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Quid ergo est tempus? Si nemo ex me quaerat, scio, si quaerenti explicare velint, néscio.15

Agostinho de Hipona (400)

O dicionário, aliado inicial, aponta : tempo : medida de duração dos fenômenos da existência;/ duração : espaço de tempo que uma coisa dura. Substituindo termo a termo : tempo : medida do espaço de tempo dos fenômenos

da existência; duração : espaço da medida de duração que uma coisa dura. (??!!)

Falar sobre o tempo oscila entre falar trivialidades ou aproximar-se de heresias. Próximo tanto da banalidade do “sol ou chuva” como da assustadora eternidade, a frase de Santo Agostinho, tão citada e comentada, permanece com toda sua verdade : falar do, com ou sobre o tempo é simples e o fazemos cotidianamente; pensar sobre ele é tarefa complicada.

Mas o tempo, e a forma específica de compreender e usar o tempo, é o substrato de um conjunto muito amplo de conceitos do nosso cotidiano e “matéria prima” de um notável número de técnicas correntes : desde o cálculo dos juros do cheque especial ao urbanismo.

Categoria central na compreensão da vida e do pensamento, é natural que o tempo tenha sido preocupação permanente da filosofia. Natural também que, por causa dessa centralidade, a concepção do tempo esteja longe de uma visão unificada próxima de consenso.

Apresentaremos um ressumo, necessariamente esquemático, da visão de tempo da filosofia (e da física) antes de entrar nos aspectos de nosso específico interesse.

Aparentemente, a primeira problematização do tempo corresponde a Zenão, no século VI a.C, e a sua postulação sobre a impossibilidade lógica do movimento frente à infinita divisibilidade do tempo16. Heráclito, em contraposição aos eleatas, sustenta a tese da mobilidade e a multiplicidade do ser. Compreendendo a natureza como processo, a mobilidade e o tempo como estofo da realidade, o absoluto como vir-a-ser e unificação dos contrários.

Os gregos tinham duas palavras para o tempo : αιών e χρόνος sendo o primeiro “tempo da vida”, “duração da vida” e, a partir dai, “vida” ou “destino”. Já χρόνος tinha o significado de “duração do tempo” ou seja “tempo em todo o seu conjunto” ou mesmo “tempo infinito”. Esta diferença entre “parte do tempo” e “tempo geral” foi transformada depois, com a transformação do significado de

15 O que é, então, o tempo? Se ninguém me pergunta, sei. Se quem me pergunta quer uma explicação, não sei.

αιών em eternidade. Assim o entende Platão quando afirma que χρόνος – o tempo – é a imagem móvel de αιών – eternidade. Aristóteles teria transformado αιών em “idade do céu inteiro” e daí a “eternidade”. Assim, para Platão, o tempo é a imagem móvel de uma Presença que não passa, “imitação móvel da eternidade”. Deve levar-se em conta que para Platão a eternidade que é o “original” do tempo é uma idéia, mas uma idéia da qual se tem uma cópia imediata que é o perpétuo movimento circular das esferas celestes. Mas esse “tempo que imita a eternidade

se desenrola no círculo” ainda segundo Platão. O tempo é circular com o dia e as

estações que retornam.

Antes de Platão, Porfírio, interpretando os ensinamentos de Pitágoras afirmava que de acordo com certos períodos os seres recomeçam, assim como o próprio mundo, a sua vida anterior. É a idéia do “eterno retorno” de inspiração pitagórica que rege a concepção do tempo grego.17

Aristóteles procura a aproximação ao tempo sem submetê-lo a ser uma cópia ou sombra de uma “realidade verdadeira” servindo-se para tal conceito de movimento. Tempo e movimento percebem-se juntos, portanto, o tempo deve ser algo relacionado com o movimento; como não é o movimento, tem que ser o outro; isto é : o relacionado com o movimento. Como todo movimento somente faz sentido em relação ao um antes e um depois, para Aristóteles “o tempo é o

número (a medida) do movimento segundo o antes e o depois (o anterior e o posterior) (Phys., IV, II, 220 a). Esta relação de tempo e movimento é tão estreita

que torna-os interdefiníveis : medimos o tempo pelo movimento mas também medimos o movimento pelo tempo.

