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Pai adapta-se à vontade da esposa

Embora se tenham notado posturas diferentes nos pais, foi evidente que em todos os casos estes se adaptavam à vontade da esposa. Apoiando o aleitamento, de forma mais ou menos activa, ou apoiando a suspensão do mesmo, o que se ressalvou foi o facto de os pais deste estudo não assumirem opinião contrária à esposa.

Apoia amamentação Papel pouco activo

Segundo Costa (2007), apesar de hoje em dia assistirmos a uma alteração do papel de pai, tornando-se este mais participativo e com voz activa no aleitamento, ainda são identificados homens/pais que não valorizam o apoio dado às esposas como forma de manutenção do aleitamento, pois acreditam que os cuidados com os filhos são responsabilidade exclusivamente das mulheres, mantendo-se à margem do processo. É como se permanecessem com resquícios da visão tradicional do papel de pai.

De facto, também no nosso estudo tivemos relatos de participantes cujos maridos, embora concordassem com a amamentação assumiram uma postura de algum modo afastada da experiência, atribuindo o foco desta à mãe:

“Recebi… ele disse que o leite era bom, mas que a iniciativa era minha, não sei quê… “ E 1 L147-148

“Mas depois à noite, no sofá, se eu estou a dar de mamar, ele está ali de roda, a ver, pronto, está acompanhando”E2 L60-61

Papel activo

Como já referimos, a classificação destas duas subcategorias baseou-se no apoio do pai ao aleitamento, assumindo ou não a responsabilidade de tarefas de cooperação para com a mãe, com o intuito de promover o sucesso do aleitamento materno. Assim, emergiram as seguintes sub-categorias: Colabora nas tarefas domésticas, Ajuda a colocar o bebé à mama, Colabora na utilização da bomba extractora de leite, Colabora nos cuidados à mama, Dá à criança biberão com leite materno.

Colabora nas tarefas domésticas

Como referem Levy e Bértolo (in Coutinho; 2009:34) os primeiros 15 dias de vida do bebé são fulcrais para que a lactação seja bem estabelecida. Durante este período é necessário que alguém substitua a mãe nas tarefas domésticas para que esta possa dedicar-se a tempo inteiro ao seu filho.

Também no estudo de Costa (2007) as pais desenvolveram mecanismos de participação: ajudavam nos afazeres domésticos, apoiavam a mulher, ajustaram e desenvolveram estratégias para as mudanças que os filhos provocaram nas suas vidas.

De facto, é bem evidente no relato que se segue a estreita relação entre a ajuda que o marido fornece e o prosseguimento da amamentação:

“Porque eu penso que se o meu marido não fosse assim, eu também não fazia o que eu faço. Se ele fosse assim um marido de não ajudar, não dava para tudo, não dava para tudo, porque isso [amamentar] também empata muito tempo (…) o meu marido, graças a Deus, sempre me ajudou. E isso é muito importante, eu já sou mãe de cinco, e se os maridos todos ajudassem, eu penso que era muito melhor.” E 6 L 121-129

“É preciso ter muita paciência e colaboração. (…) Evidentemente, o meu filho com oito anos na altura, o meu marido sempre ajudava, metia a máquina a lavar enquanto eu estava tirando o leite.

Quer dizer, tem é que ter colaboração em casa; se houver o marido (…) sempre tem que ter uma ajuda.” E1 L207-213

Ajuda a colocar o bebé à mama

“ (…) ele é que ia buscar a menina ao berço, punha na caminha comigo, se ela não queria pegar ele ajudava: ou levantava a blusa, ou tocava na menina, ele ajudou-me, ajudou-me (…) ele ajudava-me e levantava-se e às vezes ele próprio pegava na maminha e ajudava a pôr na boca da menina ” E 7 L 190-196

“ (…) quando ele via que a coisa não estava a correr bem ele vinha e dizia para levantar a maminha ou meter a almofada mais para o lado ou virar a menina (risos).” E 7 L 221-223

Colabora na utilização da bomba extractora de leite

“ (…) Fui eu mais o meu marido, e ele comigo, foi a gente os dois. Eu tive experimentando, depois a roda estava muito forte, puxava muito, doía-me, depois o marido tocou naquela rodinha mais para trás, e eu fui, fui, “ah Pedro, está bom”, que era o meu marido.” E 1 L240-243

