• Nenhum resultado encontrado

TEMPO DE DESENVOLVIMENTO, RAZÃO SEXUAL E TAMANHO DOS ADULTOS

No documento CAMILA CRISTINA FERREIRA DA COSTA (páginas 78-88)

(HYMENOPTERA: POMPILIDAE) EM UMA ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DO LITORAL PARANAENSE

3.3 TEMPO DE DESENVOLVIMENTO, RAZÃO SEXUAL E TAMANHO DOS ADULTOS

Houve emergência de cinco fêmeas e três machos, a razão sexual foi de 1,7 fêmeas: 1 macho, mas não foi significativamente diferente da proporção 1:1. A diferença da largura máxima da cabeça entre machos e fêmeas não variou significativamente (p= 0,3618) (Tabela 1). Também não houve correlação entre tamanho da cabeça e a célula de cria (p= 0,4925).

Não foi determinado o tempo de duração entre oviposição e emergências dos adultos, no entanto o intervalo médio entre as coletas e emergência foi de 20 dias. Não houve registro de diapausa em fase de pré-pupa.

3.4 MORTALIDADE E INIMIGOS NATURAIS

De 19 células aprovisionadas, houve mortalidade em 11 delas (57,8%) sendo que em seis foram por morte desconhecida (31,6%), uma foi atacada por fungos (5,2%) e três por parasitoides (15,7%). Eulophidae sp. (Hymenoptera)

parasitou duas células (10,5%) e Photocryptus sp. (Hymenoptera:

Ichneumonidae) uma célula (5,2%). Um adulto não conseguiu quebrar o fechamento do ninho morrendo lá dentro (5,2%).

4. DISCUSSÃO

_____________________________________________________________

De maneira geral, a arquitetura do ninho de A. tarsatus, o material usado

para construção e o aprovisionamento, não se diferenciaram muito do que é encontrado para outras espécies do gênero (Krombein 1967; Zanette et al. 2004; Buschini et al. 2007). No entanto, diferenças na coloração dos ninhos de uma mesma espécie podem ocorrer, conforme observado neste estudo e

naquele realizado por Zanette et al. (2004) com A. militaris. Estes autores

também encontraram diferença na textura das células, o que relacionou com os diferentes tipos de barro coletados por esta espécie. Já no estudo realizado

por Buschini et al. (2007) com cinco espécies de Auplopus, a variação de cor

foi encontrada apenas entre os ninhos de espécies diferentes. Os ninhos com coloração distinta foram provenientes de áreas distantes entre si. A RNSM possui quatro tipos de solos, variando das cores de marrom escuro até cinza esbranquiçado (FGBPN 2011). Segundo Evans e Shimizu (1996) a distância

percorrida para a coleta de recursos em Auplopus é relativamente curta,

portanto a presença desta espécie em áreas com solos diferentes deve ter causado a diferença de coloração nas células.

Também podem ocorrer diferenças na arquitetura do ninho dependendo do diâmetro da cavidade utilizada, como foi observado neste trabalho e na

espécie Auplopus sp1 no estudo feito por Buschini et al. (2007). Além das

características de formato celular, foi observado que o comprimento das células

de A. tarsatus são inversamente proporcionais ao diâmetro da cavidade

(quanto menor o diâmetro, mais longa a célula). Este padrão também já foi

descrito para a espécie de vespa social Stenogaster concinna Van der Vecht,

que possui dois tipos de ninhos, um com células longas e estreitas e outros com células curtas e largas (Spradbery 1975; Turillazzi 2012). Vespas que nidificam em cavidades preexistentes, sofrem com a limitação de sítios de nidificação (Coville 1982) e também com a competição intra e interespecífica (Krombein 1967). Sugere-se que esta adaptação nas células seja útil para lidar com esses fatores, já que o alongamento celular proporciona um volume significativamente igual independente do diâmetro usado.

Os ninhos coletados neste estudo não apresentavam células intercalares

ou vestibulares, uma característica observada para outras espécies como: A.

militaris (Zanette et al. 2004), Auplopus caerulescens Dahlbom, 1843 e

Auplopus mellipes mellipes Say, 1836 (Krombein, 1967). Porém parece ser

uma característica variável dentro do gênero, pois células intercalares e vestibulares foram observadas em outras espécies (Buschini et al. 2007). Ainda não se sabe ao certo qual seria a função das células intercalares e vestibulares. Alguns autores propõem que estas estruturas atuam na defesa do ninho contra parasitoides, predadores ou contaminantes (Krombein 1967; Staab et al. 2014). No entanto, nem todas as espécies de vespas solitárias se beneficiam com as reduções de ataque de predadores e parasitoides (Asís et al. 2007).

