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Tema 2: Considerações da Professora de Libras acerca da Educação de

6.3 ANÁLISE DOS DADOS DA ENTREVISTA COM A DOCENTE DA DISCIPLINA DE

6.3.2 Tema 2: Considerações da Professora de Libras acerca da Educação de

Tendo em vista que objetivamos a busca de saberes, construídos ao longo da disciplina de Libras, que poderão contribuir com a prática dos futuros pedagogos, tanto como docentes quanto como gestores escolares, buscamos compreender as concepções da professora de Libras em relação à Educação Inclusiva de alunos surdos. Considerando que não há só a escola regular (classe comum) como alternativa educacional, perguntamos à professora de Libras, qual o sistema mais adequado à educação de alunos surdos, entre as modalidades: escola inclusiva (classe comum) ou escolas de surdos. Seu posicionamento foi o seguinte

“As políticas de inclusão têm sido bastante discutidas de modo geral pelo que tenho percebido. Mas falta o entendimento de que a proposta inclusiva é boa, porém deve-se considerar que a criança surda necessita estudar primeiro em uma escola de surdos para adquirir a primeira língua e se for para uma escola inclusiva não vai conseguir isso. A criança surda precisa formar sua identidade desde cedo, adquirir a primeira língua, a língua materna, o que vai se dar no contato com outros surdos, o que a escola regular não proporciona. Na escola de surdos ele terá outros surdos, vai adquirir a cultura, formar a sua identidade e irá se desenvolver. Em minha opinião, a partir da 5ª série, quando o surdo já tiver constituido sua identidade, sua cultura surda e tiver um bom conhecimento da língua

19 TER+ TENDÊNCIAS, INCLUSÃO... INCLUSÃO NÃO MAIS FOCO CERTO SURDO ENSINAR SURDO COMO

PASSADO COMEÇAR LIBRAS. HISTÓRIA LIBRAS FAZ-TEMPO+ COMO SURDO ESTUDAR, CULTURA SURD@ ESTUDAR CULTURA SURD@ LIBRAS MAIS [..] ADQUIRIR LINGUAGEM CRIANÇA SURD@ SIM. TER DESENVOLVER COMO ENSINAR CRIANÇA TER MUIT@ CONTEÚDO TER DIVERS@ MAIS FOCO SURD@.

portuguesa, sua segunda língua... Porque os professores na escola de surdos conhecem como ensinar a língua portuguesa como segunda língua para surdos. Então quando este aluno estiver preparado pode ir para uma escola regular, mas antes disso, se for muito pequeno não. Em minha opinião, sou mais a favor que estude em uma escola de surdos (PL).20

São poucas as pesquisas que relatam experiências ligadas à implementação de propostas realmente inclusivas de alunos surdos, no entanto são muitas as que relatam as dificuldades encontradas nesse processo. Na opinião de professores surdos, quase sempre a inclusão é vista como entrave, tal como se pode observar nas palavras de Rebouças (2009, p.64):

A proposta da inclusão de portadores de necessidades educativas especiais em classes regulares é louvável, mas funciona como exclusão linguística em muitos casos de alunos surdos incluídos sem o apoio de intérpretes e sem o uso de recursos visuais. Sem os apoios pedagógicos e tecnológicos necessários, os alunos surdos acabam excluídos da plena comunicação e da real participação.

A perspectiva que atribui à escola de surdos a função de preparar o aluno surdo para um contexto educacional e social mais complexo tem feito parte dos discursos que circulam na esfera da educação de surdos. Dorziat (2011, p.3) considera que:

A escola de surdos, desde cedo, é primordial. Nela, é possível criar um ambiente linguístico que não se restrinja à comunicação surdo- intérprete ou surdo-professor, mas que dê oportunidade de uma comunicação fluente, viva e natural, entre os colegas, o professor e os surdos mais velhos. A partir daí, não só a veiculação de todos os tipos de conteúdos curriculares se torna viável, como também a consolidação de uma forma particular de ver o mundo, a partir das informações visuais e da emergência de diferenças dentro da diferença. Esse é o critério para uma educação de fato. Sem ele, pode-se até vislumbrar alguma aquisição de informações, mas será mais uma maneira alienante, dentre as várias existentes, que a escola regular promove.

