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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.4.1 Tempo de Retorno

Quando se busca analisar o processo de inundação é muito importante que se faça relação entre as ocorrências dos eventos com o intervalo de recorrência. Uma das alternativas mais eficientes apontadas na literatura é o tempo de retorno (TR), sendo amplamente utilizado para definição de sistemas de alerta e projetos de engenharia (PINTO et al., 1976; TUCCI e BERTONI, 2003; BAPTISTA et al., 2005; SANTOS, 2007).

A literatura relacionada ao mapeamento de áreas de risco, orienta os pesquisadores ao mínimo de 30 anos para estabelecer-se uma correta caracterização climática do fenômeno em interesse (TOMINAGA et al, 2015), ainda

são citadas diversas fórmulas matemáticas para o cálculo do TR, sendo uma das mais simples e utilizadas a proposta apresentada por Christofoletti (1981).

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Onde:

TR = Tempo de retorno.

N = Número de eventos considerados.

M = é o número de ordem (conforme o ranking) que representa a posição da cheia na escala organizada de todos os eventos ocorridos.

Porém, essa metodologia considera apenas um evento por ano, além de considerar a máxima do mesmo ano, independente do evento atingir o leito maior do rio, o que não acontece em anos de estiagem ou ainda “La niña” (WOLLMANN, 2008). Ademais, devido a escolha de um único evento por ano, é possível que anos com a presença de “El niño” forte, em que tradicionalmente ocorrem várias inundações, não sejam levados em consideração.

Além dessa metodologia, existe também a possibilidade de utilizar funções matemáticas como a distribuição de frequência e pela extração da equação de ajuste da reta (Figura 10), aplicando-se funções complexas utilizadas na hidrologia como Log-pearson³ (TUCCI e BERTONI,1985) e hipérbole exponencial modificada (KUREK, 2012), ou ainda funções mais simples como a logarítmica (PRINA, 2015).

Uma das vantagens da utilização de funções é a possibilidade da utilização da equação extraída para a projeção de TRs futuros como 100 e 500 anos. Porém é evidente que essa extrapolação pode ocorrer uma subestimação ou superestimação das cotas para o TR estimado, cabe ao profissional julgar se o resultado obtido é condizente com a realidade a campo.

A elaboração de critérios para escolha dos intervalos de tempo de retorno é uma importante fase do mapeamento do perigo, pois não há um consenso quanto aos intervalos a serem adotados (Tabela 1). Ao longo da pesquisa observou-se que valores de TR podem variar muito, de dois até 10.000 anos em países como a Holanda, sendo 100 anos um dos valores mais utilizados internacionalmente.

Figura 10 - Estimativa do TR pela função logarítmica.

Fonte: (PRINA, 2015, p. 89).

Tabela 1 – Diferentes Tempos de Retorno utilizados.

Países Classes de TR (anos)

Espanha 50/100/500

Bélgica 25/50/100

Itália 50/200/500

Áustria 30/100/300

Fonte: Adaptação de Sousa (2012).

2.5 VULNERABILIDADE

A segunda variável utilizada obrigatoriamente em mapeamentos de risco é a vulnerabilidade, a qual são atribuídos diferentes significados e maneiras de mensurá-la. Conforme Robaina (2008 p.11): “A vulnerabilidade de uma região a tais riscos depende de fatores diversos como a densidade populacional, a natureza dos seus bens tecnológicos e culturais [...]”.

Devido a dificuldade de obter-se dados sobre a população em risco afim de quantificar a vulnerabilidade, adotam-se dados disponíveis baseados na divisão por setores censitários, ou ainda através de trabalhos a campo baseados na subjetividade do especialista (TOMINAGA et al, 2015).