“Ele ajudava… naquilo que ele podia, até como eu tirava com a bomba, às vezes eu cansava-me, e ele tirava, ele ajudava-me…” E 9 L 92-93

“Portanto, ele deu-me o apoio total a qualquer decisão que eu tomasse. E foi uma pessoa que até me ajudou a amamentar, porque ele pegava na bomba e nós dois é que tirávamos o leite, porque eu nem tinha forças para puxar o leite. Portanto ele é que puxou (…)”E 4 L 197-110

Colabora nos cuidados à mama

“Ah, ele nunca foi ao contrário, e ele ajudava...hummm, quando eu tinha dores no peito (…) E 5 L 42

“O que ele chegou muita vez então a fazer foi ir buscar gelo para pôr nas maminhas e ele punha, ele ajudou muito nesse sentido, mas eu acho que…(…)” E 7 L 215-217

Dá á criança biberão com leite materno

Embora o conteúdo do biberão fosse leite materno, esta não seria obviamente a melhor forma de procedimento. Como já referimos nesta análise, esta mãe raramente levava o bebé à mama, não sabemos se por falta de conhecimento, se por conveniência pessoal…

Contudo, embora o procedimento fosse questionável, a intenção do pai era de facto ajudar, como podemos comprovar nos excertos:

“Mas ajudou-me muito, e é assim… eu dava leite ao miúdo, tinha leite a mais, tirava, ele ia-me guardar no frigorifico. Às vezes eu estava a dormir, e estava o bebé a mamar, ele é que acordava, eu acordava depois, “olha o rapaz está a mamar”deixava-o arrotar, pronto foi um homem que sempre ajudou, que sempre colaborou (…)”E 1 L149- 152

“(…)como era muito leite, ele bebia, mas eu tirava com a bomba… o meu marido dava, porque aquilo tem uma parte que a gente vaza para o biberão e continua a tirar… Enquanto o meu marido dava ao miúdo, eu continuava a tirar dos dois peitos e guardava no frigorífico.” E 1 L180-183

Apoia suspensão da amamentação

Mais uma vez aqui verificamos uma adaptação do pai à vontade da esposa. Neste caso, a mãe queria suspender a amamentação, e o pai apoiou a decisão. Note-se contudo que este pai é o mesmo que, enquanto mãe amamentou, também a apoiou activamente, conforme podemos comprovar pelos registos descritos anteriormente.

Embora seja salutar este apoio incondicional, parece-nos que poderá estar por trás destas situações, algum sentimento quase de impotência por parte do pai: questionamo-nos até que ponto este não achará que estas decisões são unicamente da mãe, e que o seu papel é só apoiá-las sem oferecer resistência ou desagrado?

“ (…) e ele viu a situação que eu passei e ele é que me incentivou a dar o leite em pó. Ele ajudou-me e eu assim até podia descansar mais, portanto foi uma pessoa que sempre me apoiou em qualquer decisão que eu tomasse. “ E 4 L 110-112

“ (…) compreendeu muito bem a minha atitude de mudar o leite, porque ele próprio dizia-me que eu não estava bem.”E 4 L 119-120

Tema 7-A família e a amamentação

As mães referiram diversos membros da família como tendo um papel mais ou menos importante na amamentação. Contudo, foi notório o papel que as entrevistadas atribuíam à sua própria mãe. As opiniões das avós deste estudo divergiam, algumas a favor da amamentação dos meninos, outras notoriamente contra, apesar de na maioria dos casos, elas próprias terem amamentado. No caso das avós que manifestavam preferência pelo aleitamento artificial, esta prendia-se essencialmente por acharem que o leite artificial seria uma opção mais fácil e merecedora de menos esforço para a mãe, e por outro lado, por acreditarem que o leite de vaca e as papas introduzidos precocemente seriam sinónimo de maior crescimento físico do bebé.

Assim, e face à importância aparentemente atribuída às avós dos meninos, optamos nesta apresentação de dados por separa-las dos restantes elementos da família.

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