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Tendências na organização do setor

2.7 Análise de tendências

2.7.1 Tendências na organização do setor

Estamos a viver uma das épocas particulares onde o avanço das tecnologias e as mudanças nas organizações estão a transformar a economia, a sociedade e a vida (Carvalho, 2010).

Segundo Lipovetsky (2011), a indústria do livro é uma economia cultural marcada por grandes lógicas: em primeiro lugar, é distinguida por um desenvolvimento oligopolista e um desequilíbrio de fluxos, com o domínio limitado de fusões de dimensão mundial que controlam a distribuição de produtos culturais. A maioria do comércio mundial de livros impressos está, de facto, em apenas treze países, os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental contribuem com dois terços deste mercado;

Em segundo lugar, a cultura metamorfoseada em setor comercial funciona cada vez mais como investimento financeiro, devendo obedecer à obrigação de retribuição do capital investido. Acena-se com a etiqueta de produto cultural, mas a lógica de mercado expande-se irresistivelmente em todos os ramos de atividade. O facto está aí: já não há oposição estrutural entre esfera cultural e esfera económica. Este tempo é dominado em todo o lado pelas lógicas financeiras e comerciais (Lipovetsky, 2011).

O surgimento das novas tecnologias na conceção de conteúdos, na impressão, na venda de livros influencia atividade editorial e livreira. A crescente relevância da leitura de conteúdos digitais em suportes digitais deixa antever transformações sucessivamente mais profundas no mundo do livro, envolvendo todos os seus elementos em todas as dimensões da cadeia de valor da edição. O contexto da edição digital permite concluir que o impacto – tanto em quantidade de utilizadores como no surgimento de novos elementos na cadeia e de novos modelos do negócio editorial – é de tal forma forte e

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irreversível que a adaptação de meios, métodos e processos de trabalho caminha no sentido da rápida transfiguração da atividade editorial e livreira. Embora com as mudanças que se anteveem, não signifique que o livro impresso em papel deixe de constituir uma componente insubstituível da atividade editorial; bem pelo contrário, e com a maior das probabilidades, continuará a constituir, por muito tempo, a sua parte mais substancial (Beja, 2012).

A vaga de fusões alterou a estrutura do mercado editorial, as editoras adquiriram espaços de retalho e aparecem as grandes livrarias. Uma consequência de um mercado dominado por grandes cadeias de livrarias, onde as janelas de oportunidade são pequenas para a maioria dos livros editados, o nível de devolução das livrarias e dos distribuidores aos editores aumenta em proporção. Para a maioria dos editores, a taxa de devoluções ronda os 30%, cerca de mais 5 pontos percentuais do que na década anterior. Ao regressarem aos armazéns dos editores, essas devoluções têm custos elevados para o editor, não só pelo tempo, espaço e dinheiro investido, mas também o trabalho despendido a empacotar e desempacotar livros nunca vendidos (Beja, 2012).

O que podem fazer os editores? Podem tentar melhorar as capacidades da cadeia de abastecimento para minimizar o impacto da incerteza própria deste mercado ou podem encontrar empresas de impressão mais rápidas para as segundas reimpressões, de modo a não terem de fazer a primeira edição tão grande, garantindo que o fornecimento das edições seguintes cheguem rapidamente aos livreiros (Thompson, 2010).

Uma outra tendência, que Thompson (2010) apelidou de “dançando com o inimigo” é a relação dos editores com os supermercados, grandes cadeias de livrarias e estações de serviço. Nas grandes cadeias de livrarias há compra de lugar nas montras, o desconto sobe até cerca de 50%, as tiragens de livros e de coleções são para venda exclusiva, com programas especiais dos editores apenas para essas grandes cadeias de livraria (Thompson, 2010).

Quanto aos supermercados, estes não têm pessoal (livreiro) especializado, o leitor não é atendido como leitor, mas como um vulgar comprador de supermercado. Os supermercados apenas irão ter disponível um pequeno número de títulos, os best-sellers. Estes procedimentos desvalorizam o produto livro enquanto promotor de cultura, tratam-no como algo efémero, debilitam os livreiros independentes que têm disponíveis os livros de fundo de catálogo e os best-sellers, com descontos normais. O maior custo para os editores é ficar com os livros não priorizados, que os supermercados e grandes

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cadeias de livrarias não querem nas prateleiras. A tendência é esta cadeia de valor do livro passar a ser disfuncional.

Nem só a estrutura da edição tem sofrido mudanças profundas, o setor de retalho tem sofrido uma verdadeira revolução. Os livreiros e distribuidores foram desde sempre os intermediários dos editores para o mercado. Também foram a montra que apresenta o

stock do editor ao consumidor final, dada a importância do setor de retalho para o

editor. As mudanças neste elemento da cadeia irão ter mais impacto nas atividades do editor. As mais importantes mudanças que caracterizam este setor desde 1980 é o crescimento das cadeias de grandes livrarias com o consequente declínio das livrarias independentes e o advento das livrarias online (Thompson, 2005).

As mudanças nas estratégias dos editores passa por reduzir custos, não só nas margens destinadas aos autores, como desintermediar alguns elos da cadeia, produzir livros em capa mole, brochada, imprimi-los em países asiáticos, efetuar tiragens de menor quantidade, promover o self publishing, pagando o autor a totalidade da edição, realizando vendas online, edição digital com entrega imediata ao leitor prescindindo dos restantes elos da cadeia.

O negócio do livro tornou-se cada vez mais vertical na tradicional cadeia do livro. As editoras adquirem direitos de edição, gráficas, livrarias. Este passa a ser um negócio a curto prazo em que os editores devotam o seu tempo aos best-sellers e esta mentalidade de curto prazo leva à abundância de má edição, de manuscritos encomendados devido a temas do momento, de escritores fantasmas, de celebridades- escritores. Os elementos da cadeia de valor, embora dependam uns dos outros, colidem entre si. Esta situação poderá originar numa implosão dentro da própria cadeia do livro e consequentemente um empobrecimento da cultura do livro.