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4 A MODA DO FUTURO

4.3 O tempo x a moda

A moda, segundo Mesquita [2004] está sempre associada ao conceito de tempo. No final de Idade Média e do Renascimento, quando a noção de indivíduo passou a sobrepor à de coletividade religiosa, surgiu a ideia de moda. E a partir de tal momento, ela sempre foi efêmera, já que, perceber o tempo é perceber mudança.

As mudanças contabilizadas pelas décadas carregam uma imagem da moda que refletem aspectos sócio-cultural-econômico-tecnológicos e, ao mesmo tempo, carregam características estéticas singulares reconhecíveis quando reutilizadas e afirmadas pelo grupo inserido no mesmo espaço-tempo.

Mesquita [2004] sugere que no sistema da moda, podem-se destacar três vetores: esteticismo, individualidade e efemeridade. Ao referir-se a este último, remete-se necessariamente à ideia de tempo. Tempo no qual estamos acostumados a um máximo movimento num mínimo

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Os figurinos de filmes futuristas referem-se a um tempo não menos efêmero, porém ainda não ocorrido. Eles carregam dados individuais, que dizem respeito ao personagem e seu papel no enredo; estéticos, que podem negar o que já é conhecido ou misturá-los numa nova

concepção de futuro e efêmeros, pois, assim como nega um tempo anterior, pode também ser negado por um outro, sendo representante de um espaço-tempo específico.

Things to come [William Cameron Menzies_1936] são um exemplo dessa efemeridade, pois apresentam dois futuros: um situado 30 anos depois e outro 100 anos após o início da

narrativa do filme, e em cada um deles encontra-se elementos estético-visuais diferentes em seus figurinos.

Ao observar Barbarella [Roger Vadin_1968], por sua vez, percebem-se os traços individuais de sua personalidade na silhueta justa e no comprimento mini de seu figurino, os aspectos estéticos de sua época no uso de botas, meia-calça e materiais inusitados como plástico e placas de metal e, consequentemente, o caráter efêmero, pois, nas décadas seguintes, esses elementos visuais passam a representar um passado e não mais um futuro possível.

A percepção do tempo social [determinada pelas formas sociais de trabalho e mensurada pela tecnologia] e do tempo subjetivo [experiência pessoal, sensação de velocidade e passagem do tempo] determina modificações de várias naturezas na vida cotidiana. Esta cria paradigmas diferentes dos do passado e necessidades e situações nunca antes imaginadas. Sendo assim, é preciso se reinventar no novo contexto temporal, papel executado perfeitamente pelo cinema de ficção científica focado no futuro.

Na imagem cinematográfica, observamos fatos da vida dentro do tempo, organizados de acordo com o próprio modelo da vida e suas leis temporais. A ficção retrata vivências

psicológicas do tempo, esticando-o ou comprimindo-o de acordo com o contexto e não com o tempo do relógio.

A moda reflete os tempos, assim como a velocidade, o predomínio da imagem e a associação de estilo de vida ou atitude. A velocidade acelera, o ciclo da moda acelera, ou finge que o faz. A informação amplifica-se com a globalização de meios como o cinema.

Na atualidade, tudo é instantâneo e simultâneo, sem tempo para reflexão e na eterna sensação de não existir tempo para realizar todas as atividades, gerando um sentimento de incompetência e improdutividade agravado por ansiedades.

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Multiplicidade e pluralidade são termos pertinentes para descrever o tempo em que vivemos, de acordo com Mesquita [2004], já que não se pode mais determinar onde esta começa, onde termina e quem a faz. Mesmo quando se trata de um figurino projetado para o filme, é difícil dizer se este influencia os designers de sua contemporaneidade, ou se são influenciados por eles, podendo este também ser um movimento recíproco. Em não se sabendo se existe uma origem neste movimento, é possível, no entanto, perceber traços comuns entre eles, no que diz respeito à linguagem visual utilizada, que serão chamados aqui de comunalidades.

Além da multiplicidade, afirma Mesquita [2004], podem-se observar outras características que regem o funcionamento socioeconômico, artístico e cultural e estão intrínsecas à moda: simultaneidade, desmaterialização e simulação.

A overdose de estímulos, a hiperprodução e a hipervalorização da informação, a

tecnologização do cotidiano, a ausência e confusão de valores, a supervalorização da imagem, o desejo de mediatizar a vida e torná-la espetacularizada, a predominância do discurso em detrimento da mercadoria palpável e a falta de referências são algumas características dessa hiper-realidade.

A moda contemporânea traz certo excesso no mix de referências, no ecletismo e na falta de regras para o uso destas, porém, podemos observar algumas peculiaridades: o revival, revistos de maneira cada vez mais localizada, atualizadas e misturadas a novas referências e tecnologias gerando um outro conceito; o desejo de exclusividade e, contrariamente, o desejo de anonimato e indiferenciação, ocasionando correntes minimalistas na década de 90. No meio de tantas misturas e cruzamentos às vezes antagônicos, podemos captar uma ideia de tempo não linear, vários tempos convivendo no tempo presente, no passado ou futuro distante. O tempo perpassa por todas as coisas. O ser humano é dependente dessa ligação com o passado. Ao entrarmos num novo período, seja um novo ano letivo ou novo século, nos perguntamos como este vai ser, como se o tempo realmente existisse. Voltamo-nos então para épocas passadas em busca de segurança, de alguns valores seguros e de traços permanentes. A tendência pode ser apontada como solução de previsões futuras, ditando a imagem ideal e diminuindo a angústia pela incerteza com relação às mudanças. De acordo com Caldas [2004], a tendência forma um conceito construído ao longo do tempo a partir das necessidades da

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Vê-se então a ficção científica, através do design de seus cenários, objetos e figurinos, tentar profetizar, ou melhor, lançar tendências, gerando, por sua vez, soluções para as possíveis consequências e incertezas do futuro.

"A life without a cause is a life without effect" Dildano_Barbarella_1968

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CAPÍTULO 5_

O FIGURINO DE FILMES FUTURISTAS

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