mudanças tecnológicas mundiais.

Vieira e Silveira (2011) afirmam que na agricultura o fator mais importante que favorece o desenvolvimento da inovação tecnológica é a acumulação do conhecimento. O processo de inovação na agricultura é estruturado dentro de complexos arranjos produtivos e instituições (públicas e privadas) promotoras do conhecimento. O processo de aprendizado do agricultor no decorrer é responsável pelo aumento da produtividade e paralelamente à redução dos custos de produção. Esse aprendizado é dependente da capacidade que o produtor possui em interpretar e assimilar as informações.

Ainda de acordo com os autores, de um lado grande parte da pesquisa e desenvolvimento na agricultura é realizada fora do empreendimento, pelas instituições públicas e privadas, pelas indústrias fornecedoras de insumos tecnológicas. Por outro lado, os investimentos e as atividades experimentais são realizados dentro da unidade produtiva, proporcionando maior estoque de conhecimento.

O padrão tecnológico no Brasil, os complexos agroindustriais, não alcançou totalmente os pequenos produtores, apresentando divergências na produtividade junto àquelas que se modernizaram intensamente. Entretanto, mesmo nas unidades que adotaram tecnologia, o processo de adoção não foi realizado de forma global na unidade produtiva, ou seja, a tecnologia se concentrou na fase do preparo do solo ou dos tratos culturais, seja através da substituição da mão de obra animal/humana pela mecânica, seja pela via da introdução de insumos químicos, fertilizantes, irrigação e defensivos em geral12.

No caso dos pequenos empreendimentos familiares, Kaustsky (1986) enfatiza a atuação do proprietário em todo o processo de produção, desde o conhecimento da legislação que regulamenta a atividade até a comercialização do produto final. Esse tipo de produção está baseado na integração dos componentes da familia, na força braçal e, consequentemente, na ampliação da jornada de

12

trabalho, visto que há dificuldade de enfrentar a competitividade, através da implantação de novas tecnologias. Desta forma, a ampliação da jornada de trabalho gera o atraso técnico e vice-versa, uma vez que a propriedade que assim procede não sente a necessidade de inovar, pois as exigências da produção e do mercado são transmitidas aos trabalhadores. Apesar disso, o gerenciamento rural se estabelece como o fator principal para a sobrevivência do estabelecimento, no qual a inovação também pode ser entendida pela ótica organizacional.

O elemento chave que impulsionou a adoção de tecnologias na agricultura brasileira foi o crédito rural. No fim da década de 60, o crédito rural se tornou o agente catalisador através do custeio e financiamento para a modernização agrícola. No entanto, o sistema governamental do crédito rural beneficiou prioritariamente os produtores do Centro-Sul em detrimento da região Norte- Nordeste, privilegiando os grandes produtores. Desta forma, ao acelerar o ritmo de modernização da agricultura brasileira, acentuou-se também a concentração fundiária, a proletarização dos trabalhadores rurais, o êxodo do campo para a cidade, etc., manifestações típicas do desenvolvimento capitalista no campo.

Como caracteriza J. G. da Silva, et al (1983), o processo de modernização da agricultura no novo padrão tecnológico indica os seguintes atributos:

i) ao nível da produção propriamente dita: utilização crescente dos processos mecânicos (tratores, arados, colhedeiras) e de insumos químicos (fertilizantes, corretivos, defensivos); ii) ao nível da circulação das mercadorias (a filiação à cooperativas e a venda direta às agroindústrias favorecem as transformações na comercialização agrícola); iii) ao nível do financiamento da atividade agrícola (o crédito rural como principal agente no processo de modernização agrícola); iv) ao nível das relações de emprego (expansão do trabalho assalariado e substituição das formas tradicionais da parceria e outras formas remuneradas em espécie (p.40).

Essas transformações que ocorreram diante do novo padrão tecnológico no campo se desenvolveram de forma distinta com relação à região do país, o tipo de produto e o tipo de produtor. Com relação aos pequenos produtores, a mudança tecnológica teve mais representatividade na categoria físico-química, na qual representou uma maior produtividade da terra nas pequenas propriedades em

relação aos grandes estabelecimentos, ocorrendo o inverso com a produtividade do trabalho13.

