• Nenhum resultado encontrado

3.1- Internet e as mudanças na geografia do jornalismo

Como temos vindo a analisar, o quadro global de novos atores na arena da sociedade acontecedora gerou um mundo muito mais falador e conversador, sem limites, onde os jornalistas têm, cada vez mais, quem com eles compita no domínio do que Bourdieu (1997) designou por «um monopólio de saberes». Já não basta informar o melhor possível o cidadão, no cumprimento da satisfação de um mandato acordado pela sociedade. Como explica Rieffel (1992:70), é preciso uma auto-consciência dos jornalistas sobre os novos desafios da cultura profissional face a um novo mundo dos

media: mais interativo, mais aberto, mais difuso, mais especializado, mais abrangente.

A anterior exclusividade desse mandato social, de uma comunicação unidirecional, deixa os jornalistas mais expostos à perda da sua clássica referenciação como os “heróis ao serviço do povo”. Porque o povo já não é só recetor, consumidor, mas é cada vez mais emissor, graças aos sucessivos processos de “emancipação cívica” materializados através das novas tecnologias de comunicação da sociedade de informação. A Internet acabou por provocar mudanças não só na geografia do jornalismo, tendo-se aberto novos horizontes de cobertura e difusão, mas, sobretudo, veio permitir aos cidadãos entrarem por outras portas mais diretas para a informação e gerar informação.

As pessoas estão hoje mais “educadas” para escrutinar e descrever as suas realidades, individuais ou coletivas, e apresentar a suas interpretações. O que resulta, em muitos casos, em fluxos de opinião fundamental, imprescindível, para se entender os fenómenos em determinadas estruturas segmentadas da opinião pública. É esta realidade que parece estar a provocar mudanças nas rotinas habituais da prática jornalística em todo o mundo, como se constata nos estudos referenciados.

No processo tradicional de incluir e excluir notícias, a que qualquer editor está sujeito na hora de tomar decisões, verifica-se uma nova variável: a necessária (ou obrigatória) atenção ao que designamos por “banco de entradas temáticas“ (de natureza difusa entre a opinião, a informação, a interpretação, o auto-elogio, o ingrediente polémico, etc.) que circula no espaço virtual entre vozes emergentes. Como, por

exemplo, a blogosfera que se revelou um poderoso instrumento que permitiu que tenham voz os que tinham pouca ou nenhuma voz. Este fenómeno dos meios on-line, e das redes sociais39, veio influenciar o processo de troca de informações à escala global e, aparentemente, a obrigar à reconfiguração do processo tradicional das fontes de informação e de toda a produção informativa. Os velhos meios estão a adoptar os métodos dos novos meios, naquilo que pode vir a gerar no futuro um jornalismo mais híbrido, e aos jornalistas exige-se capacidade proactiva de incluir novos procedimentos nas suas rotinas profissionais.

Este novo paradigma comunicacional é comprovado por pesquisas internacionais, de perfil quantitativo. Por exemplo, uma delas, realizada em Setembro de 2009 nos Estados Unidos, revelou que nove em cada dez jornalistas entrevistados – 89% de uma amostra de 400 profissionais da grande imprensa norte-americana – usam de forma continuada weblogs e páginas de redes sociais como o Facebook, Orkut e LinkedIn como fonte de informações para reportagens e textos analíticos. O trabalho teve a chancela da empresa Cision, especializada em comunicação planificada, e a Universidade de George Washington 40.

Uma tendência que parede reforçar-se em 2010, não só nos Estados Unidos mas em todo o mundo, como evidencia um estudo sobre a evolução do jornalismo digital levado a cabo pela prestigiada Knight Center for Journalism in the Americas – The

University of Texas at Austin41, onde se conclui que os jornalistas de todo mundo dependem, cada vez mais, de redes sociais, como o Facebook e o Twitter para encontrar fontes e verificar informações. De acordo com a pesquisa, feita a uma amostra de 478 jornalistas de 15 países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, 40% dos profissionais usam o Twitter para encontrar fontes, e 35% recorrem ao Facebook. Na edição do mesmo estudo em 2009, eram 33% e 25%, respectivamente. Além disso, 55% dos profissionais disseram que os jornais para o quais trabalham mantêm um perfil no Twitter; 54% dinamiza blogs de jornalistas e 48% produz vídeos.