A razão sexual de A. tarsatus não foi significativamente diferente da

proporção 1:1. Segundo Buschini e Bergamaschi (2014) a explicação mais aceita para proporção 1:1 é da Fisher (1930). Este modelo assume que quando machos e fêmeas são produzidos com gasto energético semelhante, a produção de ambos os sexos será proporcional. Isto possivelmente aconteceu com a espécie aqui estuda, logo que o volume das células e o tamanho dos adultos não foram significativamente diferentes entre machos e fêmeas.

Zanette et al. (2004) analisaram a razão sexual de A. militaris em relação às semanas, meses e anos, sendo que poucas vezes a razão sexual foi significativamente diferente de 1:1. Logo no trabalho de Buschini (2007), as

espécies Auplopus sp3 e Auplopus sp5 apresentaram razão sexual de 1:1,

entre as outras espécies a razão sexual variou.

A diapausa é uma importante adaptação para sobrevivência de muitas espécies insetos as mudanças sazonais (Nylin 2013). Este fenômeno pode ocorrer tanto nas fases larvais e de pupa, como em adultos (Nylin 2013). A

presença de diapausa em pré-pupas no gênero Auplopus é variável. Em

Auplopus mellipes Say os juvenis apresentam diapausa (Krombein 1967), já

em A. militaris (Zanette et al. 2004) como a espécie aqui estudada apresentam

diapausa nos adultos. No trabalho de Buschini et al. (2007) espécies coletadas na mesma localidade e ao mesmo tempo também apresentam variação. Mesmo a estratégia de diapausa em pré-pupa sendo a mais comum para vespas e abelhas, existem algumas exceções e às vezes pode ser variável dentro da mesma espécie (Steiner 1968; Aguiar e Garófalo 2004; Buschini e Wolff 2006; Buschini et al. 2007).

A taxa de parasistimo nos ninhos de A. tarsatus são altas, quando

comparados aos ninhos de Auplopus esmeraldus Banks (19% das células

parasitadas) (Kimsey 1980) e que A. militaris (28% das células parasitadas)

(Zanette et al. 2004). A porcentagem de células parasitadas nos ninhos de A.

tarsatus em nosso trabalho é o dobro da porcentagem das outras espécies

coletadas na mesmo período e região (observações pessoais). Vários fatores são responsáveis pelas variações na taxa de parasitismo, tais como aumento da riqueza e abundância de inimigos naturais de inimigos naturais e hospedeiros (Veddeler et al. 2010), resistência do casulo (Evans 1966 apud O’Neill 2001) e diferença na arquitetura do ninho para proteção (fechamentos

ou paredes fortes, células intercalares e vestibulares) (Krombein 1967; O’Neill

2001).

É importante ressaltar que Eulophidae sp não parasitou nenhuma outra espécie de vespas nesta mesma região no período de estudo. Os ninhos

comunais de Auplopus semialatus Dreisbach, na Costa Rica foram

(Diptera: Chloropidae) e Irenangelus eberhard Evans (Hymenoptera:

Pompilidae) (Wcislo et al. 1988). A. esmeraldus no Panamá teve células

atacadas por Ephuta sp (Hymenoptera: Mutillidae) e outros insetos (Kimsey

1980). Para o Brasil, na região sudoeste A. militaris teve células parasitadas

por Ephuta pocinga Casal (Hymenoptera: Mutillidae), Colpotrichia (Colpotrichia)

sp (Hymenoptera: Ichneumonidae) e Photocryptus sp, para região sul brasileira

Auplopus rufipes Banks foi parasitado por Caenochrysis armata Mocsáry

(Hymenoptera: Chrysididae), Photocryptus sp1 e Photocryptus sp2 (Nether

2014); a espécie Auplopus subaurarius Dreisbach por Polysphincta sp

(Hymenoptera: Ichneumonidae) (Iantas 2013). Espécies do gênero

Photocryptus Viereck parecem estar fortemente associadas às espécies

brasileiras de Auplopus, no entanto não há como afirmar que exista uma

especialização no grupo, pois espécies de Photocryptus também parasitam

outros gêneros de vespas e abelhas no Brasil (Iantas 2013; Nether 2014). Conclui-se que mesmo com o conhecimento limitado das espécies de

Auplopus, várias características deste gênero, principalmente de arquitetura,

desenvolvimento e razão sexual, são muito variáveis. Além disto, parece que estas variações não se restringem apenas as espécies diferentes, mas também

dentro das mesmas, como entrado na arquitetura do ninho A. tarsatus. Estas

informações são importantes para o entendimento bionômico, e também para possível auxilio na identificação de espécies.