Plotino retoma a idéia de Platão e afirma que o tempo não pode ser somente número mas possui existência própria. Antes da medida, o tempo existe pois a alma vive no tempo; e este repousava no ser. O tempo é, para Plotino,

“prolongação sucessiva da vida da alma”.

A concepção cristã do tempo encontra-se explicitada nas Confissões de Santo Agostinho, ao qual nos referiremos posteriormente. Esta concepção, no entanto, transcende a sua época de tal forma que Husserl se expressa da seguinte maneira sobre ela:

“Os capítulos 13 e 28, do XI livro das Confissões, devem ainda hoje ser estudados a fundo por quem se ocupa com o problema do tempo. Pois, nessa matéria, a época moderna tão orgulhosa do seu saber, nada produziu de muito amplo e que vá muito além desse grande pensador, que se debateu seriamente com a dificuldade.” 18

Para Agostinho o tempo faz parte da eternidade; não é uma cópia ou corrupção daquela mas apenas uma parte constitutiva da criação, com começo e fim portanto. Uma concepção que rompe definitivamente com qualquer possibilidade de tempo circular do “eterno retorno”.

17 Não é difícil entender esta concepção de tempo circular numa cultura em que os ancestrais formam um conjunto com as deidades e que o sentimento da morte é relativizado por essa mediação.

Na idade moderna o tempo se “espacializa”, adota, aproximadamente, as características do espaço. Como ele, pode-se conceber a) como realidade em si mesma, b) como propriedade das coisas, e c) como uma relação. Destas três formas de concepção do espaço, a segunda – como propriedade das coisas – é a que teve menos possibilidade de adotar-se no tempo. O tempo como propriedade das coisas ajusta-se mais ao conceito de duração e portanto particulariza excessivamente a universalidade necessária ao tempo espacializado. Ficam as outras duas concepções que podem ser tratadas como “absolutista” e “relacional”. Estas posições foram assumidas, respectivamente, por Newton e Leibnitz. Para o primeiro “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e por sua

própria natureza, flui uniformemente sem relação com nada externo e se chama também duração”19; conceitua o tempo relativo apenas como medida sensível do tempo absoluto.

Este tempo que não cambia, pois o que cambia são as coisas no tempo invariável, configurará as coordenadas descritivas do mundo.

Para Leibnitz, ao contrário, assim como o espaço é uma ordem de coexistências, o tempo é uma ordem de sucessões. Retomando o conceito agostiniano, Leibnitz considera que sua concepção relacional é a única que permite que a imensidade de Deus seja independente do espaço e que a eternidade de Deus seja independente do tempo. Pois ambos conceitos são relações das coisas da criação.

Para Kant, espaço e tempo são as formas a priori que tornam possível a física e a matemática. O tempo é subjetivo, pois é possível a sua concepção sem acontecimentos sendo, no entanto, impossível conceber os acontecimentos interiores ou exteriores fora do tempo.

É importante, a esta altura da breve notícia sobre a concepção filosófica do tempo, indagar a concepção científica do mesmo, já que, ao dizer de Prigogine:

“Da mesma forma que a arte e a filosofia, a ciência é, antes de toda a experimentação, criadora de questões e significados. Tal como a filosofia, ela não poderá dizer-nos o que “é” o tempo, mas tal como a filosofia, a ciência tem como problema o tempo, a criação de uma coerência entre a nossa experiência mais íntima, que é a do tempo, e as nossas formas de descrever o mundo e nós próprios, que emergimos deste mundo.” (Prigogine e Stengers, 1990).

Copérnico, Galileu, Kepler e Newton constroem a ciência moderna que adquire no racionalismo de Descartes a sua formulação anti-historicista. Perspectiva na qual a res extensa e a res cogitans, coincidindo uma com a outra, tornam possível a ciência da natureza como ciência físico – matemática.

A concepção temporal desta ciência não agrega muita coisa à concepção aristotélica. O tempo permanece em tranqüilo matrimônio com o espaço como absolutos, indiferentes ao acontecer das coisas que neles se situam e desenvolvem.

