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3.3 O produtivismo acadêmico na UFPA: O que dizem os docentes pesquisadores

3.3.2 Tempo para o desenvolvimento das atividades acumuladas

O indicador tempo se apresentou como um elemento com grande implicação para a consecução das atividades acadêmicas e científicas. Aqui, foram abordados pelos pesquisadores desde o tempo para as atividades previamente estabelecidas em seus planos de trabalho até o tempo de conclusão dos cursos de mestrado e doutorado.

Abordando a ausência ou a escassez de tempo para execução de suas ações de ensino, por conta do aumento da carga de trabalho, um pesquisador assim se expressa sobre o aumento da carga horária, a que ele atribui, também, o aumento gradativo de alunos na instituição:

Mas o trabalho de ensino, também, tem sido aumentado por conta do aumento do número de alunos, gradativo, que nós temos sofrido dentro das universidades federais. E nós não temos tido o mesmo avanço com o número de docentes contratados. Então, a carga, ela, de fato, tem aumentado, e obviamente, quem já fazia pesquisa, não vai parar de fazer pesquisa, entendeu? Tem que arrumar um tempo extra para fazer isso. Quem fazia

extensão não vai parar de fazer a sua extensão. Então, a carga horária, ela, de fato, aumentou. (PG 4. Grifo nosso).

Vale ressaltar que a extrapolação da carga horária, nesse sentido, não resulta em maior remuneração; isto é, o tempo “extra” usado pelos pesquisadores é um tempo que não se converte em vantagens financeiras e/ou vantagens salariais. E ainda, essas atribuições extras dificilmente serão contabilizadas na composição dos processos avaliativos a que um dado pesquisador venha a ser submetido.

Para Bosi (2007, p.1514), essa “dinâmica tem representado, na rotina do trabalho docente, não apenas uma assimilação desse padrão de produção (que em realidade é de produtividade), mas uma necessidade de criar as condições para a realização dessa produção [...]” (Grifo do autor). O atendimento às normatizações e exigências produtivas faz com que o pesquisador crie condições e possibilidades para manter sua produtividade acadêmica, e até aumentá-la, e isso implica a utilização de mais tempo.

E o tempo, nesse contexto, se torna insuficiente, como podemos constatar no relato abaixo.

Na verdade, a gente não tem tempo, né? Como dividir o tempo entre as atividades do mestrado, na administração, na graduação? Você tem compromissos particulares e tem que resolver – sabe? – tem que ir ao banco; e mesmo como pesquisador, não como professor, mas como pesquisador CNPq, eu tenho, agora que... Semana que vem, eu vou passar a semana toda em Brasília – eu sou do Comitê de Assessores da Odontologia do CNPq; então, agora, em setembro, eu [es] tive lá, fiquei uma semana, e agora, em novembro, fiquei uma semana. Então, praticamente, durante o ano, a gente vai lá três, quatro vezes a Brasília e fica lá uma semana, que é justamente no julgamento das solicitações de auxílios, bolsas, etc.. Ou seja, isso, no mês; você fica uma semana fora; então, o acúmulo dessas funções te prejudica. (PG 9. Grifos nossos).

As horas de trabalho necessárias para atender a todas as suas atribuições cotidianas são insuficientes, inclusive, extrapolam suas cargas horárias semanais e mensais, sem uma devida compensação financeira. Segundo o entendimento de um dos pesquisadores, para dar conta de todos os seus compromissos, existe a necessidade de um

[...] trabalho dobrado, você tem que trabalhar muito mais, entendeu? Então, em vez de dar um período de oito horas, você trabalha no mínimo doze horas por dia, entendeu. Para poder cumprir todas as tarefas que você tem que desempenhar. (PG 3).

Outro pesquisador ratifica esta necessidade de mais horas dizendo: “Eu vou dormir todo dia [à] 1h, 00h30, 1h, respondendo e-mail, estudando, preparando aula.” (PG 8).

Para esses pesquisadores, no entanto, essas muitas atribuições acadêmicas acabam por exigir um investimento de tempo que supera as exigências normativas e institucionais. Diz um deles:

O tempo não é suficiente! Nossa! A gente fica sempre, como eu uso o

termo, sempre “tentando apagar incêndio”... A gente não consegue... Eu faço lista, uma lista como tu estás vendo aqui, eu tenho uma lista: quando eu dou aula, tem os orientandos que vêm, como vêm. Aqui, tenho uma lista com tabela com todos os meus orientandos, quando têm que qualificar, quando eles têm que apresentar relatórios... Mas eu fico rezando pro orientando

ligar pra dizer “professora, hoje eu vou desmarcar”, porque, quando ele

desmarca, já tem outro que vai entrar na vez dele. Então, sempre, a gente

fica correndo contra o tempo. (PG 7. Grifos nossos).

Este relato demonstra a insuficiência de tempo para dar conta da demanda assumida, embora haja uma organização preliminar das atividades. A tensão constante para cumprir a agendas científicas e da docência, o atendimento aos orientandos têm se constituído em um desgaste mental e físico cotidiano para os docentes.

Essas demandas de tempo são necessárias para que se atendam aos requisitos reguladores institucionais, e isto concorre para intensificar a produtividade acadêmica, nos moldes exigidos pelos órgãos de avaliação e fomento, em uma corrida contínua por produtos. Para uma parte dos nossos entrevistados, a produção acadêmica se torna mais intensa porque ela está vinculada, atualmente, ao processo avaliativo que domina o espaço público de Educação Superior.

Toda essa tensão é produto de ajustes políticos e normatizações estatais, que alteram os procedimentos dos órgãos reguladores sobre as instituições públicas de ensino superior, resultando em uma cobrança acirrada de produção acadêmica – que exige tempo e cujos produtos são computados como quesitos quantitativos nos processos avaliativos que se espraiam neste nível de ensino. Essas exigências de produção acadêmica são tratadas a seguir.