REFERÊNCIAS

Aguiar CML, Garófalo CA (2004) Nesting biology of Centris (Hemisiella) tarsata

Smith (Hymenoptera, Apidae, Centridini). Rev Bras Zool 21:477–486. Asís JD, Benéitez A, Tormos J, et al. (2007) The significance of the vestibular

cell in trap nesting wasps (Hymenoptera: Crabronidae): Does its presence reduce mortality? J Insect Behav 20:289–305. doi: 10.1007/s10905-007-9080-5

Buschini M, Bergamaschi A (2014) Sex ratio and parental investment in

Trypoxylon (Trypargilum) agamemnon Richards (Hymenoptera,

Buschini MLT, Luz V, Basilio S (2007) Comparative aspects of the biology of

five Auplopus species (Hymenoptera; Pompilidae; Pepsinae) from Brazil. J

Zool Syst Evol Res 45:329–335. doi: 10.1111/j.1439-0469.2007.00407.x

Buschini MLT, Wolff LL (2006) Nesting biology of Centris (Hemisiella) tarsata

Smith in Southern Brazil (Hymenoptera, Apidae, Centridini). Braz J Biol 66:1091–1101.

Conservation International (2014) Hotspots. www.conservation.org. Accessed 4 Dec 2014

Coville RE (1982) Wasps of the genus Trypoxylon subgenus Trypargilum in

North America, 1st ed. Berkeley Univ Calif 147.

Dreisbach RR (1963) New species of spider wasps, genus Auplopus, from the

Americas South of the United States (Hymenoptera: Psammocharidae). Proc US Natl Museum Nat Hist 114::137– 211.

Evans HE, Shimizu A (1996) The evolution of nest building and communal nesting in Ageniellini (Insecta: Hymenoptera: Pompilidae). J Nat Hist 30:1633–1648. doi: 10.1080/00222939600770961

Fernández FC (2000) Avispas Cazadoras de Arañas

(Hymenoptera:Pompilidae) de la Región Neotropical. Biota comlombiana 1:3–24.

FGBPN (2011) Plano de Manejo da Reserva Natural Salto Morato –

Guaraqueçaba, PR. 222.

Gonçalves RB, Brandão CRF (2008) Diversidade de abelhas ( Hymenoptera , Apidae ) ao longo de um gradiente latitudinal na Mata Atlântica. Biota Netropical 8:

Gonzaga MM, Vasconsellos-Neto J (2006) Nesting characteristics and spiders

(Arachnida: Araneae) captured by Auplopus argutus (Hymenoptera:

Pompilidae) in an area of Atlantic Forest in Southeastern Brazil. Entomol News 117:281–287.

Goulet H, Huber JT (1993) Hymenoptera of the World: An identification guide to

families, 1a ed. 668.

Iantas J (2013) Estrutura da comunidade e redes tróficas de vespas e abelhas solitárias (Hymenoptera: Aculeata) em áreas de Mata Atlântica e de cultivos. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Biologia Evolutiva, Universidade Estadual do Centro-Oeste, 100 p.

Kimsey LS (1980) Notes on the biology of some Panamaniam Pompilidae, with a description of a communal nest (Hymenoptera). Pan-Pac Entomol 56:98– 100.

Krombein K (1967) Trap-nesting wasps and bees. Life-histories, nests and

associates. 1ª ed. Smithsonian Press, Washington, EUA. 570 p.

Myers N, Mittermeier RA, Mittermeier CG, et al. (2000) Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403:853–858.

Nether MC (2014) Diversidade e redes de interação de vespas e abelhas que nidificam em cavidades preexistentes: Efeito da modificação de habitats.Dissertação de mestrado. Programa de Biologia Evolutiva, Universidade Estadual do Centro-Oeste. 77p.