39 Uma rede social define-se como uma plataforma de agilização e compartilha de ideias entre grupos

com vista a proporcionar discussão entre indivíduos. O mote é gerar temas de interesse para todas as partes do processo de intercâmbio digital, com pontos de vista em comum mas também com ideias diferentes porque o importante é proporcionar uma discussão pluralista e aberta de assuntos de forma a enriquecer os conhecimentos de todos acerca de um determinado tema. Através das redes sociais, todos podem livremente expor os seus pontos de vista, partilhar conteúdos (links, páginas, vídeos, imagens, etc) e até valores, sentimentos e atitudes.

40

Cf. o sítio da empresa Cision em: http://us.cision.com/journalist_survey_2009/GW-Cision_Media_Report.pdf 41

O estudo sustenta que as pressões internas pelo uso das redes sociais e pela produção de conteúdos multimédia explicam por que 45% dos entrevistados tenham dito que produzem mais conteúdos atualmente, e 34% deles afirmaram trabalhar mais horas por dia do que há um ano atrás. São dados reveladores dos riscos de sobrevivência e das respostas a que os jornais estão hoje sujeitos, com vista à manutenção das suas audiências.

Indicadores semelhantes são confirmados noutro estudo de 2011, da responsabilidade da Oriella PR Network,42 que mede o impacto da Internet e da banda larga no jornalismo. Entre as conclusões, verifica-se que a audiência on-line no mundo é considerada maior que a imprensa e a radiofusão e os média sociais estão implantados nas redacções com os jornalistas a utilizar os canais digitais, como blogs e o twitter, para apurar as matérias informativas. Do mesmo modo, os canais tradicionais de relações públicas, tais como palestras e comunicados de imprensa, continuam a ser altamente utilizados. Quase dois terços (62%) disseram que usam as agências de relações públicas como primeira fonte, com 59% citando porta-vozes das empresas como fontes. Quando se trata de confirmar as matérias, a utilização dos media sociais e digitais é menor, mas ainda assim significativa. Por exemplo, de acordo com o estudo, no Brasil a primeira fonte dos jornalistas são os press releases, com 32,14%. Os sítios de outras publicações, com 16,67% aparecem em segundo lugar como primeira fonte. Surgem, em seguida, as entrevistas com porta-vozes, com 14,29% das respostas.

Nesta relação entre a força dos novos media e os media convencionais, a ameaça principal é a de a imprensa escrita perder a sua capacidade de interessar os públicos consumidores, quer pela forma quer pelos conteúdos com que se “vende”. É mais que uma ameaça. O estudo da Knight Center for Journalism in the Americas revela – pela primeira vez desde que este estudo começou, em 2007 – que a proporção de entrevistados que concordam com a ideia de que os seus meios de comunicação ‘offline’ atraem mais público, caiu para menos de 50%. São indicadores mais precisos do enfraquecimento do papel do jornalismo e da frágil manutenção da imprensa escrita, pelo menos nos Estados Unidos.

42

O Oriella PR Network é uma rede de 15 agências de comunicação independentes em 20 países na América, Europa, Oriente Médio e África e Ásia /Pacífico. Cf. O Estado da Arte em Jornalismo Digital

Esta variável de mensuralibidade que constitui os níveis de atracção dos públicos, expressa no estudo referenciado, é um assunto mais complexo, na medida em que é importante distinguir se esta atracção não significa, apenas, o contacto numérico para efeitos de audiência e que não conduz, automaticamente, a uma efectiva interactividade substancial geradora de conteúdos e temas de preocupação fundamental. Ela pode reduzir-se ao seu carácter utilitário, numérico, de acessibilidade dos públicos ao produto mediático por muitas outras razões (entretenimento, informação de serviços, etc.) e, portanto, não pela via da credibilização da informação jornalística.

