• Nenhum resultado encontrado

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO DA APLICAÇÃO DO MODELO

7.1 AVALIAÇÃO DOS ARRANJOS ORGANIZACIONAIS DO ATELIÊ

7.2.1 Temas-relâmpago

Conforme descrito no capitulo 5, foi proposta a aplicação de exercícios com objetivos de desenvolvimento das capacidades projetuais. Dentre eles, o intitulado Tema-relâmpago tinha por finalidade o aprimoramento da expressão gráfica, resoluções rápidas, aperfeiçoamento da criatividade e melhora da auto-estima, quando o discente percebia sua capacidade em obter êxito nessas atividades acadêmicas. Desta maneira e de acordo com a proposta do modelo, foram aplicados os temas-relâmpago às sub-turmas de forma contínua e ininterrupta ao início do semestre letivo.

Conforme o intencionado, foi observado nos discentes certo nível de estresse mental decorrente das exigências solicitadas para a elaboração e execução dos trabalhos. Esta situação controlada, de modo a evitar a fadiga dos mesmos, foi atenuada à medida que os exercícios foram sendo executados no decorrer do cronograma, muito embora o grau de dificuldade e complexidade dos temas fosse ampliado gradativamente.

A elaboração das propostas projetuais por meio de representação gráfica manual, ou seja, sem o auxílio de instrumentos de computação, possibilitou aos discentes uma liberdade de expressão por vezes não experimentada ao longo do curso. Ao início da aplicação, parte dos discentes mostrou-se resistente ao método, considerando-se por vezes incapazes de elaborar desenhos manuais, demonstrando preconceito ou alegando não haver necessidade de desenvolver trabalhos manuais frente à existência de recursos tecnológicos. Esta postura foi revertida ao passar do tempo e de modo espontâneo, quando perceberam serem capazes de graficar e projetar de forma dinâmica, apontando soluções diferenciadas para o programa de necessidade solicitado.

Também quando tomaram consciência da importância e seriedade do exercício somado à possibilidade de desenvolver ou aprimorar a capacidade de se expressar por meio de croquis. Muitos dos discentes manifestaram ao final do semestre letivo, durante o seminário de avaliação, a satisfação em executar esses trabalhos, afirmando que o maior ganho foi quanto à segurança adquirida na elaboração de projetos. Esta segurança a que se referem os discentes, por certo colaborou para melhoria de suas auto-estima, qualidade difícil de ser mensurada, se é que é possível, porém de suma importância para o bom desempenho do futuro profissional uma vez que fomenta a boa vontade em participar, aprender e aperfeiçoar-se. A realização desta etapa dos exercícios acadêmicos teve por objetivo quebrar os paradigmas pré- estabelecidos pelos próprios discentes de que eram incapazes de elaborar propostas de projeto em um tempo reduzido por meio de desenhos manuais e com qualidade. Para a presente pesquisa, pode-se dizer que os pontos de maior ganho e importância a serem considerados foram:

- a melhor capacidade de compreensão do discente quanto ao problema sugerido, permitindo uma visão mais ampla do problema a ser solucionado de forma urgente;

- a rapidez de expressão da idéia inicial ou, em outros termos, do conceito. Este ponto foi considerado dos mais relevantes, pois de certo modo simulou algo corriqueiro na vida profissional seja no canteiro de obras, seja em ajustes junto ao cliente, quando da necessidade de apontar novas soluções para determinado problema;

- a melhor qualidade do traço ou desenho que, como dito anteriormente, é vinculado à idéia de bom arquiteto;

- a própria evolução do discente que se deu de forma satisfatória, quando percebe que a solução do projeto, realizada de forma rápida, é decorrente da melhor sintonia entre os processos mentais e a capacidade de expressar-se por meio do traço.

Posteriormente, durante o desenvolvimento da Proposta Projetual, segundo exercício do modelo, foi possível observar o reflexo positivo dos temas-relâmpago quando maior número de discentes buscou resolver problemas projetuais por meio de croquis. Este comportamento confirma o pensamento de Guillard (1999), quando afirma que, para o arquiteto, o desenho é um meio e não um fim. Ele deve ser capaz de expressar, em seus croquis, a particularidade de uma figura humana ou de um amanhecer, de tal modo a obter na memória e

no lápis, uma série de signos e símbolos que consigam sintetizar uma idéia espacial arquitetônica ou urbana. Também, deve ter domínio e conhecimento da construção de uma perspectiva, representação de árvores, vegetação e figuras humanas de tal modo a saber como ordená- las em uma folha de papel em branco.

Ainda, segundo o autor, quando determinada solução é copiada ou elaborada, esta é retida na memória com seus segredos e contribuições, passando a fazer parte do acervo estilístico de cada um (GUILLARD, 1999).

Uma das comprovações de maior importância, decorrente do desenvolvimento desses exercícios e que foram refletidas no decorrer do período letivo, diz respeito quanto à criatividade. Observou-se que os discentes apresentaram propostas com maiores possibilidades quanto às soluções propostas, sentindo-se mais a vontade para a concepção dos trabalhos projetuais em especial no que concerne à concepção do partido arquitetônico, ou em outras palavras, o conceito, o qual deve nortear o projeto. Isto colabora para desmistificar a teoria da criatividade ser um dom nato, pelo contrário pode ser desenvolvida.

A esse respeito concorda-se com Rio (1998, p.207), quando afirma que:

Não se trata de negar a criatividade no processo de projeto, mas de admitir que ela pode ser desenvolvida, “educada” pelo conhecimento, pelo treinamento e pela capacidade de compreensão dos fenômenos onde está imersa a arquitetura.

Embora a aplicação dos temas-relâmpago tenha sido considerada eficiente no contexto da proposta modelo, uma vez que houve aceitação por parte dos discentes e estes apresentaram aprimoramento quanto à capacidade de desenvolver os trabalhos tendo como resultado melhor qualidade de projeto, houveram dificuldades de cunho operacional que devem ser mencionadas.

A principal delas foi o grande número de trabalhos gerados. Considerando que foram aplicados seis temas-relâmpagos com limitação de duas pranchas tamanho A3 a um total de 54 discentes, o total de trabalhos a serem avaliados foi de 324 com 648 pranchas. Ou seja, uma carga de trabalho ao docente frente à necessidade de avaliação dos projetos. O cumprimento desta etapa foi possível mediante a participação dos pesquisadores colaboradores que organizaram os projetos e apontaram as principais qualidades e deficiências previamente, de acordo com a orientação do pesquisador principal. Após

esta pré-organização, ocorreram os debates entre a equipe e finalmente a composição da avaliação.

Em caso de adoção desse modelo de exercício, sugere-se a adoção da avaliação por meio de conceitos (A, B, C etc.), seguindo critérios pré-estabelecidos e definidos tão logo os trabalhos sejam finalizados pelos discentes. Isto porque, na eventualidade de haver apenas um docente na disciplina, sem auxílio de monitores ou de horário de preparo e correção de aulas, a proposta pode ser comprometida uma vez que o docente fica sujeito a uma carga de trabalho exacerbada.

Após aplicação e avaliação dos resultados, considera-se que o exercício atendeu às expectativas dado que os temas-relâmpagos contribuíram para o desenvolvimento das partes racional e cognitiva vinculadas aos dois lados do cérebro e, desta forma, para o melhor desenvolvimento na formação acadêmica quanto à disciplina de projeto.