Esta concepção traz, intrinsecamente, a noção da reversibilidade característica da dinâmica : o mundo funciona como uma máquina ou conjunto de

máquinas compostas de causas e efeitos que, em última instância, podem inverter-se logicamente tornando, o que era efeito, causa. A facilidade de um mundo explicável de forma físico-matemática pode então contrariar a mais evidente noção de irreversibilidade do tempo. É surpreendente que esta noção tenha dominado (se é que ainda não domina) durante tanto tempo a descrição mais prestigiosa ou prestigiada do mundo.

A irreversibilidade veio, cientificamente, na forma da segunda lei da termodinâmica com seu caráter pessimista descrito magistralmente por Borges.

“A primeira lei da termodinâmica declara que a energia do universo é constante; a segunda, que essa energia propende à incomunicação, à desordem, ainda que a quantidade total não decresce. Essa gradual desintegração das forças que compõem o universo é a entropia. Uma vez igualadas as diversas temperaturas, uma vez excluída (ou compensada) toda ação de um corpo sobre outro, o mundo será um fortuito concurso de átomos. No centro profundo das estrelas, esse difícil e mortal equilíbrio tem sido logrado. A força de intercâmbios o universo inteiro o alcançará e estará morno e morto.

A luz vai-se perdendo no calor; o universo minuto por minuto, se faz invisível. Se faz mais leve, também. Alguma vez já não será mais que calor : calor equilibrado, imóvel. Então, terá morto.” (Borges, 1974c)

A apavorante descrição de Borges foi enfrentada por Boltzman; em palavras de Prigogine:

“A situação com a qual Boltzmann se encontrou confrontado era profundamente dramática. Já dissemos que Boltzmann estava convencido de que compreender o universo é compreender o seu caráter histórico e de que a irreversibilidade definida pelo segundo princípio da termodinâmica tinha, por conseguinte, um sentido fundamental. Mas ele era também herdeiro da grande tradição dinâmica. E descobria que essa tradição entrava em conflito com toda a tentativa para dar um sentido intrínseco à ‹‹seta do tempo››”. (Prigogine e Stengers, 1990)p.34.

A solução que Boltzmann encontra para o seu drama é, do ponto de vista da própria ciência, curiosa, pois, de alguma forma, abdica de enfrentar, num mesmo universo, duas teorias que conflitam; cria então duas dimensões desse universo.

“Podemos escolher entre dois tipos de representação. Ou supomos que todo o universo está actualmente num estado muito improvável, ou então colocamos a hipótese de as eras que medem a duração desse estado improvável e a distância daqui a Sírio serem ínfimas, comparadas com a idade e a dimensão de todo o universo. Num tal universo, que, no seu conjunto, está em equilíbrio térmico, e portanto morto, regiões relativamente pequenas, com as dimensões da nossa galáxia (a que podemos chamar “mundos”), poderão afastar-se de maneira significativa do equilíbrio térmico durante intervalos de tempo relativamente curtos a essas escalas. Por entre esses mundos existirão alguns cujos estados têm probabilidade (isto é, entropia) crescente, assim como outros cujos estados têm probabilidades decrescentes. Mo meio de todo o universo, as duas direções do tempo não podem ser distinguidas, tal como no espaço não existe nem alto nem baixo...Parece- me que esta é a única maneira de considerar as coisas que nos permite compreender a validade da segunda lei e a morte térmica de cada mundo individual sem invocar uma mudança unidirecional de todo o universo de um estado inicial para um estado final.” 20

Como se sabe, o que Boltzmann não quer invocar é, hoje, teoria razoavelmente aceita como História do Tempo 21

Prigogine destaca o caráter platônico da física e a necessidade de superar este constrangimento da realidade à sua idealidade :

“Mas a física, desde Galileu até hoje, foi também guiada por um ideal de perfeição, aquele que Leibnitz baptizou com o nome de “princípio da razão suficiente”. Da mesma maneira que o círculo grego, a igualdade reversível entre causa e efeito constitui uma limitação quase invisível, fio condutor que leva da física galilaica à mecánica quântica e à relatividade, tal com o círculo leva de Ptolomeu a Copérnico. Kepler renovou o ideal de inteligibilidade da astronomia : ele ousou “quebrar o círculo” e criar a matemática que permite compreender os fenômenos que a astronomia tradicional apenas preservava. Quebrar o círculo da razão suficiente, criar uma linguagem matemática que torne inteligíveis os processos e os acontecimentos irreversíveis que a física tradicional apenas “preservava” por aproximações fenomenológicas : foi finalmente a esse desafio que um de nós foi conduzido devido ao seu interesse pela questão do tempo.” (Prigogine e Stengers, 1990)p.209-210.

