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O conceito de tempo (Figura 73) tem relação com os aspectos da edificação que necessitam de alterações ao longo dos anos ou ainda que possam sofrer a ação do tempo. Nesse sentido é possível citar o conceito de adaptabilidade, diante da necessidade de ampliações, frente à demanda por um estabelecimento maior, bem como a durabilidade dos materiais especificados, considerando a manutenção que eles precisarão receber no futuro. Diante disso, são configurados dois importantes conceitos para a busca pelo padrão da UBS: a adaptabilidade e a durabilidade.

Figura 73 - Conceito de “tempo” para o projeto.

4.5.1 Adaptabilidade

Em arquitetura, a adaptabilidade é definida como a acomodação de um complexo arquitetônico para novo uso ou programa, mediante intervenções necessárias à nova função. Para Kronenburg (2004), a arquitetura deve estar projetada para reconhecer que a mudança é inevitável, permitindo que ela aconteça com o tempo. O autor defende que as construções adaptáveis existem para responder prontamente a diferentes funções, padrões de uso e necessidades específicas do usuário. Esta adaptabilidade também significa vislumbrar mudanças futuras que devem ser planejadas dentro da estrutura do edifício. Lamberts e Triana (2010, p.66)afirmam que os “projetos com fácil adaptação a mudanças futuras podem levar a um menor consumo e desperdício de materiais, e ao aumento da vida

Góes (2004, p.99) aponta alguns pontos que devem ser considerados na tomada de decisão diante das possibilidades de mudanças:

 Regularidade na modulação;

 Estandardização dos espaços e componentes construtivos;

 Partido Arquitetônico que demarque possíveis linhas de crescimento e facilitem o prolongamento de espaços e circulações;

 Possibilidade e facilidade para implantação e manutenção das instalações;  Usar, quando possível, paredes divisórias não estruturais;

 Agrupar por setores áreas de maior complexidade de instalações, separadas de outras de menor complexidade.

Scheneider e Till (2007, p.183) atentam ainda para os seguintes fatores a serem considerados nas futuras expansões: os acessos, nos quais deva ser possível a entrada futura através de um espaço de circulação já existente; a iluminação, verificando se existem aberturas suficientemente dimensionadas para quando a edificação estiver ampliada; a estrutura, prevendo aberturas ou fechamentos que precisarão ser executados e as instalações, prevendo a continuidade das já existentes. Assim, no projeto, o ideal é que haja a previsão das futuras alterações, contemplando as implicações nos sistemas estrutural, hidráulico e elétrico, coberturas, iluminação natural e ventilação dos ambientes a ampliar. Quando não planejada originalmente em projeto, a adaptação pode ser inviável tecnicamente ou ainda contribuir para a geração de desperdício de materiais de construção e aumento da quantidade de resíduos de construção e demolição, consistindo em um impacto negativo para o meio ambiente.

No projeto da UBS, a adaptabilidade se traduz na necessidade de previsão de mudanças na estrutura por um estabelecimento maior, determinado pelo crescimento populacional, tendo em vista que a Portaria 2.226 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009), contempla a existência de dois portes para a UBS. O Porte I abrange uma população de até 50 mil habitantes e o Porte II atende a partir de 50 mil habitantes. Diante da possibilidade de crescimento populacional das cidades, é natural que haja uma demanda por um estabelecimento maior, o que é citado na referida portaria através da recomendação de previsão de ampliação nos projetos. Um exemplo prático é o projeto da UBS Jardim Paulista, localizada em São Paulo, na qual o arquiteto Ricardo Corrêa destinou uma área não construída, externa, ao lado das salas de reunião e dos agentes, que comporta uma expansão futura.

Figura 74. Planta da UBS Jardim Paulista. Fonte:PESCARINI, 2011.

Para entender de que maneira as ampliações podem ocorrer na UBS padrão, foram desenvolvidos os conceitos de expansibilidade física e repetição modular. A Expansibilidade Física (Figura 75) consiste na possibilidade de ampliação de um determinado espaço através do aumento de área. Pode ser considerada para os ambientes que na expansão da UBS I para a UBS II aumentam apenas de tamanho, a exemplo da espera e da sala de reuniões. Já a Repetição Modular (Figura 76) consiste na ampliação através da repetição, em número, dos ambientes, como no caso dos consultórios médicos que se repetem e mantêm inalterada a sua área.

Figura 75 - Expansibilidade física de um ambiente.

Figura 76 - Repetição Modular.

