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TECNOLOGIAS NO ENSINO DA MATEMÁTICA

Atualmente, não podemos ignorar a presença e importância das tecnologias na vida das pessoas, a exemplo do uso da informática, que se torna cada vez mais comum. Assim, a escola, como parte integrante da sociedade, não pode ignorar os avanços tecnológicos.

A introdução das tecnologias - em especial o computador - na educação, pode ser uma ferramenta importante no processo do ensino e aprendizagem. No entanto, sua simples presença na escola não garante uma melhoria na qualidade do ensino e aprendizagem e, conseqüentemente, no enfrentamento das novas demandas sociais. Segundo Valente (1999):

O ensino tradicional ou a informatização do ensino tradicional são baseados na transmissão de conhecimento. Nesse caso, tanto o professor quanto o computador são proprietário do saber, e assume- se que o aluno é um recipiente que deve ser preenchido. O resultado dessa abordagem é o aluno passivo, sem capacidade crítica e com uma visão de mundo limitada. Esse aluno, quando formado, terá pouca chance de sobreviver na sociedade atual. Na verdade, tanto o ensino tradicional quanto a informatização desse ensino prepara um profissional obsoleto.

Segundo Borba e Penteado (2001), a presença da informática na educação está diretamente relacionada à determinada concepção de ensino e aprendizagem. Por isso, entendemos que o uso eficiente do computador é adequado a uma pedagogia que tem por objetivo a construção de conhecimento pelo aluno e que valorize os processos envolvidos e não somente um resultado em sala de aula.

O papel do professor, dentro de concepção pedagógica que visa a construção do conhecimento, é de mediador. Segundo Masetto (2000), o professor como mediador pedagógico possui determinadas características, tais como: envolver-se com a aprendizagem do aluno, assumindo que ele é o centro do universo do ensino; no processo de ensino-aprendizagem deve haver co-responsabilidade , parceria e respeito mútuo entre o aluno e o professor; ter

domínio profundo de sua área de conhecimento, demonstrando competência e ter disponibilidade para o diálogo.

O papel de mediador é um elo que se estabelece, no qual o professor é um facilitador, incentivador e motivador da aprendizagem. Ele dinamiza a aprendizagem, trabalhando em equipe com o aluno para alcançar os objetivos propostos. Para Masetto (2000), a mediação pedagógica significa:

... a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem –não uma ponte estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.

Portanto, o papel do professor de mediador pedagógico no uso da tecnologia é fundamental. Nesse aspecto, Valente (1997) afirma que:

A interação aluno-computador precisa ser mediada por um profissional que tenha conhecimento do significado do processo de aprendizado através da construção do conhecimento, que entenda profundamente sobre o conteúdo que está sendo trabalhado pelo aluno e que compreenda os potenciais do computador. Esses conhecimentos precisam ser utilizados pelo professor para interpretar as idéias do aluno e para intervir apropriadamente na situação de modo a contribuir no processo de construção de conhecimento por parte do aluno.

Se considerarmos o uso de tecnologias em aulas de matemática é comum o questionamento de professores: “Se o aluno utilizar a calculadora, como ele aprenderá a fazer contas?” ; “Se o estudante do ensino médio aperta uma tecla do computador e o gráfico da função já aparece, como ele conseguirá, ‘de fato’, aprender a traçá-los?”.

Para Borba e Penteado (2001), uma forma de refletir sobre estas perguntas é reformulando-as dentro de um contexto de uso de lápis e papel. E questiona: “será que o aluno deveria evitar o uso intensivo de lápis e papel para que não fique dependente dessas mídias?”

Em geral, tal questão choca os professores, pois muitos não consideram o lápis e papel como uma mídia, da mesma forma que consideram os computadores. Para os professores esta mídia não causa dependência quando disponível para auxiliar o aluno na construção dos conhecimentos. Porém, para Borba e Penteado (2001), sempre haverá algum tipo de mídia

envolvida na construção de conhecimentos pelo aluno. Essa dependência está relacionada ao contexto educacional do aluno e às mídias disponíveis: oralidade, lápis-e-papel e a informática, dentro deste contexto.

Desta forma, as novas mídias abrem novas possibilidades de práticas pedagógicas. Com as mídias de informática, é possível trabalhar com um enfoque experimental aproveitando ao máximo as condições e as facilidades para construir tabelas, gráficos, expressões algébricas, entre outros.

Para Borba e Penteado (2001), o conhecimento sempre é produzido com a utilização de uma determinada mídia:

É por isso que adotamos uma perspectiva teórica que se apóia na noção de que o conhecimento é produzido por um coletivo formado por seres-humanos-com-mídias, ou seres-humanos-com-tecnologia e não, como sugerem outras teorias, por seres humanos solidários ou coletivos formados apenas por seres humanos.

Sobre o uso de tecnologias em aulas de matemática, Ponte (1997) considera que a missão da escola que se impõe na sociedade do conhecimento é a de oportunizar aos alunos a se inserirem de modo criativo, crítico e participativo numa sociedade cada vez mais complexa. O desenvolvimento dessas habilidades requer o uso das novas tecnologias, sejam calculadoras, computadores, sistemas multimídia ou a Internet.

