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É esta multidisciplinaridade que torna “ambiente” uma categoria difícil de definir - pois não tem uma editoria fixa como a maioria dos temas especializados. O seu afunilamento ajuda a definir o que deve ser considerado (ou não) um tópico ambiental.

Ricardo Garcia (2006) é um dos autores que alcançam esta afunilamento em “Sobre a Terra” (Printer Portuguesa), num capítulo em que lista quinze temas ambientais que são notícia: água, alterações climáticas, biodiversidade, direito do ambiente, energia, florestas, litoral, marés negras, ordenamento do território, poluição do ar, população, resíduos, ruído, substâncias perigosas e transgénicos.

Em “The Reporter’s Environmental Handbook” (West, Lewis, Greenberg, & Sachsman, 2003) são definidos os tópicos de ambiente que (na opinião dos autores) devem ser cobertos pelas notícias: poluição aérea, gestão de desperdício animal, biodiversidade, campos rurais, cancro, emergências químicas, armas químicas, saúde, irradiação de comida, alimentos geneticamente modificados, alterações climáticas, poluição, camada de ozono, pesticidas, crescimento populacional, saúde ambiental e qualidade de água.

Por cada autor ter um diferente conceito de que temáticas fazem parte de ambiente e pelas suas histórias poderem ter ângulos dúbios, é importante salientar que os assuntos a que se costuma atribuir o rótulo de ambiental têm na sua composição quatro elementos de destaque (Garcia, 2006):

-Risco. Qualquer modificação no ambiente envolve um efeito a posteriori que pode ser intenso, modesto, insignificante, positivo ou negativo. A atenção maior centra-se naquilo que pode representar um dano ou um benefício.

O risco é relativo e normalmente considera os impactos na humanidade, quer seja na sua saúde ou modo de vida em geral. Hoje em dia, riscos ambientais são compostos por eventos de larga escala e as suas ameaças potenciais irreversíveis para a vida humana,

como é o caso das alterações climáticas, poluição química em rios, entre outros (Cox, 2012).

O risco é possivelmente a característica mais importante na identificação de um tema de ambiente, já que é a sua ênfase (ou falta de) molda grande parte da perceção do público (West, Lewis, Greenberg, & Sachsman, 2003).

A comunicação de riscos pode servir três propósitos: informar o público ou comunidades locais de um risco ambiental, mudar comportamentos de risco (normalmente por parte de alguma instituição) ou assegurar aqueles expostos a um perigo que algum risco é (por vezes) aceitável (Cox, 2012).

Uma questão fundamental em reportar qualquer risco é decidir o quão arriscado algo é. Na opinião de West, Lewis, Greenber e Sachsman (2003: 11): “Grandes riscos merecem grandes histórias (...) e riscos pequenos histórias pequenas - ou não merecem histórias de todo.”22

Para os jornalistas, o risco importa quando uma situação tem um risco muito elevado e com probabilidade de grandes consequências. Situações de baixo risco são consideradas menos importantes e por isso não dignas de cobertura. A maioria dos profissionais jornalísticos não sabe como lidar com todos os graus de risco entre muito e pouco arriscado (Simon, Valenti, & Sachsman, 2010).

São as histórias de acontecimentos mais esporádicos e extraordinários que costumam ser transmitidas com maiores fatores de risco (Sachsman, Simon, & Valenti, 2004).

-Processos longos. Os temas ambientais estão na sua boa parte dos casos associados a processos morosos, o que não se encontra de acordo com o ciclo de 24 horas utilizado na produção noticiosa. Muitos problemas ambientais levam muito tempo a desenvolver, havendo frequentemente incertezas durante anos relativas a causas e efeitos de problemas ambientais (Cox, 2012).

-Incerteza científica. Dois biólogos da universidade de Stanford Paul Ehrlich e Anne H. Ehrlich (1996) disseram que uma das maiores ironias de ciências ambientais se prende com o facto de que a ciência em si nunca poder dar “provas absolutas, o que muitas pessoas que não compreendem ciência consideram que a sociedade necessita” (Cox, 2012, : 305).

No entanto, algo que pode mitigar a sensação de incerteza científica quando se escreve acerca de ambiente é o contexto. Corbett & Durfee (2004) demonstraram que uma maior contextualização em histórias científicas acerca do clima ajudava a mitigar controvérsia baseada em incerteza, junto do público.

-Complexidade técnica. A complexidade de certos assuntos poderá levar a retratos deficitários de alguns problemas mais difíceis de simplificar. Um desafio persistente em retratos mediático do ambiente tem sido a propensão para tratar os vários processos ambientais num só - o que salienta conflitos e debates onde pode haver concordância na ciência e nas políticas ambientais (Boykoff, 2009; Cox, 2012).

O maior desafio do jornalismo de ambiente é “ir para lá da comunicação de risco e atentar nas suas razões e efeitos à volta desses riscos, dando ao público ferramentas para ações que provoquem mudança junto dos agentes de risco” (Beling Loose & Camana, 2015: 131). As escolhas de um jornalista acerca de como representar os vários aspetos da ciência e política ambiental dependem não só da informação disponível, da sua interpretação e contexto. Adicionalmente, é importante salientar que nem todos os tópicos ambientais devem ser enquadrados de maneira igual, já que o nível de consenso na comunidade científica varia entre temas (Boykoff, 2009). Um estudo desenvolvido por Boykoff e Boykoff (2004) advertia os jornalistas da cautela na aplicação de imparcialidade ao reportarem alterações climáticas, já que não era correto dar o mesmo “tempo de antena” aos que negavam as mesmas - pois isto é algo que tem consenso científico garantido. Não só todas estas nuances, mas o facto de notícias de ambiente dizerem respeito a processos longos e complexos acaba por apresentar um entrave para que sejam produzidas (Cox, 2012).

No entanto, segundo Garcia (2006: 19), escrever sobre ambiente não difere muito de qualquer outra categoria especializada como política, economia, crime ou cultura já que os procedimentos básicos de recolha máxima de informação, confrontação de opiniões e busca do rigor informativo são idênticos. Histórias noticiosas acerca do ambiente são muitas vezes impulsionadas por eventos específicos ou por relatórios de entidades científicas, e tal como outros tópicos têm que competir com notícias de guerra, desemprego, terrorismo e outras notícias de última hora (Cox, 2012).

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