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2.2 Fatores que Influenciam a RAA

2.2.1 Teor de Álcalis

O cimento é a principal fonte de álcalis do concreto, responsável pela ocorrência da RAA. Quando a solução alcalina entra em contato com os minerais reativos do agregado, ocorre a despolimerização da sílica presente nos mesmos, formando, assim, novos produtos de diferentes composições, como o gel. (CRUZ et al., 2004).

O sódio e o potássio, que compõem os álcalis do cimento, podem ser solúveis quando presentes nos sulfatos e insolúveis quando presentes nas fases sólidas do clínquer. (HASPARYK, 2011). Em primeiro lugar, a presença de álcalis provoca a precipitação da portlandita (Ca(OH)2), para equilibrar o aumento de álcalis e os íons

hidroxila. Com a alcalinidade elevada, aumenta a dissolução da sílica dos agregados reativos, que passa a estar disponível para reagir com os álcalis. Secundariamente, o sódio e o potássio reagem com a sílica dissolvida dos agregados e se precipitam na forma de um gel sílico-alcalino, conforme Equação 4. (ACI COMMITTEE 221, 1998).

Os óxidos de sódio e de potássio, podem ser correlacionados de acordo com a soma da porcentagem de Na2O mais 0,658 vezes a porcentagem de K2O,

conforme Equação 5, sendo que estes valores podem variar entre 0,20% e 1,80%. (VERONELLI, 1978). E é o que se denomina de equivalente alcalino.

Na2O equivalente = Na2O + 0,658 K2O Equação 5

A ASTM C150 (2018) sugere que quando do uso de agregados reativos ou potencialmente reativos, o teor máximo de álcalis do cimento seja de 0,6%. Conforme o ACI Committee 221 (1998), o teor de álcalis igual ou inferior à 0,6% geralmente é considerado insuficiente para causar danos, independentemente do potencial reativo do agregado. Entretanto, sabe-se que somente a limitação de 0,6% de teor de álcalis não assegura a ausência de reação expansiva, embora seja recomendada como ação preventiva.

Ao combinar um cimento com elevado teor de álcalis e um agregado inerte, Deschenes e Hale (2016) observaram que, ao longo do tempo, devido ao alto teor

de álcalis, algumas reações expansivas começaram a se formar com os minerais do agregado, até então, considerados inócuos. Desta forma, os autores citam que apenas a limitação de 0,6% de Na2O não garante a não ocorrência da RAA e

medidas adicionais devem ser previstas. Os autores verificaram ainda, através da análise da solução dos poros do concreto, que os álcalis solúveis diminuem à medida que a deterioração ocorre no concreto. Isso é explicado pela insolubilidade dos mesmos quando adsorvidos em produtos da reação e pela lixiviação de álcalis no concreto, devido à formação das fissuras.

Blight e Alexander (2011) salientam que o teor alcalino total do concreto é mais importante que somente o teor de álcalis do cimento. Para determinar o teor total de álcalis, segundo os autores, é preciso considerar o conteúdo de álcalis do cimento, o consumo de cimento e a quantidade de álcalis liberados durante o processo de hidratação, disponíveis para reação.

Levando em consideração o teor de álcalis, Oberholster, Van Aardt e Brandt4, (1983 apud Hasparyk, 1999 p. 67) analisaram o efeito das reações expansivas em função do teor de álcalis e do consumo de cimento por metro cúbico (Figura 7), estabelecendo os seguintes parâmetros para os agregados sul-africanos:

a) teor de álcalis solúveis maior que 3,8 kg/m³ desencadearam mecanismos de expansão;

b) teor de álcalis solúveis menor que 1,8 kg/m³ não desencadearam reações expansivas, ou seja, comportamento inócuo;

c) teor de álcalis solúveis entre 1,8 kg/m³ e 3,8 kg/m³, potencialmente reativo, podem desencadear ou não reações expansivas.

4 OBERHOLSTER, R. E.; VAN AARDT, J. H. P.; BRANDT, M. P. Durability of cementitious systems.

In: STRUCTURES AND PERFORMANCE CEMENT, 1983, London: P. Barnes, Applied Science Publishers Ltd, 1983. p. 380-397.

Figura 7 – Consumo de cimento em relação ao teor de álcalis disponíveis no cimento.

Fonte: Oberholster, Van Aartd e Brandt (1983 apud Hasparyk, 1999, p.67)

Em geral, os álcalis representam pequena parte da composição do cimento Portland, no entanto, dominam a química da solução dos poros do concreto. Após o primeiro dia de hidratação do cimento, à temperatura ambiente, a solução torna-se essencialmente composta de sódio e potássio e alguns outros íons dissolvidos. A concentração de hidróxidos alcalinos em solução depende de uma série de fatores, tais como, o equivalente alcalino do cimento, a relação água/cimento e o grau de hidratação. Esta concentração costuma variar entre 0,15 e 0,85 mol/l, o que equivale a valores de pH entre 13,2 e 13,9. (THOMAS; FOLLIARD, 2007).

Embora o cimento seja a maior fonte de álcalis, os álcalis também podem ser provenientes da água de amassamento. Dependendo de onde for coletada, esta poderá incorporar cloreto de sódio na mistura, auxiliando nas reações de expansão. Existem ainda os álcalis provenientes das adições minerais. (POOLE, 1992).

Tiecher (2006) relacionou o equivalente alcalino de cimentos Portland CP V ARI, CP V ARI-RS, CP IV e CP II-Z com a média das expansões obtidas em ensaio acelerado da ASTM C1260 (2001). Verificou-se que o equivalente alcalino do cimento nem sempre pode ser considerado um fator determinante na RAA, uma vez que o CP IV, que possui o maior equivalente alcalino, apresentou os menores valores de expansão, conforme observa-se no gráfico da Figura 8.

Figura 8 – Relação entre o equivalente alcalino do cimento e a expansão média.

Fonte: Tiecher (2006, p.127)

Xu, Watt e Hudec (1995) explicam que quando há a presença de adições minerais na mistura, a reação álcali-sílica ocorre não somente entre os álcalis e a sílica do agregado, mas também entre os álcalis e a sílica das misturas minerais. Com isso, o gel de C-S-H produzido pela reação pozolânica fica distribuído e acomodado uniformemente no concreto, auxiliando na redução da permeabilidade do mesmo e na redução do livre movimento dos íons álcalis.

Reforçando a colocação dos autores supracitados, Tiecher (2006) acredita que a redução das expansões se deva à presença de material pozolânico no CP IV, pois a sílica presente nestes materiais pode reagir com os álcalis da solução dos poros antes dos minerais reativos dos agregados, diminuindo, assim, a disponibilidade de álcalis solúveis e a formação do gel sílico-alcalino.

Contudo, apesar de válidas, estas considerações devem ser analisadas com cautela, uma vez que no uso do método acelerado das barras de argamassa, os álcalis são continuamente fornecidos por fonte externa, fazendo com que o conteúdo de álcalis presente no cimento ou nas misturas tenham efeitos desprezíveis ou muito pequenos na expansão. (ASTM C-1260, 2014; XU, WATT, HUDEC,1995).

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