De acordo com Porto, Silva, Anjos, Brito, & Lopes (2006) as tecnologias rurais mais comuns na região do semiárido são as seguintes:

i) Cisternas rurais: consiste em aproveitar os telhados das casas como área de captação e os depósitos ou cisternas como recipientes para armazenamento. Estima-se que em cinco anos houve a criação de mais de cinquenta mil cisternas no semiárido;

ii) Barreiro para “irrigação de salvação”: sua utilização junto com a captação e o armazenamento de parte do escoamento superficial quando da ocorrência de chuvas pode reduzir, significativamente, as perdas de colheitas anuais. A eficiência dessa tecnologia tem sido comprovada durante 17 anos através de um sistema construído na fazenda de sequeiro existente nos campos da EMBRAPA Semiárido. Porém, não se tem informações sobre a utilização desta tecnologia pelos pequenos produtores, uma vez que ela necessita de áreas significativas e pelo alto custo da construção do sistema mecanizado;

iii) Captação “in situ”: consiste na captação de água da chuva através da modificação da superfície do solo. As principais vantagens dessa tecnologia se referem ao seu baixo custo; não necessita de maquinaria pesada para sua implementação; é de fácil construção no campo e possui produção de escoamento por unidade de área eficiente. De acordo com os estudos realizados em campo, verifica-se que essa tecnologia ainda não é utilizada pelos pequenos produtores pelo motivo de que possuem dificuldade de trabalhar com curva de nível;

iv) Exploração de vazante: a agricultura de vazante é típica no semiárido e consiste na utilização de solos potencialmente agricultáveis dos açudes, rios e lagos que foram cobertos pela água em períodos chuvosos. Essa tecnologia é utilizada primordialmente pelos pequenos produtores.

v) Barragem subterrânea: é a estrutura construída para deter o fluxo horizontal de água subterrânea na superfície do solo. No geral, a água

13

que chega à superfície parte retorna para a atmosfera, parte escoa na superfície do solo e parte se infiltra formando os lençóis freáticos. Durante a seca de 1998, essa tecnologia foi muito difundida, principalmente em Pernambuco, onde foram construídas cerca de 200 barragens subterrâneas. Um ponto importante desse evento é que em todas as barragens construídas foram acompanhadas de Poços Amazonas.

Como foi visto por J. G. da Silva (et al., 1983), a adoção pelos pequenos produtores de tecnologias físico-químicas e, ainda, de inovações biológicas são menos dificultadas do que as tecnologias mecânicas. Assim, o autor indica algumas medidas que podem mudar esse cenário, tais quais:

i) maiores investimentos na pesquisa e difusão de inovações biológicas, tais como sementes; ii) incentivos à produção e à difusão de máquinas menores que se adaptem às escalas menores de produção; iii) desenvolvimento de formas cooperativas para a utilização de máquinas agrícolas; iv) financiamento a juros diferenciados quando se trate de máquinas menos potentes ou de insumos preferencialmente adotados pelos pequenos produtores (p.43).

Nesse contexto, foi necessário um aparato institucional que fortalecesse e acelerasse as mudanças tecnológicas na agricultura. Foi nesse contexto que surgiu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), responsável pelas pesquisas agropecuárias no Brasil. Sua criação modificou a forma de atuação do governo na esfera da pesquisa. Antes da sua criação os recursos em pesquisa agrícola eram escassos e, no período entre 1974-80 os investimentos passaram de US$ 32 milhões para mais de US$ 131 milhões14.

Atualmente, as pesquisas realizadas pela EMBRAPA tem a intenção de que os estudos promovam uma abrangência maior dos cultivares com características específicas para cada região. Objetiva-se também identificar os genótipos que resistam às doenças e pragas, tolerância a herbicidas e melhor qualidade nos produtos agrícolas. Por exemplo, na região do Nordeste, mais especificamente em Pernambuco, a instituição faz estudos sobre a produção do pinhão-manso, suscetível para a produção de biodiesel (Silva, G. T. da, et al 2014).

14

Os experimentos com a planta forrageira estão sendo realizados pelo Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa Semiárido, em Petrolina - PE. Os resultados avaliados pelos pesquisadores dão indícios de que há uma grande possibilidade de alternativa econômica para os pequenos familiares. No primeiro resultado do campo experimento para avaliar o desempenho produtivo do pinhão manso, colheu-se 1000 kg de sementes por hectare com irrigação semanal. Sob o plantio de sequeiro, a colheita foi de 250 kg de sementes por hectare. Embora sejam os primeiros resultados, acredita-se que o plantio dessa espécie de cultura seja promissor na região. As plantas mais produtivas no primeiro ensaio instalado foram selecionadas e estão sendo multiplicadas para cultivo em outros estados15.

Na opinião de J. G. da Silva et al (1983), a reformulação da EMBRAPA ocorreu no momento em que o Estado interviu diretamente no processo de modernização agrícola do país, centralizando os interesses dos grandes capitais, através do consumo de produtos agrícolas pelas indústrias. Como consequência, os maiores beneficiados não são os pequenos produtores. Conclui-se que a modernização da estrutura de pesquisa no país foi guiada para acatar aos interesses dos grandes produtores industriais, fortalecendo a autoridade do capital no campo.

No documento Download/Open (páginas 42-47)

Documentos relacionados