A partir do estudo do tema da instabilidade do acontecimento, pode-se determinar que o acontecimento cria uma diferença entre o passado e o futuro, o que a razão suficiente dava como equivalentes. E, ainda, que o acontecimento é o produto inteligível de um passado do qual não podia ser deduzido. Ou seja, o acontecimento se abre para um futuro histórico onde se decidirá a insignificância ou o sentido das suas conseqüências.

No pensamento de Prigogine, tem uma grande influência o trabalho de Bergson, L’Evolution Créatrice. Trabalho que, inconformado com a ausência da direção do tempo na ciência, se propôs a criar, em contraposição àquela, um sistema de investigação tão preciso como o que guia a ciência para dar resposta ao “sentimento que temos da nossa evolução de todas as coisas numa duração pura”. De fato esse sistema não chegou a realizar-se, mas, Prigogine adota o princípio que o originou como motor para uma “outra” ciência que tome como ponto de partida a intuição da duração concreta.

A partir daí, para Prigogine a termodinâmica não é mais uma ciência utilitária mas uma ciência fundamental, onde se experimentam novas questões,

não mais dirigidas a objetos passivos e manipuláveis , mas antes a uma realidade susceptível de história, susceptível de nos permitir compreender o que a física tradicional julgava ilusório : a emergência do novo.

Cito, apenas a título de curiosidade, que, segundo Bachelard, a concepção de Bergson não se ajusta muito bem a emergência do novo, sendo esta a característica justamente da visão contraria de Roupnel (à qual Bachelard adere).

“Para M. Bergson, a verdadeira realidade do tempo é sua duração; o instante não é senão uma abstração, sem realidade alguma. Ele é imposto desde o exterior pela inteligência que não compreende o devir senão descobrindo os estados imóveis. Representaríamos bem, portanto, o tempo bergsoniano por uma reta negra, onde nós teríamos colocado, para simbolizar o instante como um nada, como um vazio fictício, um ponto branco.

Para M. Roupnel, a verdadeira realidade do tempo é o instante; a duração não é senão uma construção sem alguma realidade absoluta. Ela é feita desde o exterior, pela memória, potente de imaginação por excelência, que quer sonhar e reviver, mais não compreender. Nós representaríamos, portanto, muito bem o tempo roupneliano por uma reta branca, cheia de potência, de possibilidade, onde subitamente, como um acidente imprevisível, viria a se inscrever um ponto preto, símbolo de uma realidade opaca...”22

Pode-se dizer que, de alguma forma, Nietzche tinha intuído este caráter instantâneo do tempo.

“Observa o rebanho que pasta sob teus olhos : ele não sabe o que é ontem nem hoje, ele brinca, pasta, descansa, digere, brinca novamente, e assim da manhã à noite e dia após dia, estreitamente ligado ao seu prazer e seu desprazer amarrado ao instante e não conhecendo, por esta razão, nem melancolia nem desgosto. É um espetáculo sofrível para o homem que mira o animal do alto de sua humanidade, mas inveja, no entanto, sua felicidade – pois ele não deseja outra coisa que isso : viver como um animal, sem desgosto nem sofrimento, mas ele o deseja em vão, pois ele não o deseja como o animal. O homem pergunta um dia ao animal : “Por que não me falas da tua felicidade, por que ficas aí a me olhar?” O animal gostaria responder e lhe dizer : “Isso provêm de que esqueço imediatamente o que queria dizer” – mas ele esquece também esta resposta e fica mudo – e o homem se assombra.” 23

Uma nova situação emerge : do tempo filosófico e do tempo científico para o tempo histórico. Mas as contradições não terão acabado ainda, pois, dentro da história a concepção de tempo ainda estará sujeita a uma cosmologia determinada.

Após a breve e imperfeita notícia sobre a concepção filosófica e científica, a aproximação ao conceito tempo que se segue, tem a pretensão de aproximar-se criticamente da concepção de mundo que encerra.