A respeito dessa tentativa de quantificação de variável tão abstrata, Robaina (2013, p.14) afirma:

“...o conceito de vulnerabilidade procura traduzir as consequências previsíveis, sobre o homem e a sociedade, de um fenômeno natural. Uma questão importante para definir o que é ser vulnerável, este estado do ser ou elemento, diz respeito à compreensão de que a vulnerabilidade é variável de acordo com as circunstâncias socioeconômicas dos elementos expostos ao evento. Sendo diferenciada dentro de um determinado país, região, estado e cidade, assim como em um assentamento urbano. ”

Dauphiné (2000) considera que a vulnerabilidade exprime o grau das consequências previsíveis geradas por um fenômeno natural e que podem afetar o alvo, em geral, causando-lhe a perda de seus bens materiais.

A escala da informação é uma das preocupações no mapeamento das informações ou tratamento do banco de dados. Na literatura, existe a possibilidade do detalhamento desde o mapeamento de “residência a residência” (PRINA, 2015), até mesmo a setorização, agrupando-se quadras ou conjuntos de residências com características comuns (MENEZES, 2014).

Portanto, adotou-se para a realização do mapeamento da vulnerabilidade, o conceito de potencial de perdas frente às inundações, avaliando-se os domicílios e a distribuição espacial das comunidades atingidas pela inundação na área urbana do município de Uruguaiana-RS.

2.6 RISCO

O maior avanço constitucional para futuros investimentos e a contratação de profissionais para prestar serviços voltados para o mapeamento de risco foi sem dúvida, aprovação da lei 12.608, de abril de 2012, a qual instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC e autorizou a criação de sistema de informação e monitoramento de desastres.

Os últimos anos no que se observa a nível federal, houve um avanço quanto ao investimento em órgãos públicos voltados para a pesquisa e o mapeamento de risco como IPT e CPRM. Dentre as iniciativas e politicas promovidas, destaca-se o Programa Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres do Governo

Federal (PPA 2012-2015), tendo como atribuição mapear áreas de risco geológico, classificadas como de muito alto e alto, relacionadas principalmente com movimentos de massa e inundações, em 821 municípios brasileiros prioritários (Figura 11).

Figura 11 - Mapa de municípios brasileiros mapeados a serviço da CPRM.

Fonte: CPRM, 2015. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Geologia-de- Engenharia-e-Riscos-Geologicos/Setorizacao-de-Riscos-Geologicos-4138.html. Acesso em 20 de Março de 2016.

Quanto ao risco a UN-ISDR (2004) define:

...Risco como a probabilidade de consequências prejudiciais, ou danos esperados (morte ferimentos a pessoas, prejuízos econômicos, etc.) resultantes da interação entre perigos naturais ou induzidos pela ação humana e as condições de vulnerabilidade.

No ano de 2009, o significado para risco foi reduzido para “ A combinação da probabilidade de um evento e suas consequências negativas” (UN-ISDR, 2009).

A avaliação do risco só é possível se uma população ou um indivíduo percebe-o e entende que poderá sofrer os seus efeitos em um futuro próximo. Em geral, correm-se riscos, que são assumidos, recusados, estimados, avaliados, calculados, o risco necessariamente interroga a geografia que se interessa pelas relações sociais e por suas traduções no espaço (VEYRET, 2007).

A prevenção e a proteção contra os riscos, de acordo com Veyret (2007, p. 27), “não podem ser compreendidas fora de uma dimensão temporal”. Logo, é necessário analisar-se os eventos fora da escala do cotidiano, além do tempo conhecido (ou vivido) pelo pesquisador.

Ao analisar-se o contexto histórico, deve-se ter a noção de memória coletiva ou individual, pode se dissipar e haver a falsa sensação de segurança em relação aos níveis extremos de inundações, quando ocorrem sucessivos anos de seca (TOMINAGA, 2007). É possível então, afirmar que a recorrência dos eventos extremos condiciona preocupação e cuidado na população, em relação à ocupação das áreas ribeirinhas.

Conforme o relato de Veyret (2007, p. 60), a realização do “zoneamento define os espaços em que há risco elevado, em que a ocupação deve ser regulamentada (às vezes, proibida)”, e outros em que o risco é menor ou mesmo está ausente. A realização do mapeamento do risco confere ao risco um caráter “objetivo”, com um significado para toda a população.

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