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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1 Diagnóstico da atuação do SISAR quanto aos serviços de abastecimento de

5.1.3 Atuação do SISAR – análise dos sistemas gerenciados

5.1.3.3 Tecnologias de tratamento e tipos de fonte de abastecimento

Os sistemas de abastecimento de água devem ser projetados, gerenciados e mantidos de forma a fornecer água tratada em conformidade com os parâmetros estabelecidos na Portaria nº 2.914/2011, do Ministério da Saúde. Ponte et al. (2013) ponderam, no entanto, que essa portaria trata das exigências aos sistemas e das

soluções alternativas coletivas de abastecimento de água para consumo humano de maneira bastante sucinta. Nessa portaria, em seu capítulo IV e artigo 24, o Ministério da Saúde apenas estabelece que “Toda água para consumo humano, fornecida coletivamente, deverá passar por processo de desinfecção ou cloração. As águas provenientes de manancial superficial devem ser submetidas a processo de filtração”. Essa exigência deixa muito a desejar no que se refere à seleção da tecnologia apropriada (PONTE, 2011).

Os sistemas gerenciados e mantidos pelo SISAR operam com as tecnologias de simples de desinfecção, filtração direta ascendente e tratamento convencional (CORTEZ, 2017), conforme mostrado na Figura 11.

Figura 11 - Tipos de tecnologias utilizadas para o tratamento de água pelo SISAR no estado do Ceará

Fonte: A Autora

As tecnologias utilizadas são escolhidas em razão do tipo de fonte utilizada para o abastecimento e da qualidade da água ali existente. De acordo com Mota (2012), as fontes utilizadas para o abastecimento de água podem ser do tipo superficial (rios, riachos, lagos, lagoas e reservatórios artificiais) ou subterrâneo (poços e olhos d’água, entre outros). O tratamento “Simples Desinfecção” é, no geral, aplicado para fontes de águas subterrâneas, que geralmente possibilitam um tratamento mais simplificado, enquanto a “Filtração Direta Ascendente” e o “Tratamento Convencional” ou “Ciclo Completo” são utilizados no tratamento de águas superficiais, que requerem maior grau de tratamento. A Figura 12 apresenta os tipos de fontes utilizadas para o abastecimento de água pelo SISAR.

Figura 12 - Tipos de fontes utilizadas para o abastecimento pelo SISAR no estado do Ceará

Fonte: A Autora

A partir da Figura 12, observa-se o predomínio da utilização de mananciais subterrâneos, que representam mais de 70% do total de fontes utilizadas. No geral, os mananciais subterrâneos ofertam águas de melhor qualidade em relação aos mananciais superficiais, o que torna o seu tratamento menos oneroso. Observa-se ainda a existência de um terceiro tipo de fonte de abastecimento de água, o injetamento, que tem sido uma alternativa para o abastecimento de água em localidades em que existem usuários com demanda de água, mas que não dispõem de mananciais para a captação. Assim, esse tipo de fonte consiste no literal injetamento de água tratada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE na rede de distribuição de água do SISAR. A Figura 13 apresenta os tipos de fontes utilizadas em cada uma das bacias do SISAR.

Figura 13 - Tipos de fontes utilizadas nas bacias do SISAR no estado do Ceará

Fonte: A Autora 26% 71% 3% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Superficial Subterrâneo Injetamento

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% BPA (Juazeiro do Norte)

BPA (Crateús) BME (Fortaleza) BBJ (Russas) BCL (Itapipoca) BBA (Quixadá) BAJ (Acopiara) BAC (Sobral)

Percentual de fontes de utilizadas para abastecimento

Superficial Subterrânea Injetamento

Em todas as bacias do SISAR há o predomínio da utilização de fontes subterrâneas, com destaque para os SISARs de Crateús e de Juazeiro do Norte. Da Figura 8, observa-se que a técnica de injetamento é utilizada nos SISARs BCL (Itapipoca), BBA (Quixadá), BSA (Juazeiro do Norte), BME (Fortaleza) e BPA (Acopiara), contemplado 9, 8, 7, 6 e 2 sistemas, respectivamente. Esses 32 sistemas juntos atendem a 44 localidades, com um total de 2.807 economias interligadas à rede de distribuição de água, beneficiando mais de 10 mil pessoas. O maior sistema que opera com injetamento de água da CAGECE é o sistema Catarina, instalado no município de Barreiras (SISAR da Bacia Metropolitana), para o atendimento das localidades de Catarina I (144 ligações) e Catarina II (113 ligações).

A Figura 14 apresenta dados sobre a salinidade da água bruta utilizada para o abastecimento das comunidades rurais atendidas pelo SISAR. A classificação da água quanto à salinidade é feita de acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005, que classifica as águas em doces, salobras e salinas. De acordo com Brasil (2005), águas doces são aquelas com salinidade igual ou inferior a 0,5‰, enquanto as águas salobras são aquelas com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30‰. Por fim, as águas salinas são aquelas com salinidade igual ou superior a 30‰ (BRASIL, 2005).

Figura 14 – Salinidade da água bruta utilizada nas bacias do SISAR no estado do Ceará

Fonte: A Autora

Verifica-se, a partir da Figura 14, o predomínio de sistemas que utilizam mananciais de águas doces (85,48%) em detrimento dos mananciais de água salobra (14,52%), não havendo uso de mananciais de águas salinas. Os sistemas

que utilizam mananciais de águas doces atendem a 89,7% da população beneficiada com os sistemas gerenciados pelo SISAR (501.483 pessoas), enquanto o percentual restante é atendido por sistemas que utilizam mananciais de águas salobras (64.171 pessoas). Ressalta-se que os SISARs BAJ (Acopiara), BCL (Itapipoca), BAC (Sobral) e BBA (Quixadá) concentram 75% dos sistemas que utilizam fontes de água salobras.

De acordo com o levantamento realizado nesta pesquisa, constata-se que nenhuma das Estações de Tratamento de Água – ETA gerenciadas pelo SISAR possui licença ambiental, no entanto a equipe técnica da Gerência de Saneamento Rural – GESAR (CAGECE) informou que, no mês de setembro de 2017, foram iniciadas as primeiras articulações com o órgão ambiental competente para a emissão das licenças ambientais. A Lei Estadual Complementar nº 162/2016 define que os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, inclusive rurais, devem ter seus processos de licenciamento priorizados pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE.

A Lei Estadual Complementar nº 162/2016 define ainda que todo serviço público de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no âmbito do estado do Ceará deverá submeter-se à regulação, com objetivo de estabelecer um regime de eficiência dos serviços públicos. Para Lucchesi (2017), a regulação é uma ferramenta importante, pois visa o atendimento dos interesses públicos, de modo a garantir segurança, preço justo e, principalmente, qualidade na oferta de produtos e de serviços ao usuário.

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará - ARCE é a autarquia responsável pela regulação dos serviços públicos de saneamento básico prestados no estado do Ceará. A ARCE exerce, dentre outras funções, a fiscalização direta em sistemas de abastecimento e o controle da qualidade da água. Até o presente momento, no entanto, não foram iniciadas as atividades da autarquia correspondentes ao exercício de regulação dos serviços prestados pelo SISAR. Conforme Ceará (2017), já estão sendo realizadas as primeiras articulações para a discussão da proposta de regulação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no meio rural, que deverá ocorrer em consonância com parâmetros estabelecidos em lei e com a realidade do saneamento rural no estado do Ceará. Acredita-se que a regulação possa produzir uma melhoria contínua nos serviços ofertados pelo SISAR.

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