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2.3 PROPOSTA DOS CARACTERES ESSENCIAIS PARA ESTUDO FENOMENOLÓGICO

2.3.5 O tempo e o espaço on-line

Algumas questões transformaram-se nitidamente com a pós-modernidade, uma delas é a noção de tempo e espaço. Todavia, o tempo não é imutável e fixo. As formas como sentimos o tempo acompanha as transformações das sociedades, pois o tempo sentido, vivido, experienciado e fundado pelo cotidiano representa diretamente as conformações sociais. Por isso, quanto mais intensas e aceleradas as atividades, o tempo se representa igualmente mais corrido e acelerado. A noção de tempo tem sofrido uma ressignificação nas sociedades contemporâneas. Uma certa mudança do sentido existencial é um dos efeitos da subjetivação gerada pelo tempo comprimido do século XXI, estreitando o sentido do tempo em relação ao futuro, de maneira que a vida fica resumida ao presente, em que tudo só faz sentido naquele momento (GIANNINI, 2012).

Definitivamente, a pós-modernidade se caracteriza por deter a corrida do tempo (MAFFESOLI, 2010d). Dessa forma, acompanha-se a contração do tempo e do espaço, que deixam de ter definições separadas, em que um torna-se o outro, tal como apontou Einstein ao dizer que o tempo é apenas a dimensão do espaço. Como exemplo, o ecossistema animal e

seus ritos também possuem sua própria dinâmica temporal. Assim, a cada sistema temporal o espaço muda (SANTOS, 2006). Podemos associar isso ao ritmo social atual do presenteísmo, ao representar-se no hedonismo, na procura do prazer e no agravamento do emocional e do sensível, e, por outro lado, na exacerbação da imagem. O lugar faz com que o tempo tome forma, e essa Era é marcada pela prevalência da forma. Ou seja, para Maffesoli (2010a, p. 229), “são, portanto, o tempo e a imagem que delimitam a natureza para criar o espaço que limitam o tempo para criar uma duração coletiva”. O espaço só tem sentido se for vivido com os outros, ele é tempo cristalizado. Essa proxemia da harmonia conflitual, o estar-junto, o consenso, o que se experimenta de perto e a experiência coletiva é que constituem a ética da estética (MAFFESOLI, 2010a).

O espaço social da pós-modernidade integra um território referente a uma materialidade mística. Tais como a tecnologia e a comunicação que possibilitam essa fusão entre o tempo e o espaço. Como sabemos, com a popularização crescente da internet nas rotinas cotidianas, uma parte da vida dos indivíduos passa a estar presente no espaço virtual, que tem a capacidade de aproximar culturas, idiomas e criar novas territorialidades simbólicas. As formas atuais de agregação social e os dispositivos de comunicação atuam como suporte para uma repaginação da forma como os indivíduos instituem as novas relações interpessoais. Corroborando, Maffesoli (2010a, p. 230) cita que “sem falar da aldeia global, é certo que o desenvolvimento tecnológico de ponta dá uma outra perspectiva do espaço social, uma perspectiva diferente do isolamento ou da gregariedade às quais estamos acostumados”.

Ao viver na Era pós-digital, como nomeia Longo (2014), liderada por computadores pessoais e celulares smart, utilizados com intensidade no cotidiano, o espaço virtual passou a ser um ambiente comum ao indivíduo, o qual o mantém conectado socialmente. Nesse sentido, as redes devem ser consideradas como a inscrição espacial da multiplicidade de gostos, de modos de vida, de paixões, de experiências, que fazem da sociedade o que é. A rede das redes cria malhas invisíveis de uma relação proxêmica. Esse espaço comum faz com que todos se influenciem dos mesmos valores, como consumidores de objetos ou laços simbólicos, idênticos para todos (MAFFESOLI, 2010a, p. 230-231). Esse modo tecnológico da sociedade pós-digital institui uma nova condição, uma nova dimensão espacial que insinua não só o desenvolvimento de processos culturais, mas também novas formas de vivência.

A dimensão de espaço, de natureza virtual que resulta na relação entre o homem e o computador configura o ciberespaço. Essa virtualização do espaço não interfere somente na natureza do espaço, pois também aumenta o sentido da presença, possibilitando uma nova área de experiências. Para viver essas experiências é preciso a conexão entre o mundo físico e o mundo virtual, do qual o intermediador é o computador, a internet, as interfaces e os aplicativos, que aumentam consideravelmente a conexão entre esses espaços. Assim, locutor e interlocutor estão virtualmente na mesma situação espaço-temporal. Em termos metafóricos, Maffesoli (2010a, p. 231) disserta que o “espaço que nos ocupa é um conjunto complexo constituído, ao mesmo tempo, pela materialidade das coisas (ruas, tráfego) e pela imaterialidade das imagens de diversas ordens. É o que faz desse conjunto uma ordem simbólica”. Por isso, o espaço não é possuir somente uma grandeza geometricamente compreensível, mas de maneira holista, simbólica, cujos componentes fazem uma comunicação que pode não ser verbal.

Os espaços são lugares emocionalmente vividos, pois um grupo se constitui a partir de um lugar e da força espiritual que há nele. Conforme abordou Maffesoli (2010a, p. 239), esse “gênio do lugar” acentua o ethos ligado a um espaço. Há uma ligação irreprimível e inquebrantável entre o prazer estético (a emoção comum) e a harmonia física e social (MAFFESOLI, 2010a). As transformações tecnológicas são responsáveis por transformar os hábitos e maneiras de viver da sociedade e interferem diretamente nas noções contemporâneas de tempo e espaço. Estamos num mundo no qual partilhamos tudo com todos, um mundo afetual e emocional cuja inscrição espacial, seja ela física ou virtual, é uma verdadeira memória coletiva. Cada espaço é possuidor de mística, uma força espiritual envolvente por meio de um formismo, que encerra e limita, cujo invólucro protetor fortalece a socialidade das tribos pós-modernas. O espaço pode, muitas vezes, garantir a continuidade social através de um espaço vivido em comum, onde as emoções, afetos e símbolos representam a vida coletiva em que esse espaço permite a identificação.