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Entre as últimas décadas do século XX, e a primeira deste século, houve um avanço decisivo no aperfeiçoamento das tecnologias da comunicação e informação com consequências severas, a exemplo, da intensificação do processo de globalização capitalista e revisão das formas de organizar as instituições sociais - como a educação e as dimensões que a elas se associam — como o trabalho do professor. Na perspectiva de Castells (1999, p. 49), tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) abrangem “[...] o conjunto convergente de tecnologia sem microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, eoptoeletrônica”. Ao aumentar a capacidade de armazenamento e memorização dos microcomputadores, o desenvolvimento da microeletrônica aprimorou os meios de transmissão de informações.

A criação do microprocessador por Ted Hoff, em 1971, marca o início da revolução na microeletrônica. Com o microprocessador, os computadores melhoraram a capacidade de processamento e armazenamento de dados. O aprimoramento da microeletrônica e o microprocessador tornaram possível a invenção, em 1975, do microcomputador. Na metade da década de 1970, microcomputadores fabricados por empresas como a Apple Computers e a IBM passaram a ser comercializados (CASTELLS, 1999). Além de melhorias na capacidade de armazenamento de informações, o aperfeiçoamento da microeletrônica aumentou progressivamente a velocidade dos microprocessadores que, por sua vez, melhoraram a velocidade na transmissão de informações.

No âmbito das telecomunicações, o computador eletrônico permitiu o desenvolvimento de tecnologias digitais mais avançadas, que aumentaram a velocidade na transmissão de informações, visto ser um dispositivo utilizado para inversão de correntes, conectando circuitos em sistemas de telecomunicação, sendo que os avanços das tecnologias permitiram substituir o computador analógico pelo computador digital.

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O primeiro computador eletrônico produzido industrialmente, o ESS-I, foi fabricado pela Bell Laboratories, em 1969. Em meados dos anos 1970, os avanços da tecnologia em circuitos integrados possibilitaram criar o comutador digital, que aumentou a velocidade, a potência e a flexibilidade com economia de espaço, energia e trabalho, em comparação com os dispositivos analógicos (CASTELLS, 1999).

Na década de 1990, surgiram inovações tecnológicas na optoeletrônica, como as transmissões por intermédio de fibra ótica e laser, os protocolos de interconexões entre microcomputadores e as arquiteturas de comutação para transmissão de informações de forma assíncrona.

A revolução das TDIC concentrou-se inicialmente nos Estados Unidos, especificamente no Vale do Silício na Califórnia. Artefatos como o microprocessador e os microcomputadores foram produzidos nessa região. Empresas como a Microsoft, Apple, entre outras, produziram sistemas operacionais e tecnologias, incrementando o mercado da informática. As inovações tecnológicas não se restringiram ao Vale do Silício, espalhando- se por várias regiões do mundo, tanto nas metrópoles dos países mais ricos, como Paris, Londres, Berlim, Tóquio, quanto nas cidades globais de países em desenvolvimento, como Pequim, Xangai, São Paulo, Campinas, Cidade do México e Buenos Aires, concentrando-se onde havia mão-de-obra qualificada e produção de conhecimento científico e tecnológico (CASTELLS, 1999).

Em 1994, experimentos com sistemas de comunicação digital, como a ADSL (asymmetric digital subscriber loop) testaram tecnologias de transmissão de dados em alta velocidade. Diversas empresas e o governo dos EUA, Japão, França, Alemanha, entre outros, inclusive o Brasil, modificaram suas estruturas urbanas para interligarem-se “à supervia global emergente” (CASTELLS, 1999, p. 387-389). A revolução das TIC facilitou a fusão de empresas e mercados, intensificando o comércio mundial. Novos bens e serviços, criados a partir de inovações tecnológicas, são oferecidos para consumo. Na economia, os processos de produção e comercialização seguiram a dinâmica das novas TIC.

A informação tornou-se um fator central em tal contexto. Cientistas sociais e lideranças políticas chegaram ao consenso de que as sociedades modernas passavam por um processo de transição dos meios de comunicação para a “Sociedade da Informação”. Mesmo em países que direcionam suas políticas públicas para possibilitar uma inserção da população na era da revolução dos meios de informação, Castells (1999) sugere que o

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acesso à informação dificilmente tornará a sociedade mais igualitária, surtindo um efeito progressivo de estratificação social dos usuários. O acesso às TIC e à multimídia restringir - se-á às pessoas com condições financeiras e tempo disponível. Além disso, o nível cultural e educacional de cada um será um aspecto decisivo no aproveitamento do acesso à informação. Desse modo, apesar de potencializar o acesso, “o mundo da multimídia será habitado por duas populações essencialmente distintas: a interagente e a receptora da interação” (CASTELLS, 1999, p. 393).

Ao tratar da difusão das tecnologias digitais, Lévy (1999, p. 24), por sua vez, observa que “[...] por trás das técnicas agem e reagem ideias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade [...]”, ou seja, fatores relacionados com a pluralidade de interesses existentes na sociedade. Assim, apontar o sentido exato que determinaria o direcionamento da tecnologia na contemporaneidade é, no mínimo, ambivalente.

Como diz Lévy (1999, p. 24), a dimensão do digital evidencia, em particular, a ambivalência (ou multiplicidade) de significações e projetos associáveis com técnicas. De tal maneiram, Estados que buscam se posicionar como potência em geral e bélica, em particular encorajam o desenvolvimento de tecnologias para o ciberespaço. Daí a competição entre gigantes da indústria eletrônica e de softwares, entre os grandes conjuntos geopolíticos.

No presente, tanto a informação quanto o conhecimento passaram a ser essenciais. Daí a designação de sociedade da informação para caracterizar o contexto histórico da revolução tecnológica. Avanços na microeletrônica e no desenvolvimento de microprocessadores aumentaram a capacidade de armazenamento de dados e a velocidade na circulação de informações, instaurando a sociedade da informação. Aparatos tecnológicos proporcionaram a descentralização dos modos de produção e difusão do conhecimento, os quais têm como base a digitalização de informações e a convergência de mídias. Com a interligação entre a informática e os sistemas de telecomunicações, a comunicação se tornou um fator essencial para o desenvolvimento socioeconômico e a competitividade no mercado globalizado.