• Nenhum resultado encontrado

6 ANÁLISES E RESULTADOS

6.5 As categorias globais de análise

6.5.5 Tempo (TP)

O vocábulo tempo é definido por Aulete (2009, p.765) como “aquilo que é medido em horas, dias, meses ou anos; período; duração.”. Utilizamos este conceito para medir nossa ações e planejar nossas vidas. Em nossa intervenção na escola, durante as aulas de produção textual no laboratório, a categoria tempo (TP) emergiu de nossos dados, relacionada a um conjunto de fenômenos comuns às aulas fora do laboratório, como o tempo de realização das atividades

pelos alunos e o tempo didático, ou seja, o tempo utilizado pela professora, em sua aula, tendo como base seu planejamento.

A primeira noção de tempo, para a escola, está descrita pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. (LDB, Lei Nº 9.394/96 [art. 23])

A partir desta noção, de tempo administrativo, os alunos compreendem que o tempo pode favorecer uma evolução, como é o caso da educação básica ser seriada. Se eles estão cursando o 8o ano, é devido à sua evolução ocorrida no período de um ano, já que antes cursaram o 7o. O ano escolar é composto de etapas e, assim, a partir de uma organização baseada no tempo, temos avaliações parciais e globais. O tempo foi utilizado no momento de nosso planejamento, o que caracteriza a noção de tempo pedagógico a partir de mudanças ocorridas pelo uso e administração do tempo nas aulas no laboratório, as aulas foram modificadas e prazos ampliados.

Produzir um texto é uma atividade que demanda, além de organização, tempo. O tempo é necessário para que o aluno visite todas as etapas de sua produção, e possa sempre fazer movimentos flexíveis entre elas, caso necessite mais planejamento ou uma segunda editoração. Observamos que a ausência de letramento digital, em pesquisa e em informação, dificultou a sequência da aula planejada por nós, ocasionando mudança de curso durante a aula e extensão de prazos. Isso ocorreu logo na primeira atividade de produção textual, datada do dia 22 de agosto de 2017. Ao produzirem um texto autobiográfico, os alunos apresentaram dificuldades para manusear as ferramentas de edição de texto (online ou não), bem como para realizar pesquisas na Internet e selecionar informações relevantes para a elaboração de sua autobiografia, já que assumiriam o papel de um poeta de sua escolha. Esta atividade solicitou mais tempo dos alunos, denominado por nós de Tempo de Aquisição de Letramentos Específicos (TALE). Esse tempo é importante para que a produção textual ocorra em todas as suas etapas de forma fluida.

O TALE se insere na noção de tempo pedagógico, em que observamos sua organização objetivando melhor atividade do professor e dos alunos. Essa organização prescreve as ações a serem realizadas durante a aula, em que essas “prescrições não servem apenas como

desencadeadoras da ação do professor, sendo também constitutivas de sua atividade” (AMIGUES, 2004, p.42).

Uma vez que não há como controlar ou prever a existência de um movimento sincrônico entre o tempo que o(a) professor (a) leva para ensinar e o tempo que o(a) aluno(a) leva para aprender, o melhor a ser feito é reservar o planejamento da aula para eventuais mudanças, pois “ensinar não é fazer aprender imediata e instantaneamente” (SOUZA-SILVA, 2007, p. 93). No caso da produção textual e, mais amplamente, o que ocorreu com nossa intervenção, das aulas de língua portuguesa, no laboratório, temos que levar em consideração o TALE dos estudantes, pois sem isso, haverá dificuldades em se planejar ou realizar modificações na aula. Dado que a sala de aula é um ambiente heterogêneo, com alunos que possuem diferentes conhecimentos no que concerne à tecnologia digital, é importante reservar as primeiras aulas para que esse TALE seja utilizado como forma não somente de os alunos adquirirem letramento em pesquisa, digital e em informação, como também de compreenderem a importância das etapas predecessoras à tradução das ideias em palavras, ou seja, da escrita propriamente dita.

O TALE interfere diretamente no tempo didático, recurso utilizado pela professora da disciplina para planejar sua aula. Após observar que os alunos precisariam de mais tempo, a professora estendeu o prazo de entrega das duas produções textuais realizadas durante a intervenção. Dentro do conceito de tempo didático, a professora, em entrevista, descreveu o uso das tecnologias digitais para a produção textual como recurso que otimizou sua tarefa de correção. Como os alunos enviavam as atividades por e-mail, utilizando o google classroom, a professora recebia todas as produções previamente organizadas em uma pasta. De acordo com a professora, o trabalho de recolher as redações foi otimizado com a ferramenta, bem como a correção, que passou a ser realizada no computador e não mais manualmente.

A atividade de produção de texto pode ser considerada como um trabalho individual (ZABALA,1998). Esse tipo de trabalho tem como variável o grau de adaptação do aluno à atividade proposta, desta forma, o tempo (TP) deve ser levado em consideração no momento do planejamento.

O tempo (TP) interfere na produção textual, seja na sala de aula convencional, seja no laboratório de informática educativa (LIE). Ao interferir na produção no LIE, essa categoria atua como TALE, na etapa de planejamento da produção escrita, como também como tempo pedagógico durante a aula. Essa relação está descrita na figura 13.

Figura 13- A categoria tempo (TP) na produção textual no laboratório.

Fonte: elaborada pela autora

Esse movimento analítico nos leva à conclusão de que as cinco categorias, colaboração (CLB), engajamento (ENG), atenção (AT), pesquisa (PSQ) e tempo (TP), que emergiram de nosso procedimento de geração de dados, durante a intervenção nas aulas de produção textual, relacionam-se de forma harmônica com as quatro etapas de produção textual elencadas por Passarelli (2012): planejamento, tradução de ideias em palavras, revisão e reescrita e editoração. Algumas atuando diretamente sobre uma etapa específica, como foi o caso das categorias ENG, que surgiu em fenômenos presentes na etapa de editoração, CLB, que emergiu de ocorrências na etapa de tradução de ideias em palavras e PSQ e TP que foram oriundas de episódios na etapa de planejamento. A categoria AT percorreu todas as etapas de produção textual, apresentando fenômenos durante todo o processo de produção de texto no laboratório de informática.

Com o intuito de respondermos às perguntas que deram origem à nossa pesquisa, no capítulo seguinte, em nossas considerações finais, resgatamos cada uma das questões de pesquisa e discutimos os resultados previamente apresentados simultaneamente às análises, no presente capítulo.