Na Figura 77, o esquema mostra o conceito de adaptabilidade através da ampliação da edificação por meio da expansibilidade física, já que há o aumento de área, e por meio da repetição modular, já que módulos são repetidos para atender as necessidades de ampliação. Shneider e Till (2007, p. 183) mostram ainda que amplas fachadas retilíneas podem facilitar a ampliação da edificação.

Figura 77- Exemplo de ampliação de uma edificação, onde amplas fachadas facilitam adições nas ampliações horizontais.

Fonte: SCHNEIDER e TILL, 2007, p. 183

Outro exemplo interessante da adaptabilidade através da repetição modular é o projeto para um Centro de Telemedicina do Nepal, classificado em 4° lugar no concurso (Figura 78 e Figura 79). A configuração espacial do projeto foi pensada através de módulos independentes que se interconectam através de passarelas. Essa configuração em módulos isolados permite que novos módulos sejam adicionados sem, contudo, interferir na estrutura e instalações existentes, facilitando futuras ampliações. Faz-se necessário, apenas, a criação de um acesso à área ampliada através da interligação dos módulos. Outro exemplo de adaptabilidade é o projeto do condomínio residencial Quinta Monroy (Figura 80), no qual a ampliação das unidades é prevista antecipadamente e são realizadas no espaço existente entre as unidades (Figura 81).

Figura 78 - Módulos Agrupáveis.

Disponível em: www.openarchitecturenetwork.org

Figura 79 - Módulos interconectados por passarelas.

Disponível em: www.openarchitecturenetwork.org Figura 80 - Residencial Quinta Monroy. Iquique,

Chile. Projeto inicial: casas, 35m² e duplex, 25m².

Fonte: LAMBERTS E TRIANA, 2010, p. 66.

Figura 81- Projeto residencial Quinta Monroy. Iquique Chile. Possibilidade de expansão das casas pelos

moradores até 70m² e dos duplex até 72m².

No projeto para o edifício de escritórios Centraal Beheer (Figura 82 e Figura 83), o arquiteto Herman Hertzberger (1999) tomou como princípio básico um quadrado como unidade espacial (Figura 84), o qual, ainda que simples no sentido elementar mostra-se capaz de responder a diferentes requisitos espaciais de leiaute. Graças à sua polivalência, as unidades espaciais podem assumir outros programas guardando a capacidade de absorver mudanças. O projeto foi pensado, portanto, a partir de uma estrutura básica que se mantém fixa e permanente por todo o edifício, e por uma zona complementar variável. Outro aspecto importante no projeto de Hertzberger (1999) é a previsão de que a construção deva ser capaz de acomodar as adaptações internas, enquanto o edifício como um todo deve continuar funcionando durante todo o tempo. O arquiteto considera, portanto, que a adaptabilidade permanente é uma pré-condição de projeto.

Figura 82 - Edifício de escritórios Centraal Beheer, 1972.

Disponível em: http://www.ahh.nl

Figura 83 - Módulos elementares ocupados internamente no Centraal Beheer.

Disponível em: http://www.ahh.nl Figura 84 - Quadrado como unidade espacial que abriga vários programas.

Fonte: HERTZBERGER, 1999, p. 135.

Em decorrência das adaptações, tem-se uma modificação formal da edificação (Figura 85). Alterações em leiaute promovem uma reconfiguração interna dos ambientes, enquanto que as adições de área através da expansibilidade física ou repetição modular de elementos alteram a fachada. Essa relação entre os conceitos de tempo e forma deve ser considerada no momento de concepção do projeto, tendo em vista a importância de antever

Figura 85 - Modificação na forma da edificação devido à ampliações.

Fonte: SCHNEIDER e TILL, 2007, p. 169.

4.5.2 Durabilidade

Nessa dissertação, a durabilidade é entendida como um conceito que visa à utilização de materiais e sistemas construtivos duráveis que atendam ao intenso desgaste da edificação pública. Segundo Keeler e Burke (2010) a compreensão da durabilidade de um produto ou material envolve examinar sua vida útil prevista e compará-la com o prazo de garantia, tomando decisões específicas com base nesses parâmetros. Assim, é importante escolher os materiais que tenham pouco desgaste com a ação das intempéries (sol e chuva) e que necessitem de baixa manutenção. Uma solução que ajuda a promover a durabilidade da edificação é buscar proteger ao máximo os elementos que a compõem. A manutenção reduzida ou infreqüente está associada à durabilidade de um produto e a custos mais baixos ao longo de sua vida útil. Para o projeto da UBS padrão, a durabilidade será considerada principalmente no momento da especificação de materiais.