A matemática, por sua vez, sempre teve uma relação muito especial com as novas tecnologias, e sua utilização, de maneira eficiente, pode dar a ela caráter de uma disciplina que contribua, significativamente, para a imersão desse aluno na sociedade da informação.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), a utilização das tecnologias traz contribuições para o processo de ensino e aprendizagem da matemática à medida que:

- relativiza a importância do cálculo mecânico e da simples manipulação simbólica, uma vez que por meio de instrumentos esses cálculos podem ser realizados de modo mais rápido e eficiente; - evidencia para os alunos a importância do papel da linguagem gráfica e de novas formas de representação, permitindo novas estratégias de abordagem de variados problemas;

- possibilita o desenvolvimento, nos alunos, de um crescente interesse pela realização de projetos e atividades de investigação e exploração como parte fundamental de sua aprendizagem;

- permite que os alunos construam uma visão mais completa da verdadeira natureza da atividade matemática e desenvolvam atitudes

Ainda, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o computador pode ser usado nas aulas de matemática com várias finalidades:

- como fonte de informação, poderoso recurso para alimentar o processo de ensino e aprendizagem;

- como auxiliar no processo e construção o conhecimento;

- como meio para desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possibilitem pensar, refletir e criar soluções;

- como ferramenta para realizar determinadas atividades – uso de planilhas eletrônicas, processadores de textos, banco de dados, etc. (PCN, 1998, p.44)

Os estudos de Gravina e Santarosa (1998) sobre a aprendizagem da matemática em ambientes informatizados numa perspectiva construtivista, indicam que eles se apresentam como ferramenta de grande potencial diante de problemas inerentes ao processo de aprendizagem da matemática.

Essas autoras, tomando como referência os trabalhos de Kaput (1992) e Mellar et al (1994), analisam como as características dos ambientes informatizados dão suporte às ações dos alunos sobre os objetos matemáticos.

Apresentamos a seguir essas características, as quais as autoras denominam de meio dinâmico, meio interativo e meio para modelagem e simulação.

Em relação a ser um meio dinâmico, observa-se em livros, lápis e papel, giz e lousa, que os sistemas de representação do conhecimento matemático têm caráter estático, o que, muitas vezes, dificulta a construção do significado por parte dos alunos. O dinamismo que se apresenta na tela do computador pode auxiliar a medida que:

As novas tecnologias oferecem instâncias físicas em que a representação passa a ter caráter dinâmico, e isto tem reflexos nos processos cognitivos, particularmente no que diz respeito as concretizações mentais. Um mesmo objeto matemático passa a ter representação mutável, diferentemente da representação estática das instâncias físicas tipo “lápis e papel” ou “giz e quadro-negro”. O dinamismo é obtido através de manipulação direta sobre as representações que se apresentam na tela do computador. Por exemplo: em geometria são os elementos de um desenho que são manipuláveis; no estudo de funções são objetos manipuláveis que descrevem relação de crescimento/decrescimento entre as variáveis. (...). Já num meio dinâmico um triângulo como correspondente segmento altura pode ser manipulado, mantendo-se um lado do triângulo fixo e fazendo-se o vértice oposto deslocar-se numa paralela a este lado. Desta forma obtém-se uma família de desenhos com triângulos e segmentos alturas em diversas situações, o que favorece a concretização mental em harmonia com o conceito matemático de altura de um triângulo.

Sobre ser um meio interativo, essas autoras entendem como a dinâmica que se estabelece, considerando as ações dos alunos e reações do ambiente. A interatividade é aquela que não se limita apenas à informação de erros e acertos, mas a que as ações dos alunos correspondam à reação do ambiente de forma que contribua na construção do processo de aprendizagem. Nesse sentido afirmam:

A “reação do ambiente, correspondente a ação do aluno, funciona como ”sensor” no ajuste entre o conceito matemático e sua concretização mental. Um meio que pretenda ser interativo, na medida do possível, não deve frustar o aluno nos procedimentos exploratórios associados as suas ações mentais. Isto vai depender dos recursos que coloca a disposição e do nível de automação nos procedimentos. Alguns dos recursos já disponíveis em certos ambientes: ferramentas para construção de objetos matemáticos, múltiplas representações, procedimentos dos alunos podem ser registrados ou automatizados (capturação de procedimentos), auto- escala automática, zoom-in e zoom-out, dados que se atualizam com a dinâmica da situação, traçado de lugares geométricos, cálculos matemáticos.

E por último, como meio para modelagem ou simulação, as autoras sustentam a idéia de que esses programas, ao permitirem a criação e exploração de um modelo de um fenômeno, favorecem a construção de conceitos matemáticos. Explicitam que:

Em programas com recursos de modelagem os alunos constroem modelos a partir representação dada por expressões quantitativas (funções, taxas de variação, equações diferenciais) e de relações entre as variáveis que descrevem o processo ou fenômeno. A característica dominante da modelagem é a explicitação, manipulação e compreensão das relações entre as variáveis que controlam o fenômeno, sendo o feedback visual oferecido pela máquina um recurso fundamental para o ‘ajuste’ de idéias. (...) O recurso de simulação permite a realização de experimentos envolvendo conceito mais avançado. Neste caso, a complexidade analítica do modelo fica por conta do programa e os alunos exploram qualitativamente as relações matemáticas que evidenciam no dinamismo da representação de caráter visual.

Constatamos, desta forma, o grande potencial da aplicação da tecnologia na educação e no aprendizado da matemática, especificamente. Acreditamos que os recursos tecnológicos, em especial a informática, podem e devem ser integrados nas atividades pedagógicas, auxiliando no processo de construção do conhecimento pelo aluno.

Entretanto, os recursos tecnológicos, por si só, não garantem a aprendizagem. Ao utilizar ambientes informatizados em aulas de matemática, por exemplo, é preciso que o professor selecione softwares adequados, elabore atividades significativas que desafiem os alunos, observe as ações dos alunos, e realize mediações que promovam o processo da construção do raciocínio matemático.