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3 TV UNIVERSITÁRIA DO RN

3.4 TELEVISÃO PÚBLICA

Em maio de 2007, sociedade civil, representantes do poder público e especialistas da área participaram do I Fórum Nacional de TVs Públicas15. Ao mesmo tempo, o governo federal lançou a proposta de criação de uma televisão dessa natureza – inicialmente apontada como um canal do Poder Executivo, agora já concebida como uma fusão estratégica da estrutura dispersa existente.

Em 2007 acontece a criação da primeira experiência de TV pública no país – a TV Brasil da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Embora previsto no artigo 223 da Constituição de 1988 para ser complementar aos sistemas privado e estatal de radiodifusão, não havia, até então, sequer uma positivação legal do que seria um sistema público de televisão. (LIMA, 2010). Apesar de enfrentar a sistemática e impiedosa hostilidade do sistema privado comercial dominante e de seus aliados na mídia impressa, a TV pública vai aos poucos se consolidando e, espera-se, possa, no médio prazo, se transformar em referência de qualidade para a televisão brasileira.

Em abril de 2012 aconteceu o III Encontro do Comitê da Rede Pública de Televisão na sede da Empresa Brasil de Comunicação – EBC, em Brasília que contou com a participação de 27 integrantes da rede. O evento que discute, entre outros assuntos, os conceitos norteadores para coberturas em rede, os telejornais da TV Brasil e a utilização mais produtiva dos contratos de prestação de serviços jornalísticos, a apresentação das faixas e mudanças na grade nacional.

A Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP) é formada pelas TVs Educativas Estaduais, Educativas Privadas e Universitárias de todo o país. A EBC lidera a formação da Rede Pública. O Comitê de Rede é

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Este fórum aconteceu em Brasília, entre os dias 8 e 11 de maio de 2007, por iniciativa do Ministério da Cultura, num processo que mobilizou importantes segmentos desde setembro do ano anterior. Dentre as entidades participantes, destacaram-se a Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC), a Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), a Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM) e a Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (ASTRAL). Como resultado das discussões, foram produzidos dois cadernos de debates: o primeiro apresentando um diagnóstico do setor; o segundo, um relatório com os diversos aspectos que envolvem a implementação de uma rede pública de televisão no Brasil. O encontro também gerou uma carta que sintetiza os principais pontos em forma de manifesto.

formado por representes desses canais, que junto com a EBC definem as regras aplicadas aos integrantes da rede. Atualmente, 34 emissoras parceiras compõem a RNCP em 24 Capitais: Brasília, Rio de Janeiro,São Paulo e Maranhão (TV Brasil), TV Aldeia/Acre, TVE /AL, Funtec/AM, TVE/BA, TVE/CE, TVE/ES, TVU/GO, TVU/MT, TV Brasil Pantanal/MS, Rede Minas/MG, TVC/PA, TVU/PB, TVU/PE, TVPE (Detelpe), TVE/PI (Antares), TVU/RN, TVE/RS,TV Universitária (RR), TV Aperipê/SE, RedeSat /TO.

Ao abrir o primeiro dia do encontro o presidente da EBC, Nelson Breve, destacou o aumento da audiência como missão do grupo. “A nossa missão nunca estará completa se nós não alcançarmos a máxima audiência que pudermos para que tenhamos impacto na sociedade. A audiência é importante”. Breve apontou alguns indicadores que precisam ser estabelecidos entre os parceiros da rede, como a criação de um padrão público de qualidade, um modelo de financiamento menos dependente do Tesouro Nacional e um modelo institucional de fortalecimento da rede, lembrando que “o fortalecimento de um integrante implica o fortalecimento dos outros”.

A gerente de programação da TV CE, Yolanda Maria Fiúza, também apontou a importância da mediação da audiência como forma de alcançar o público. “A missão da TV Pública é ser educativa e cultural. Tem que ter conteúdo, mas tem que chegar mais perto da população e conquistar mais públicos. Temos que descobrir como fazer isso”.

Para o diretor-presidente do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Iderb), Pola Ribeiro, é importante a rede revelar as diversidades regionais e se tornar conhecida. “Nós temos que aprender a nos divulgar, explicar ao público quem somos, que somos parceiros”.

Nesta tese consideramos que a TVU RN uma TV educativa e pública, pois a televisão no Brasil, assim como o Rádio e outros meios de comunicação, é uma concessão do Estado e, portanto, um serviço público. Entretanto alguns autores com Bucci (2011) defendem que não existe no Brasil uma televisão pública na exata medida, se comparado com o exemplo europeu, pois não existe independência, seja ela política (ligada a governos) ou financeiros (dependente do mercado), princípio fundamental para uma TV pública.

A Europa de meados do século XX, onde ganhou concretude o projeto das emissoras públicas, ainda hoje nos serve de referência. Quando a social democracia europeia decidiu prover o serviço de radiodifusão (definido como serviço público em quase todos os países democráticos) por meio das redes públicas (não comerciais, portanto), o seu propósito era assegurar a proteção do debate público. Em termos habermasianos, que consolidam em forma de teoria essa visão, o projeto era assegurar que os atores convidados a atuar dialogicamente na esfera pública não estivessem (tão) expostos à colonização pelo capital ou mesmo pelo Estado. Com isso, o fluxo das notícias e os diálogos teriam como pressuposto a igualdade de condições de acesso à informação. (BUCCI, 2011, p.7)

Para Valente (2009) os meios públicos poderiam garantir a expressão do universal por intermédio do debate de ideias entre opiniões diversas sobre cada tema. Esse ponto de vista se fundamenta no conceito de esfera pública cunhado por Habermas (2003) que define tal conceito como a reunião de privados em um público que, a partir do uso da razão, discutem temas de interesse comum, formando uma opinião sobre estes.

As condições para a esfera pública seriam a publicidade, como a divulgação pública das informações necessárias ao debate dos temas na esfera, e o debate racional, como o meio de garantir que a opinião pública resultante de discussão fosse a expressão não do conflito de interesse particulares, mas da síntese de argumentos com vistas na constituição de uma posição identificada com o interesse geral. (VALENTE, 2009, p.36).

Conforme Valente (2009) o principal motivador do surgimento de um conjunto de televisões públicas foi a demanda por educação em um país que experimentava uma industrialização acelerada, para a qual havia carência de mão de obra qualificada em um cenário de crescimento do contingente populacional. Isso levou o governo militar a promover a criação das TVs Educativas, o que se deu tanto por meio de regulamentação dessa modalidade de radiodifusão pelo Decreto-lei no. 236, de 1967, quanto pela

criação, no mesmo ano, de um órgão voltado ao fomento de programação educativa, a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTVE).

A Constituição Federal, no artigo 223, determina que a radiodifusão deve observar a "complementaridade dos sistemas público, estatal e privado", mas até hoje, como é reiterado constantemente nas discussões a respeito, esse e outros dispositivos da Carta Magna não foram regulamentados. Em geral, na cultura dos legisladores e dos gestores públicos, não há clareza sobre o que diferenciaria o "sistema estatal" do "sistema público", não sendo difícil prever que a regulamentação desse dispositivo será no mínimo árdua, assim como a regulamentação do parágrafo 5 do artigo 220, que estabelece: "Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio". (BUCCI, 2011)