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No entanto, um dado de relevo que sobressai do nosso estudo é que os jogadores apresentaram, em ambos os JR, valores médios da percentagem da FCmáx acima dos 90% (95% no jogo 3x3 e de 93% no jogo 6x6), passando mais
de 80% do tempo de jogo na Zona 4 (>90% FCmáx) de intensidade, ou seja,
dentro ou acima da zona alvo de intensidade (90-95% da FCmáx) de treino, que
Helgerud et al. (2001) julgam necessária para o aumento efectivo da aptidão aeróbia.
No que diz respeito à média da percentagem da FCmáx, foram observados
valores relativamente superiores aos encontrados por Little & Williams (2006) num estudo efectuado com jogadores profissionais (22,8±4,5 anos de idade), empregando vários JR, em que dois deles eram muito idênticos aos nossos (3x3 em espaço de 40x30m e 6x6 em espaço de 60x40m), nos quais a média da percentagem da FCmáx alcançada foi de 90,6% no jogo 3x3 e 87,5% no jogo
6x6.
No nosso entender, esta discrepância de valores entre os dois estudos está relacionada com o facto dos jogadores com maior experiência e de um nível competitivo mais elevado, apresentarem um superior conhecimento específico do jogo (Costa et al., 2002) factor este que, uma vez mais, associado à diferença de idade e maturidade das duas amostras, contribui de forma significativa para a variabilidade das capacidades funcionais dos jogadores (Vaeyens et al., 2006).
Deste modo, os resultados deste estudo indiciam claramente que os JR utilizados promoveram exigências fisiológicas elevadas, independentemente do JR utilizado, intercalando momentos de grande esforço com períodos de menor intensidade.
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Este tipo de esforço assemelha-se ao solicitado no jogo formal (Svensson & Drust, 2005), sobretudo nas suas fases mais intensas. Por este motivo, julgamos justificar-se a utilização (no treino) deste tipo de exercícios “mais próximos” da realidade do jogo que, além de contemplar o modelo de esforço associado, observam a sua natureza fundamental, referenciam-se pela lógica interna do jogo e são dirigidos em função da sua especificidade.
Sabendo que são exigidas respostas elevadas da FC durante o treino, para a melhoria efectiva da aptidão aeróbia nos jogadores de futebol (Helgerud et al., 2001; Impellizzeri et al., 2006), os resultados obtidos neste estudo sugerem que é passível a utilização de ambos os JR, se o objectivo for o aumento desta competência.
Pelo referido anteriormente, acreditamos que se forem aplicadas todas as características usadas nestes JR (utilização de GR, forte encorajamento verbal e existência de um elevado número de bolas que permita uma rápida reposição em jogo), os treinadores podem confiar na obtenção de um estímulo de treino adequado às exigências específicas do futebol.
Não residem dúvidas que os exercícios, por nós estudados, podem ser usados como substitutos de grande parte dos exercícios sem bola, normalmente desenvolvidos pelos treinadores para o treino da aptidão aeróbia, oferecendo em simultâneo o desenvolvimento da componente técnico-táctica.
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5 - CONCLUSÃO
Após a realização deste estudo, convictos de que acrescentamos informação útil para a concepção dos JR em futebol, apresentamos as principais conclusões:
Os JR 3x3 e 6x6 apresentaram diferenças significativas em relação aos ITT estudados.
A redução do número de jogadores no jogo promoveu, de forma significativa: a) Uma maior participação directa no jogo, atestada pelo aumento da
ocorrência dos ITT: tempo de posse de bola, número de intervenções no jogo, número de contactos na bola e passes certos;
b) Uma maior possibilidade de concretização, confirmada pela realização de um maior número de remates e golos;
c) A criação de um ambiente, extraordinariamente, motivador e mais adequado para a promoção da aprendizagem/treino do jogo, com jovens jogadores.
Os JR provocaram exigências fisiológicas elevadas, muito semelhantes às solicitadas pelo jogo formal, em jovens jogadores:
a) Não foram encontradas diferenças significativas relativamente ao tempo passado em cada zona de intensidade (excepto na zona 2); b) Os JR promoveram uma intensidade média acima dos 90% da FCmáx
durante mais de 80% do tempo de jogo;
c) Os JR promoveram um estímulo de treino adequado às exigências específicas do futebol, podendo ser utilizados para o aumento efectivo da aptidão aeróbia.
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Os resultados observados sugerem que as actividades que incluem um número mais reduzido de jogadores promovem um melhor treino das acções técnico- tácticas, mantendo um elevado nível de intensidade cardiovascular.
Os JR com menor número de jogadores estão mais adaptados às necessidades dos jovens jogadores, uma vez que promovem um maior envolvimento no jogo e, consequentemente, uma maior possibilidade de aprendizagem/treino das suas componentes.
Julgamos que seria extremamente pertinente, em trabalhos futuros, procurar explorar os efeitos da utilização de uma estrutura táctica neste tipo de exercícios, de forma a recolher informação relevante para a selecção de exercícios cada vez mais direccionados às competências dos jogadores e à forma específica de jogar das equipas.
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