O que mais interessa nesta reflexão sobre o jornalismo continua a ser, em nosso entender, a garantia de um dos seus valores essenciais: a credibilidade. Garantida através da afirmação do seu papel político de contrapeso insubstituível – como aconteceu no caso Watergate – que garanta a incomodidade das perguntas, o recuo epistemológico da terefa profissional quotidiana de não ter como certas as versões superficiais, moldadas e oferecidas por todo o campo de actores com quem interage para produzir informações fundamentais para a percepção social sobre os caminhos do governo das instituições públicas, e não só.

Por mais que a paisagem das forças laterais e espeditas de comunicação obrigue o jornalismo a readaptar-se, lutando pela sua sobrevivência, não parece haver outro caminho que não seja o de manter um trabalho constante de verificação dos factos e de avaliação das fontes de informação, sejam mais convencionais ou de rotina ou agora as páginas dos weblogs ou redes sociais. É legítimo e importante que as usem, desde que esse procedimento não tolha a “agressividade jornalística” sustentada na honestidade, clareza, coragem, justeza e um sentido do dever para com o leitor, visto como cidadão e não mero consumidor, e a comunidade.

Está em causa, em termos de exposição ao risco, não o facto de as redes sociais se transformaram em fontes activas de informação, mas o uso que os jornalistas fazem delas. Não são piores nem melhores que as fontes convencionais partilhadas como as agências noticiosas, os gabinetes de imprensa, os comunicados ou as conferências de imprensa. É apenas mais uma categoria que entra em cena, no processo produtivo, que resulta de uma consequência natural das mudanças que se operam em plena “sociedade em rede” do século XXI, glosando o título da emblemática obra de Castells.

É o jornalismo a moldar-se aos novos tempos em que a chamada Web 2.0 ampliou as possibilidades de interacção entre as pessoas. A sua sobrevivência depende,

todas estas novas formas e canais de comunicação, de redes interactivas mediadas por computador não só cresceram exponencialmente como também estão moldar a vida, sendo ao mesmo tempo moldadas por ela, como antevia Castells (2005).

Os estudos nesta área indicam que há uma tendência de inclusão das redes sociais como fontes de informação nas rotinas de produção informativa. Mas este aumento de uso das redes – que se enquadram simultaneamente na tipologia de fontes partilhadas/abertas e exclusivas (Fontcuberta,1999:47) – não significa a perda de qualidade jornalística. Pelo contrário, se bem usadas, podem ser úteis no processo de pesquisa e investigação. As fontes partilhadas tradicionais garantem a todos os meios de comunicação um volume de informação homogéneo, em quantidade e qualidade. A acessibilidade a novas páginas de discussão temática diversa, ainda que suscetíveis de ser partilhadas por todos os meios, têm uma dimensão de excluvidade, porque implica que o jornalista as detecte e as escrutine pelo grau de relevância e/ou pertinência. À partida, esta realidade vai de encontro ao reforço do poder informativo de qualquer jornal, que se evidencia pelo número, qualidade e pluralismo das suas fontes (Fontcuberta, 1999:46). Não significa que as páginas das redes sociais ou os blogues sejam mais confiáveis sob o ponto de vista jornalístico, que não o são43, mas, precisamente, porque através delas se pode alcançar, ou pelo menos tentar, esse objectivo simbólico de pluralidade de vozes, de mais perspectivas contraditórias ou opiniões distintas sobre os mesmos temas. O aumento de canais de circulação e partilha de informação – consequência natural de uma sociedade aberta e plural – reforça e alarga o leque de observadores públicos, a que o jornalimo pode ou não dar importância ou mobilizar para as suas narrativas noticiosas, fazendo com que a acção dos agentes políticos, por exemplo, seja mais democraticamente escrutinada. Mas também o facto de as mesmas redes sociais terem ganho popularidade junto das habituais fontes oficiais e serem hoje uma fonte de difusão informativa por parte das instituições públicas e dos principais detentores de alto cargos públicos.