22 “Pour M. Bergson, la vraie réalité du temps, c’est a durée ; l’instant n’est que’une abstraction, snas aucune réalité. Il est imposé de l’exterieur par l’inteligence que ne comprend le devenir que’en repérant des états immobiles. Nous représenterions donc assez bien le temps bergsonien par une droite noire, où nous aurions placé, pour symboliser l’instant comme un néant, comme un vide fictif, un point blanc.

Pour M. Roupnel, la vraie réalité du temps, c’est l’instant ; la durée n’est qu’une construction, sans aucune réalité absolue. Elle est faite de l’exterieur, par la memoire, puissance d’imagination par excellence, que veut réver et revivre, mais non pas comprendre. Nous représenterions donc assez bien le temps roupnelien par une droite blanche, tout entière en puissance, en possibilité, où soudain, comme un accident imprévisible, diendrait s’inscrire un point noir, symbole d’une opaque réalité...” (Bachelard, 1992). p. 25.

23 “Oberve le troupeau qui paît sous tes yeux : el ne sait ce qu’est hier ni augourd’hui, el gambade à nouveau, et ainsi du matin au soir et jour après jour, étroitement attaché par son plaisir et son deplaisir au piquet de l’instant, et ne connaissant pour cette raison ni mélancolie ni degout. C’est là un spectacle éprouvant pour l’homme, que regarde, lui, l’animal du haut de son humanité, mais envie néanmoins son bonheur – car il ne désier rien d’autre que cela : vivre comme un animal, sans dégout ni souffrance, mais el le désire en vin, car il ne le désire pas comme l’animal. L’homme demanda peut-être un jour à l’animal “<<Pourquoi ne me parles-tu pas de ton bonheur, pourquoi restes-tu là à me regarder?>> L’animal voulut répondre, et lui dire “<<Cela vient de ce que j’oublia aussi cette réponse, et resta muet – et l’homme de s’étonner” (Nietzsche, 1990). p. 95

O tempo da Providência: Santo Agostinho

Começar por Santo Agostinho parece normal : foi quem explicitou o conceito de tempo que rege o desenvolvimento do pensamento do mundo ocidental; quem separa a visão temporal do cristianismo daquela do judaísmo; afastadas do tempo circular do mundo helênico.

A separação entre o tempo judaico e o tempo cristão decorre do Novo Testamento : da presença de Cristo. Em palavras de Le Goff:

“Para os primeiros cristãos a eternidade não se opõe ao tempo, não é, como para Platão, por exemplo, “a ausência do tempo”. Para eles a eternidade não e mais que a dilatação do tempo ao infinito, a “sucessão infinita dos aiônes”, para usar um termo do Novo Testamento, tanto dos “espaços de tempo delimitados com precisão” como uma duração ilimitada e incalculável.” (...)

Em relação ao pensamento judaico, o Novo Testamento aporta, ou precisa, um novo dado. A aparição de Cristo, a realização da promessa, a Encarnação dão ao tempo uma dimensão histórica, ou melhor, um centro. Desde então, “desde a criação até Cristo, a história inteira do passado, tal como é relatada no Antigo Testamento, forma já parte da história da salvação”

(...)

Daí o fato de que o cristão deve, a um tempo, renunciar ao mundo, que não é mais que sua morada de trânsito, e optar por ele, aceitá-lo e transformá-lo, dado que é a oficina da história presente da salvação.” (Le Goff, 1983)p. 47-48.

Agostinho24, na sua prosa inigualável, coloca a questão da eternidade a partir da pergunta herética : Que fazia Deus antes de criar o mundo? Pergunta que, à época, encontrava a resposta : “preparava o inferno para quem faz este tipo de perguntas”25.

Mas eu digo, meu Deus, que sois o Criador de tudo, o que foi criado. Se pelo nome de “céu e terra” se compreendem todas as criaturas, não temo afirmar que antes de criardes o céu e a terra não fazíeis coisa alguma. Pois, se tivésseis feito alguma coisa, que poderia ser senão criatura vossa? Oxalá eu soubesse tudo o que me importa conhecer, como sei que Deus não fazia nenhuma criatura antes que se fizesse alguma criatura!”

(...)

Mas se a célere fantasia de alguém anda vagueando por tempos imaginários

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