20AGORA POLÍTICA INCLUSÃO FALAR+ GERAL MUIT@ EU VER+ MAS FALTAR ENTENDER INCLUSÃO

BO@ MAS SURD@ PRECISAR PRIMEIRO FOCO ESTUDAR PRÓPRI@ SURD@ PORQUE SURD@ FALTAR ADQUIRIR PRIMEIR@ LÍNGUA SE INCLUSÃO, NÃO-ADIANTAR NÃO. PRECISAR SURD@ FORMAR IDENTIDADE SURD@ PEQUEN@ PRECISAR CONHECER PRIMEIR@ LÍNGUA ME@ MATERN@ PRIMEIR@ LÍNGUA CONHECER CONTATO SURD@ IX INCLUSÃO NÃO-TER IX TER TUDO SURD@, TER CULTURA TER FORMAR IDENTIDADE SURD@ DESENVOLVER. EU ACHAR, OPINIÃO ME@, 5ª-SÉRIE SURD@ PRONTO ADQUIRIR IDENTIDADE, CULTURA SURD@ EL@ SABER BEM PORTUGUÊS SEGUND@ ENSINAR JÁ PORQUE EL@ PROFESSOR@ CONHECER COMO ENSINAR SEGUND@ LÍNGUA SURD@ EL@ SURD@ TER PREPARAD@ EU PENSAR PRONT@ QUER, PODER INCLUSÃO, MAS ANTES PEQUEN@ COLOCAR INCLUSÃO NÃO. EU OPINIÃO MAIS ESCOLA SURD@.

As considerações feitas pela professora de Libras coincidem com as opiniões de alguns alunos já relatadas anteriormente e resgatadas neste contexto:

Acredito que o aluno deve aprender primeiro a comunicar-se em sinais para depois ser inserido nas salas de aula regulares (A4). Em escolas especiais até determinada idade, a partir da 5º série talvez sim (A5).

Ao indagarmos sobre a possibilidade de que a aprendizagem da Língua de Sinais aconteça dentro de uma escola de ensino regular, em classes comuns, a professora considera não existir tal possibilidade, tendo em vista que:

[...] o surdo fica muito isolado. Só ele no meio de vários ouvintes, como ele vai adquirir a língua de sinais se todos são ouvintes e não há pares surdos, se não tiver contato com outros surdos? Ele vai perceber que todo mundo é diferente dele e vai pensar: porque eu sou diferente de todos? Não vai conseguir estabelecer um contato efetivo. Eu acho que nas cidades de pequeno porte, onde não há escolas para surdos, o que acontece muito, a inclusão é uma alternativa, mas de qualquer forma o surdo ainda perde um pouco. Ele cresce inseguro, parece que não tem uma base sólida. Não irá dominar muito bem a língua de sinais, entre outras coisas (PL).21

A questão do isolamento do surdo em função de não conviver com outros surdos na escola regular parece ser uma das principais preocupações quando se pensa em incluir um aluno surdo em contextos educacionais inclusivos. Todavia, as experiências que têm sido realizadas com bons resultados em termos de educação inclusiva para alunos surdos se preocupam em colocar mais de um aluno surdo em sala de aula entre os demais ouvintes.

Essas experiências parecem ser pouco divulgadas, prevalecendo experiências de fracasso, de casos isolados de surdos inseridos no ensino regular sem os recursos necessários.

Perguntamos, também à professora de Libras, se conhecia alguma experiência de inclusão de alunos surdos em classes comuns e obtivemos a seguinte resposta:

Não. Só que já vi alguns depoimentos de ex-alunos surdos que

21 [...] SURD@ ISOLAD@ <UM-NO-MEIO-DE TODOS>CL, COMO SURD@ APRENDER OUVINTES+ EL@ EU

IGUAL NÃO-TER EUIGUAL FALTAR IGUAL CONTATO SURD@ NÃO-TER. EU VER+ MUNDO DIFERENTE PARECER PENSAR EU DIFERENTE POR QUÊ? CONTATO NEGATIVO. EU ACHAR CIDADE PEQUENA NÃO TER ESCOLA NÃO-TER MUIT@ ENTÃO INCLUSÃO, MAS TER PERDER+ CRESCER INSEGURANÇA FIRMEZA NÃO-TER CRESCER APRENDER LIBRAS MAIS-OU-MENOS PERDER MUIT@.

sempre estudaram em escolas regulares, mas que foram prejudicadas, não obtiveram resultados positivos. Só alguns surdos que têm algum resíduo auditivo (surdez moderada) conseguem acompanhar porque sentam perto do professor, falam bem, conhecem a língua portuguesa, nesse caso é possível, mas, surdos profundos... Desconheço (PL)22.

Esse relato, aliado à vivência pessoal e à trajetória profissional da professora de Libras, nos faz compreender sua posição em relação à inclusão de alunos surdos nas classes comuns.

Outra consideração necessária é a contextualização. Na cidade de Londrina, onde se passa toda a trajetória profissional da professora de Libras, há uma única escola de surdos, existente há mais de 50 anos. De acordo com informações do Núcleo Regional de Educação, atualmente a escola atende 99% dos alunos surdos da cidade, sendo que há apenas um aluno em classe comum com apoio de intérprete para um total de aproximadamente 100 alunos matriculados na referida escola de surdos.