É conhecido o uso estratégico, na arena polítia, que Obama fez das redes sociais para grangear popularidade44 ou, exemplo semelhante, a actualização comunicativa que

43

Ainda em referência ao estudo da divulgado pela empresa norte-americana Cision, a maioria dos jornalistas entrevistados (84%) refere que as notícias e informações divulgadas pelos media sociais são muito menos confiáveis do que as notícias divulgadas pelos media tradicionais. http://us.cision.com/journalist_survey_2009/GW-Cision_Media_Report.pdf

44

Cavaco estabelece através da sua página no Facebbok45, a que nenhum órgão de informação é alheio se se quiser manter atento e actualizado sobre o que pensa e diz o presidente da República Portuguesa. Se há uma deslocação estratégica das principais fontes promotoras de informação para a instantaneidade comunicativa das redes sociais, extensível a muitas outras áreas para além da política, o jornalismo é obrigado a acompanhar esse movimento.

Ficar de fora significaria não perceber que a confecção das agendas já não é um património exlusivo seu, dos jornalistas, mas que resulta de uma proliferação de vozes e conteúdos que se tornam necessários, quando socialmente relevantes, para uma contínua renovação da informação jornalística que tenha como missão última uma aproximação interpretativa sobre a complexidade das sociedades modernas.

Se o grande objectivo de qualquer meio de informação jornalística é garantir e oferecer conteúdos verídicos, que se aproximem ao máximo do que na realidade acontece, esta abertura poderá ser entendida como uma oportunidade de facilidade e diversificação no acesso a fontes contrastáveis, susceptíveis de garantir versões mais abrangentes e significativas das “estórias” informativas. Qualquer meio de comunicação social procura trabalhar as suas notícias de forma a que, na recepção e apropriação por parte dos seus leitores, melhor sirva para compreender o que se passa, preparar-se para o que se vai passar, ajudar a entender o que os espera ou de que modo poderão esses leitores influnciar o que se passa (Fontcuberta:1999:38).

O processo de tematização não pode priscindir, portanto, de uma focagem alargada aos diversos aspectos colectivos que circulam e se esgrimem, com tantas versões, nos espaços das redes privadas e que se podem reflectir na vida pública. O principal desafio, tomando como positiva esta apropriação das redes enquanto fontes, é que os jornalistas sejam os principais agentes de clarificação informativa no meio de tanta desorganização e dispersão que caracteriza a Internet.

Entre as vantagens da rapidez, quantidade e diversidade que o meio permite – o que facilita o trabalho jornalístico – mantém-se a exigência de aplicação de regras de triagem do que, além de actual, é ou não relevante e significativo, cujas repercussões ou consequências para a sociedade atribuam interesse jornalístico.

A nenhum jornalista interessará, na perspectiva do interesse público ou mesmo do

público, os devaneios introspectivos e interrogações metafísicas sobre o destino da terra presentes num blogue de um político. Mas pode interessar a interpretação pragmática e lúcida de um cidadão comum que, preocupado com a condução pública dos destinos e interesses colectivos, denuncia abusos de poder e incumprimentos de responsabilidade política. Ou mesmo a sua consistente e esclarecedora tomada de posição sobre assuntos públicos ou que o possam vir a ser.

Também aqui, como em todo o seu trabalho profissional, o jornalista faz escolhas.Tudo depende de que personagens estão por detrás ou dão a cara por essas fontes (não basta a perceção numérica de meios on-line usados como fontes mas, sobretudo, a averiguação da qualidade dessas fontes) e da forma como os jornalistas, para além de usarem, as valorizam quanto à sua independência, legitimidade, credibilidade e idoneidade públicas. Ou seja, é esperado que o jornalista submeta estas novas fontes, e os seus constributos narrativos, ao mesmo crivo crítico de distancimamento ético com que profissionalmente faz as suas escolhas diárias. Escolhas que devem incidir, neste caso, mais nos níveis interpretativos e explicativos dos factos (o como e o porquê), uma vez que a mobilização dos contributos dessas fontes activas procura, regra geral, contributos plurais que confiram aos acontecimentos maior grau de profundidade interpretativa.