Nylin S (2013) Induction of diapause and seasonal morphs in butterflies and other insects: Knowns, unknowns and the challenge of integration. Physiol Entomol 38:96–104. doi: 10.1111/phen.12014

O’Neill K (2001) Solitary Wasps: Behavior and Natural History. 1ª ed. Cornell University Press, Ithaca, EUA. 406 p.

PMPMA (2001) Dossiê Mata Atlântica 2001. 270. R Development Core Team (2013) R.

Santos EF, Brandão CRF, Amarante STP (2004) Riqueza de Pompilidae (Hymenoptera: Vespidae) em áreas de Mata Atlântica ao longo de um gradiente latitudinal. 513.

Spradbery JP (1975) The biology of Stenogaster concinna Van Der Vecht with

comments on the phylogeny of Stenogastrinae (Hymenoptera: Vespidae). J Aust ent Soc 14:309–318.

Staab M, Ohl M, Zhu CD, Klein AM (2014) A unique nest-protection strategy in

a new species of spider wasp. PLoS One 9:1–8. doi:

10.1371/journal.pone.0101592

Steiner AL (1968) Behavioral interactions between Liris nigra Van der Linden

(Hymenoptera: Sphecidae) and Gryllulus domesticus L. (Orthoptera:

Gryllidae). Psyche (Stuttg) 75:256–273.

Turillazzi S (2012) The biology of hover wasps. 1a ed. Springer , Berlin,

Alemanha. 272 p.

Veddeler D, Tylianakis J, Tscharntke T, Klein A-M (2010) Natural enemy diversity reduces temporal variability in wasp but not bee parasitism. Oecologia 162:755–62. doi: 10.1007/s00442-009-1491-x

Wcislo WT, West-eberhard MJ, Eberhard WG (1988) Natural History and

Behavior of a Primitively Social Wasp, Auplopus semialatus, and Its

Zanette LRS, Soares L a., Pimenta HC, et al. (2004) Nesting biology and sex

ratios of Auplopus militaris (Lynch-Arribalzaga 1873) (Hymenoptera

Pompilidae)*. Trop Zool 17:145–154. doi:

TABELAS

Tabela 1. Arquitetura dos ninhos e adultos de Auplopus tarsatus em

ninhos-armadilha com diferentes diâmetros. Os valores indicam: média ± desvio padrão (número ninhos/células).

Arquitetura do Ninho Diâmetro do ninho

1,3 cm

𝑥̅ =4,20 ± 1,80 (n=5) Comprimento total do ninho

(cm) 1,0 cm 𝑥̅ =3,40 ± 2,68 (n=2) 0,7 cm 1,80 (n=1) 1,3 cm 𝑥̅ =3,25 ± 1,5 (n=5) Número médio de células de

cria (n) 1,0 cm 𝑥̅ =2,50 ± 2,12 (n=2) 0,7 cm 1 (n=1) 1,3 cm 𝑥̅ =0,91 ± 0,32 (n=13) Volume das células de cria

(cm³) 1,0 cm 𝑥̅ =0,69 ± 0,16 (n=5) 0,7 cm 0,51 (n=1) 1,3 cm 𝑥̅ =0,95 ± 0,42 (n=4) Volume das células de fêmeas

(cm³) 1,0 cm 0,89 (n=1) 0,7 cm --- 1,3 cm 𝑥̅ =0,82 ± 0,29 (n=4) Volume das células de

machos (cm³) 1,0 cm --- 0,7 cm --- 1,3 cm 𝑥̅ =2,5 ± 0,11 (n=4) Largura máxima das cabeças

das fêmeas (mm) 1,0 cm 2,2 (n=1) 0,7 cm --- 1,3 cm 𝑥̅ =2,25 ± 0,50 (n=2) Largura máxima das cabeças

dos machos (mm) 1,0 cm

2,00 (n=1) 0,7 cm

FIGURAS

Fig. 1. Variação sazonal no número de ninhos de Auplopus tarsatus obtidos

nos meses de agosto/2013 a abril/2014 e temperatura mensal em graus Celsius (ºC).

Fig.2. Ninhos de Auplopus tarsatus construídos em armadilhas de diferentes

diâmetros. (A) ninho-armadilha com 1,3 cm de diâmetro; (B) ninho-armadilha com 1,0 cm de diâmetro. Escala de 1 cm.

.

CAPÍTULO IV

BIOLOGIA DE NIDIFICAÇÃO DE Podium sp (HYMENOPTERA:

No documento CAMILA CRISTINA FERREIRA DA COSTA (páginas 78-88)

Documentos relacionados