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2.1 Terceiro Setor

2.1.1 Tecnologia Social

Segundo Prusak (2000) apud Dueck (2001), o conhecimento pode ser classificado em quatro tipos:

- Episteme: é o conhecimento baseado nos princípios e leis científicas, nas generalizações abstratas;

- Techne: é o conhecimento baseado em habilidades, procedimentos, comunidades de prática;

- Phronesis: baseia-se na sabedoria, na experiência e na vida prática; - Metis: conhecimento baseado no “faro”, num dom pessoal.

De acordo com Steiner (2006), quando se fala em conhecimento, sua geração e uso pela sociedade, refere-se a uma variedade de atividades que vão desde a geração de conhecimento puro (ciência) e aplicado (tecnologia) até a capacidade de, a partir dele, produzir riqueza (inovação). Seguindo a classificação de Prusak (2000) apud Dueck (2001) e a definição de Steiner (2006), qual seria o conhecimento aplicado pelas organizações sem fins lucrativos? Qual seria a sua tecnologia?

As organizações sem fins lucrativos têm um conhecimento próprio, específico. Um conhecimento adquirido e construído ao longo da sua existência, ao desenvolver suas ações na comunidade em que atuam. Este conhecimento voltado para ações que gerem a inclusão social pode ser conceituado como a tecnologia para a inclusão social ou tecnologia social.

Segundo Lassance Jr. e Pedreira (2004), muitas pessoas conhecem, mas poucas sabem o que são tecnologias sociais. Elas podem ser encontradas por todo lugar, mas, por serem extremamente simples, nem sempre o status de tecnologia lhes é conferido. Estão relativamente disseminadas, em várias áreas (há tecnologias para a saúde, a educação, o meio ambiente, a agricultura, a energia, entre outros) e podem beneficiar comunidades de vários locais do país. Todavia, espalhadas como estão, vivem isoladas umas das outras e representam soluções parciais. Na maioria dos casos, não se integram, a ponto de representar uma solução conjunta para políticas sustentáveis.

Neste sentido, a criação e gestão do conhecimento numa organização sem fins lucrativos podem favorecer o compartilhamento destas tecnologias, de forma a facilitar a reutilização das mesmas na própria organização, assim como a adoção delas por outras

instituições que atuam de forma semelhante ou com objetivo de atenuar ou solucionar problemas sociais semelhantes.

Existem algumas práticas tão geniais, tão inovadoras, tão simples e tão baratas que provocam uma reação imediata em qualquer pessoa: a de se perguntar por que não se pensou nisso antes (LASSANCE JR.; PEDREIRA; 2004). Ainda segundo os autores, este questionamento traz em si uma curiosidade (com a tecnologia), satisfação (de saber que foram pessoas inventivas e empreendedoras que as criaram e que tudo parece pronto para ser aplicado) e indignação (porque se presume que essas inovações poderiam já ter beneficiado as pessoas que mais precisam dela).

Considera-se tecnologia social todo produto, método, processo ou técnica criados para solucionar algum tipo de problema social e que atendam aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado (DAGNINO, 2004). Ainda segundo o autor, pode compreender produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem soluções de transformação social. Engloba as práticas de intervenções sociais que se destacam pelo seu êxito na melhoria das condições de vida da população, construindo soluções que se relacionam estreitamente com a realidade da comunidade local.

As tecnologias sociais podem nascer no ambiente acadêmico ou na própria comunidade. Pode ser baseada no conhecimento popular ou no científico, mas sua eficácia deve favorecer a inclusão social. Ou seja, pode aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico; o importante é que gere benefício social no ambiente em que a instituição atua.

É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. Está baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, dentre outras (FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2007).

A tecnologia social tem como características a participação comunitária no processo decisório de escolha tecnológica, o baixo custo dos produtos ou serviços finais e do investimento necessário para produzi-los, a simplicidade, os efeitos positivos que sua utilização traria para a geração de renda, saúde, emprego, produção de alimentos, nutrição, habitação, relações sociais e para o meio ambiente (DAGNINO, 2004).

Em geral, a tecnologia social tem dimensão local. Aplica-se a pessoas, famílias, cooperativas e associações (LASSANCE JR.; PEDREIRA; 2004). Como exemplos de tecnologia social podem ser citados o soro caseiro no combate à desidratação e à mortalidade infantil e a construção de cisternas para reduzir o problema da seca.

As organizações constroem suas próprias bagagens de conhecimento, a partir da vivência de experiências que incluem práticas que deram certo e de outras que não alcançaram o resultado esperado. Em relação às organizações sem fins lucrativos, a tecnologia social pode ser considerada o conhecimento construído e acumulado ao longo do tempo por esta instituição no ambiente em que atua.

O corpus de conhecimento que as organizações sem fins lucrativos devem ser capazes de gerenciar engloba as práticas desenvolvidas com sucesso pela organização, as impressões que os voluntários constróem dia após dia e as leis aprovadas por instituições para áreas específicas de intervenção (LETTIERI; BORGA ; SAVOLDELLI, 2004). Tudo isto pode ser considerado a tecnologia social desta organização. É a própria

maneira como a instituição atua, como desenvolve seus projetos de forma a gerar impacto social.

Ao sugerir uma conceituação específica para estas práticas, tem-se o objetivo de melhorar práticas sociais e de contribuir para que novos significados para a produção de conhecimento sejam construídos, aproximando os problemas sociais de soluções e ampliando os limites da cidadania, junto com o arcabouço gerencial e inovativo criado organizacionalmente.