O problema pode residir na acrítica assunção de contributos aparentemente relevantes que, por falta de confirmação ou verificação jornalística, se venham a revelar autênticos imbustes, manipulações, propaganda e, por consequência, notícias falsas (numa lógica de comprovação dos factos noticiados, uma vez que não nos identificamos com a assunção inquestionável de que o jornalismo alcança verdades absolutas, que não existem).

Não se pode perder de vista que os novos media sociais têm, regra geral, uma natureza e um ethos radicalmente distinto dos meios tradicionais, sem regulação ética, deontológica e responsabilidade social equivalentes ao jornalismo. Essa diferença pode ser ilustrada, por exemplo, com a permeabilidade aos rumores provenientes de fontes não identificadas nem seguras que circulam nesses novos meios.

Na ascepção clássica, entende-se por rumor uma informação que, apesar de aparentar ser verdadeira, não contém dados que auxiliem a verificação dessa verdade. Este rumor tem vida própria, difunde-se com grande rapidez e amplitude, seja através do mecanismo social do “boca-a-boca”, seja pelo mecanismo tecnológico das redes

online. Quanto mais ambiguidade e relevância tiver um assunto, maior força de difusão

e propagação tem. Ora, se graças ao poder de difusão mediado pela tecnologia os cidadãos acederam à liberdade de dizer o que pensam, o que pensam ter visto ou ouvido – quer pelas suas experiências vivenciais diretas, quer pelas informações difundidas pelos media de massas ou de segmento – maior será a dimensão e a proliferação dos rumores. A “cegueira” das tecnologias – que não escolhem consumidores nem determinam a fiabilidade seletiva da informação que fazem circular, ao contrário da mediação jornalismo profissional – é claramente propícia a uma irrigação incontrolável de mensagens privadas à procura do seu espaço público.

É um processo que conduz ao dilúvio de milhões e milhões de informações, num vasto círculo de poder, cuja ambiguidade e importância é livremente ampliada e/ou escrutinada pelos cidadãos envolvidos nesse círculo, nessa rede. Há, portanto, que considerar a distinção entre o domínio da circulação da informação, que amplia tudo, transformando a Internet e as redes sociais num democrático e pluralista ciberespaço, tido como uma das principais plataformas de mobilização social.

3.2- Liberdade de expressão e entretenimento digital

Esta abordagem conduz a nossa reflexão ao “revés da medalha”. O que para uns é o “ouro” da democracia contemporânea, tendo-se generalizado o mito de uma autêntica liberdade cívica de todos dizerem o que pensam, projetando mudanças ideológicas no mundo, para outros pode representar um dilúvio de informações inconsequentes. Identifica-se um aspeto subversivo do processo de circulação do rumor. Isto é, a forma psicológica como as pessoas lidam com as informações, no primeiro contacto onde influi a subjetividade superficial da novidade, sem pormenores de profundidade, constitui uma tendência natural para a deturpação. O rumor, num primeiro nível de interpretação sem profundidade, alimenta a dimensão das emoções humanas, que são as mais mobilizadas na reação aos acontecimentos informativos.

Sem pôr em causa a natureza horizontal e aberta do espaço online, como sistema de circulação e confrontação de informações – nem tão pouco a sua utilidade absolutamente revolucionária na forma como se acede ao mundo – deve-se sublinhar que a haver uma “revolução” ela circunscreve-se, em nossa opinião, à sua natureza orgânica enquanto sistema tecnológico que, tal como a prensa de Gutemberg, aumentou

de forma colossal a capacidade de circulação das ideias. E, por essa via, também aceitamos como plausível a tese de que a maior parte das ideias públicas e privadas que constituem o âmago das nossas sociedades democráticas, nos temas e assuntos que alimentam as opiniões públicas, provêm hoje em grande parte desse sistema alargado pela tecnologia. Que, em suma, ampliou o efeito de proximidade psicológica uma vez que qualquer pessoa exposta e incluída na rede, no círculo de poder de conversação, se identifica com notícias e acontecimentos geograficamente mais longínquos.

A par dos media de massa, particularmente a televisão, a Internet e as redes sociais conduziram as sociedades a esse fenómeno de uma maior identificação ou proximidade psicológica com os fenómenos sociais, políticos, culturais e económicos que

Documentos relacionados