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A utilização do termo tecnologia no processo de trabalho do enfermeiro mostrou que a discussão das tecnologias tem apresentado um caráter multifacetado, com predomínio dos equipamentos. Apesar deste predomínio, fica claro que a tecnologia faz parte do processo de trabalho em saúde e do cuidado (ROCHA; ABRAHÃO, 2008). A criação de tecnologias advindas do ato de cuidar baseia-se no conhecimento técnico e científico, na observação do cotidiano e na preocupação com o bem-estar, tanto do cuidador, como do sujeito do cuidado (MEIER, 2004).

Estudo realizado sobre o conceito de tecnologia em enfermagem aponta que as mudanças nas demandas de cuidado em saúde requerem do enfermeiro o conhecimento desse conceito, no intuito de aplicá-lo para tomada de decisão, elevando a qualidade do trabalho de enfermagem e do cuidado prestado ao cliente (AQUINO, et al., 2010).

No estudo de Aquino, et al. (2010) sobre o conceito de tecnologias na enfermagem, o mesmo concluiu que há duas grandes divisões sobre a análise do conceito de tecnologias: uma tecnologia que diz respeito ao produto e outra

tecnologia que se refere ao processo. Assim, a tecnologia enquanto produto compreende a construção de um artefato palpável, baseado no conhecimento científico, voltado à melhoria de uma situação de saúde, emancipação ou geração de conhecimento. Três elementos caracterizam esse atributo: informatização, informação e artefato.

Para o autor a tecnologia enquanto processo compreende todo método que abranja a capacitação de indivíduos ou grupos para desempenhar determinada função ou atividade, bem como a gestão de serviços e produtos e de pessoas, ou mesmo, a promoção de qualquer forma de abordagem humana. Os elementos que caracterizam o atributo processo compreendem: a capacitação, a gestão e a abordagem humana.

Para este estudo, abordar-se-á a tecnologia enquanto processo, pois permite a gestão das relações humanas no trabalho e para o trabalho com consequências diretas no cuidado as pessoas, e permite o aprimoramento das habilidades da equipe de enfermagem de uma maneira mais humanizada e criativa.

Para Aquino, et al. (2010) a concepção de tecnologia de processo com função de gestão de pessoas, diz respeito à avaliação das condições de trabalho para promoção de um ambiente seguro aos profissionais. Sendo assim, a formação de uma tecnologia de processo permite além da capacitação da equipe, abordagem construtiva e dialógica das relações no trabalho, com possíveis mudanças ambientais pautadas na ética, no respeito e no compromisso entre os membros da equipe.

O processo de mudanças em razão da inserção das tecnologias provoca transformações importantes no contexto da saúde e enfermagem. A tecnologia está em constante processo de organização e reorganização pelo próprio ser humano, para a adequação deste com a realidade que o cerceia. Assim, os processos gerenciais podem ser facilitados pelas tecnologias, porém nenhuma tecnologia poderá substituir a relação e a compreensão intersubjetiva entre os seres humanos (BAGGIO; ERDMANN; DAL SASSO, 2010).

Os profissionais em seu espaço social de relações podem ampliar as redes interacionais e integrativas para o cuidado de enfermagem em suas múltiplas dimensões, utilizando as tecnologias a favor da rede no micro e macro espaço cotidiano. Entende-se a rede como a transgressão de fronteiras e a abertura de

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conexões, a flexibilidade e a transparência nas relações de trabalho (BAGGIO; ERDMANN; DAL SASSO, 2010).

No estudo de Crozeta, et al. (2010) a construção do conceito de tecnologia em enfermagem que emergiu de um grupo focal identificou a complexidade e abrangência da temática que engloba desde aspectos da ciência e da produção de conhecimento, da competência profissional até os fatores socioeconômicos, políticos e éticos da sociedade.

No mesmo estudo surge o questionamento sobre os resultados positivos ou negativos do uso da tecnologia, bem como se todos os resultados positivos são éticos. Esse contexto aponta que, na produção da ciência, nem tudo o que se produz é bom ou tem um resultado positivo. Há que se considerar o volume e a velocidade de desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia, e as transformações provocadas por ambas para a humanidade (CROZETA, et al., 2010). No que se refere à abordagem sociológica do termo, tecnologia envolve todas as formas de técnica produtiva incluindo o trabalho manual e intelectual e não é sinônimo de máquina, como entendido no senso comum. Inclui, também, a organização física da produção, as formas como as máquinas são organizadas nos locais de trabalho e a divisão e organização do trabalho. As técnicas produtivas e a

organização da produção são produtos sociais, consequências de decisões humanas, portanto tecnologia pode ser analisada como resultado de processos

sociais (ABERCROMBIE; HILL; TRUNER, 2000). Na visão de Lorenzetti, et al. (2012) as novas tecnologias compreendem as

máquinas, os equipamentos, os diversos instrumentos, bem como o modelo de organização das empresas e de organização do trabalho (incluindo inovações na gestão e nas relações de trabalho) em um contexto histórico social. Envolve uma relação com o nível macrossocial e com as políticas de Estado vigentes nas diferentes sociedades históricas. As tecnologias em saúde podem ser estudadas em uma perspectiva histórica identificando os conhecimentos, explicações e técnicas utilizadas em diversas épocas, desde os primórdios da humanidade até a atualidade. No estudo de Koerich, et al. (2006) evidencia-se que tecnologia é percebida como um conjunto de conhecimentos; e quando o profissional interage com o cliente, este se torna em uma tecnologia assistiva, imbuído de saberes e experiências que auxiliam no cuidado ao outro. As ferramentas instrumentalizam o cuidado e é evidente a ideia de que, direta ou indiretamente, as tecnologias estão a

serviço das pessoas frente as suas necessidades. Conforme nos posicionamos ao realizar estas ações, interagimos com e para os outros, nos transformando também em uma tecnologia humana, ou seja, em uma tecnologia assistiva, com características singulares que permitem o desenvolvimento das potencialidades do outro ser cuidado por nós.

Ao compreender a inserção das tecnologias no trabalho em saúde e