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3. DURAÇÃO RAZOÁVEL COMO PRINCÍPIO DERIVADO DO ACESSO À

3.3. TEMPO COMO FATOR DE ACESSO À JUSTIÇA

Dentro dos obstáculos funcionais encontramos a demora como um dos maiores fatores impeditivos de acesso à justiça.43

Claro está que justiça tardia é justiça desmoralizada. A idéia do aceleramento do processo faz parte da própria essência do sistema capitalista que não permite a demora no cumprimento de suas obrigações, faz parte também da cultura da nossa sociedade que não aceita a estagnação temporal. A velocidade dos acontecimentos, das mudanças sociais traz à reboque o processo.

Por isso, o aceleramento do processo é uma exigência de ordem técnica (aproximação entre o fato gerador da demanda e o fornecimento da tutela jurisdicional)44, mas, sobretudo uma exigência social. A sociedade não aceita a demora, a perpetuação de situações.

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CORTÊS (2006: 85): “De nada adianta ir a juízo, se não há uma resposta do Poder Judiciário em tempo hábil e capaz de realizar os objetivos da jurisdição. Há obstáculos que devem ser rompidos e um deles é o da demora da prestação jurisdicional”

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Com esse pensamento LUCON (2007:368): “É papel do direito processual fazer atuar as normas substanciais do modo mais efetivo possível e no menor espaço de tempo. É senso comum que a efetividade do processo está estreitamente relacionada com o seu tempo de duração. Mais ainda: a efetividade do próprio direito material também depende da efetividade do processo. O processo, como método de solução dos conflitos, é dinâmico e, como conseqüência, encontra no fator tempo um de seus elementos característicos e naturais. Por isso, quando se pensa em efetividade, tem-se em mente um processo que cumpra o papel que lhe é destinado, qual seja, conceder a tutela a quem tiver razão, no menor tempo possível. Portanto, há uma estreita relação entre a efetividade da tutela jurisdicional e a duração temporal do processo, que afeta diretamente os interesses em jogo. A prestação jurisdicional intempestiva de nada ou pouco adianta para a parte que tem razão, constituindo verdadeira denegação de justiça; como efeito secundário e reflexo, a demora do processo desprestigia o Poder Judiciário e desvaloriza todos os envolvidos na realização do direito (juízes, promotores de justiça, procuradores e advogados). O processo com duração excessiva, além de ser fonte de angústia, tem efeitos sociais graves, já que as pessoas se vêem desestimuladas a cumprir a lei, quando sabem que outras a descumprem reiteradamente e obtêm manifestas vantagens, das mais diversas naturezas”.

Talvez essa seja a grande luta do processualista moderno, isto porque, quanto mais demorar a tutela jurisdicional, maior a probabilidade de a satisfação por ela proporcionada não ser completa. Cf. BEDAQUE (2006:118)

Importante desde já deixar consignado que a preocupação principal não é a demora do processo, visto sob o aspecto formal, prolação de sentença, julgamento, o problema central é a demora no fornecimento da tutela jurisdicional, ou seja, a demora na satisfação material da parte45.

O processo sempre exigirá tempo, entretanto, é necessário que este tempo não seja excessivo, não haja dilações indevidas, etc...

A minimização do fator tempo, bem como de todos os outros fatores, exige para tanto atuação de todas as ordens: legislativa, administrativa e judicial.

Para a eliminação de barreiras processuais inúteis e para criação de mecanismos mais eficientes é imprescindível a intervenção do Poder Legislativo. É ele um dos grandes responsáveis pelo “enxugamento” do tempo no processo, sem que haja a perda da segurança jurídica, necessária ao deslinde do problema. Desta forma, pode e deve o Poder Legislativo criar instrumentos, procedimentos que facilitem o acesso à justiça. É o que se pode observar com as recentes alterações no processo civil (nova sistemática do agravo, da

45 ALARCÓN (2005:34): “Inclui-se, de logo, nos parâmetros de durabilidade do processo, o tempo prudente e justo para que a decisão jurisdicional renda a eficácia esperada, ou seja, a razoabilidade se estende não ao tempo de afirmação do direito em litígio, senão à própria execução da decisão, à realização de seu conteúdo, à aplicação efetiva do direito”. Com o mesmo pensamento, ZANFERDINI (2003: 257): “O prazo razoável por ser avaliado seja separadamente para o processo de conhecimento de um lado e o executivo para o outro, seja na soma de ambos, permitindo avaliar a distancia de tempo entre o pedido de condenação e o provimento de satisfação”.

execução, informatização do processo judicial, etc..), que serão examinadas com mais detalhes em outro capítulo.

Da mesma maneira, cabe ao Judiciário, principalmente, através de mudança na mentalidade política e cultural a eliminação de fatores, barreiras que impedem o aceleramento do processo. A postura do Judiciário pode se refletir através de programas macros, a exemplo, do Movimento pela Conciliação, encabeçado pelo CNJ, que estimula o magistrado a buscar os meios de auto-composição, e, no Estado do Rio Grande do Norte, o programa pauta zero, programa de estímulo a redução, eliminação dos julgamentos pendentes. Ambos, com resultados extremamente satisfatórios. Há ainda atitudes individualizadas que podem ser repetidas por muitos e podem refletir numa mudança de postura, a exemplo, de despachos conclusivos, onde estão quase todos os direcionamentos do processo, evitando, desse modo, o retorno desnecessário dos autos ao magistrado, pautas de audiência flexíveis, onde é possível às partes irem quando tiverem interesse em fazer um acordo judicial, horários estendidos para o fornecimento de tutelas de urgência, sentenças uniformes, para os litígios de massa, dentre outros.

Administrativamente, o fator tempo pode ser alterado. A implementação de políticas voltadas ao robustecimento do Poder Judiciário, com a criação de mais juízos e o aparelhamento dos que já existem, apesar de necessitar de vontade política, através de um maior repasse de verbas orçamentárias, pode colocar em prática, por exemplo, o preceito encartado no inciso XIII, do artigo 93, da CF, estabelecendo uma proporcionalidade entre o número de juizes e a população e a demanda judicial. A concretização de tal preceito, sem sombra de dúvida, seria um importante passo para efetivação do amplo acesso à justiça.

Em resumo, para a concretização do preceito do acesso à justiça, faz-se necessário uma concatenação de vontades de todos os Poderes do Estado, Executivo, Legislativo, Judiciário. Sem essa integração completa destes Poderes, a eliminação ou minimização do fator impeditivo, ou seja, o tempo no processo torna-se impraticável46.

Assim, adianta muito pouco, por exemplo, a atuação constante do Poder Legislativo, criando mecanismos de facilitação da tutela jurisdicional, sem a colaboração do Poder Judiciário e Executivo, aparelhando os juízos. Da mesma forma, não adianta o aparelhamento do Judiciário se a mentalidade de grande parte dos seus membros está ainda arraigada a preceitos antiquados.

Há, repita-se, a necessidade e integração entre os Poderes para eliminação do fator impeditivo de acesso à justiça, que é o tempo excessivo do processo.

46 MENDES (2008: 500): “O reconhecimento de um direito subjetivo a um processo célere – ou com duração razoável – impõe ao Poder Público em geral e ao Poder Judiciário, em particular, a adoção de medidas destinadas a realizar esse objetivo. Nesse cenário, abre-se um campo institucional destinado ao planejamento, controle e fiscalização de políticas públicas de prestação jurisdicional que dizem respeito à própria legitimidade de intervenções estatais que importe, ao menos potencialmente, lesão ou ameaça a direitos fundamentais”