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A transformação está na separação entre o casal, entre mãe e filhos e

outros familiares, e é percebida desde o momento da decisão pelo MC. A vivência

mostra, porém, o quanto a família sente a separação, uma vez que, em muitos casos,

é a primeira vez que se separam.

A mãe distante da família fica privada do convívio e das relações de

amor e afeto, sentindo-se carente. Refere saudade e queixa da ausência do esposo,

que muitas vezes tem dificuldades para ir ao hospital devido ao compromisso de

trabalho, à distância do local de moradia, às tarefas domésticas e ao cuidado com os

outros filhos.

Agora o lado ruim é ficar longe da família, saudade da família né... é ruim ficar trancada no hospital. E16

Então fica bem claro que os maridos precisam dar apoio a esposa de conversar, saber ouvir e saber também que a mulher é carente de tudo, não é só vim visitar e sair correndo. E11

Agora a queixa que eu fiz para foi essa, sentindo falta das meninas, da minha casa, sentindo falta de fazer as coisas, ficar só atoa aqui e sentindo falta dele também. E7

Por outro lado, a família também sente a separação. Em familiares

sentindo a ausência da mãe em casa a ausência materna gera dificuldades para

parentes idosos e dependentes, para o próprio esposo, que depende da esposa para

administrar o trabalho que realizam em conjunto, e ainda sobrecarga para aqueles

que tentam ajudar o casal durante a permanência no MC. Os filhos reclamam a

ausência constante da mãe e, em alguns casos, há necessidade de separá-los para

ficar com parentes próximos, levando-os a desejar muito o retorno materno.

A família fica esparramada e ele (filho) sente a falta dela. Pergunta pela mãe e quando ela liga lá em casa tem hora que ele não deixa a gente conversar no telefone. E9

A menina ficou na casa da sogra, as vezes ela reclamava porque eu tava fora o tempo todo...Ela não sentiu muito porque lá tem outras crianças, mas ela reclamava porque eu estava indo muito pra cá, para o hospital. E1

Para o meu filho, a separação para nós né, foi muito doloroso, eu fiquei hospitalizada 5 dias e vim pra cá direto sem vê-lo. Ficar no canguru é bom em prol do bebê porque a mãe faz tudo por um filho mas é doloroso essa separação. A família lá e a mãe no canguru dói muito. E11

Como conseqüência do isolamento materno no hospital, os filhos ficam

tristes, aborrecidos ou agitados, e até alteram o comportamento, dificultando a

missão de quem está cuidando deles na ausência da mãe. Mãe e filho sofrendo com a

separação mostra que a possibilidade de se relacionarem é restrita, pois as normas do

hospital não permitem um contato amplo e em tempo maior. Além da saudade, a

mãe se preocupa com o estado de saúde dos outros familiares, com as atividades

deles e com as queixas daqueles que assumiram suas atividades maternas. Essa

situação gera ansiedade e repercute na vivência da mãe no MC.

A mais velha falou: ‘Ó, mãe, que dia você vai trazer a E. (bebê) embora.’ A pequenininha fica é me chamando: ‘Mamãe, eu quero mamãe.’ Ela sente falta, né. Para mim ficar aqui – eu fiquei bem pesarosa – para mim está bem difícil, porque eu nunca tinha separado delas antes assim. É ficar preocupada né, com medo de sentir né, pequenininha ficar sentida... E7

Então, quando a gente chega num lugar desse a gente já chega um pouco tensa, e o que mais me afetou foi a saudade... saudade do meu filho, porque ele é muito ligado a mim, saudade da minha família. E11

Por outro lado, o esposo ou companheiro também vai sentindo a ausência

da esposa no lar, revelada através de um sentimento de tristeza mas, ao mesmo

tempo, de alegria: vê que o filho está bem tendo a mãe por perto. A ausência da

esposa no lar leva o esposo sentir-se solitário, principalmente se mantêm uma união

bem sólida de amor e amizade. O relato é de que ela faz falta, fica um vazio que o

deixa perdido sem saber o que fazer no dia a dia.

A gente sente sozinho. Às vezes eu sinto solitário, olho para um lado está vazio; olho para outro também está vazio dentro de casa. A gente sente solidão, principalmente se a gente gosta da esposa, né. E3

É em casa faz falta, principalmente no caso, nós somos muito amigos, unidos né, faz falta sim... A gente acostuma um brincando com o outro, e olho assim, cadê ela:... E5

Mesmo na solidão, o esposo tem consciência do que está se passando e

vive, reconhecendo que a ausência da esposa é pelo filho. Reconhece que tem de

estar juntos pelo desejo e compromisso de um para com o outro. Vê que é uma

situação provisória, que não é uma fase ruim, pois pode levá-lo ao aprendizado. Pela

luta que os casais empreenderam para ter o filho, o esposo reconhece a necessidade

do afastamento e da solidão pela ausência da esposa no lar.

É ruim porque ela está longe, mas em termos dela estar aqui com a menina para mim não tem problema, não acho dificuldade porque ela está com a menina...E6

...está sendo uma experiência muito...uma experiência assim... em parte é triste porque você chegar em casa e não vê sua família, sua esposa né e saber que seus filhos estão internados ainda no hospital é triste, mas tem a alegria de saber que eles estão bem, que cada dia vai caminhando pra melhor aí então é... é alegria dum lado e da outra uma certa tristeza também. E3

A experiência da família no MC também leva à interferência na vida do

casal como está indicado na categoria havendo cobrança entre o casal (Diagrama

13). A separação, às vezes, por um tempo considerável e o enfrentamento das

condições presentes na evolução do filho, nem sempre tranqüila, trazem algum

desconforto na relação entre os cônjuges.

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