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Segundo a teoria de Agência de Jensen e Meckling (1976), os interesses dos gestores e acionistas da empresa não estão alinhados, devido ao fato dos gestores buscarem algum

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benefício pessoal do fluxo de caixa da empresa. Por causa disso, os atritos geram custos para a empresa, que seriam descontados dos acionistas. Os gestores têm incentivos para priorizar a riqueza pessoal, valorizando a estabilidade do emprego, bônus, remuneração e outros benefícios. Além disso, esses benefícios geram custos para a empresa, existe o custo da agência, ou seja, o custo de incentivos e benefícios para os gestores priorizarem os interesses dos acionistas e não o próprio benefício.

Jensen (1986) continua a trabalhar o custo de agência, afirmando que as dívidas podem ser um instrumento disciplinador dos gestores, pois reduzem os fluxos de caixa, geram um compromisso e forçam uma gestão ativa que deve realizar para honrar os compromissos assumidos, tirando o poder discricionário sobre o fluxo de caixa por parte do gestor. Geralmente, as empresas que possuem alto níveis de endividamento utilizam mais instrumentos de incentivos para os gestores, sendo a dívida um disciplinador. Além das dívidas, o pagamento de dividendos também pode ser um instrumento disciplinador dos gestores (FAMA; FRENCH, 2002).

O aumento do nível de endividamento, seja para reduzir o custo de agência do capital próprio ou outro motivo, pode levar a empresa a enfrentar o custo de agência da dívida. Jensen e Meckling (1976) propõem que uma empresa que recorre muito à dívida, pode ser alvo de expropriação de riqueza, exigindo um custo elevado sobre suas dívidas. Na direção oposta, as empresas que possuem baixos níveis de endividamento, os acionistas minoritários tendem a cobrar um retorno mais elevado sobre as ações, com temor de sofrerem prejuízos.

Além dos custos, essa teoria possui outro tipo de conflito de interesse, entre o proprietário e o credor, que segundo Jensen e Meckling (1976) pode conduzir a uma relação negativa entre nível de endividamento e a oportunidade de crescimento. A justificativa para isso é que os financiadores teriam preferência pelo financiamento de projetos menos arriscados. Enquanto, para assegurar o retorno do valor disponibilizado, os acionistas iriam na direção contrária, tenderiam a escolher alternativas com maiores riscos e maiores expectativas de benefícios.

Mesmo reconhecendo as limitações impostas pelos custos de agência, Jensen e Meckling (1976) consideram que existe uma estrutura de capital ótima, essa proporção ótima entre a quantidade de capitais de terceiros e próprio reduziria os custos totais de agência. O nível de endividamento ideal seria o ponto que maximizaria o valor da empresa, no qual os custos marginais da dívida são compensados pelos benefícios marginais.

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Outra análise que surgiu a partir da teoria de agência foi o fato da estrutura de capital também poder ser entendida como um instrumento de governança. Brailsford, Oliver e Pau (1999) afirmam que a estrutura de propriedade está relacionada com a eficiência financeira da empresa, devendo ser consideradas diversas implicações na emissão de ações, a venda de ações para diferentes grupos pode ter impacto no oportunismo dos gestores, afetando o comportamento gerencial e o desempenho corporativo. Além disso, o uso da alavancagem gera uma série de responsabilidades e incentivos nas atividades de gestão, além dos benefícios fiscais para a empresa, podendo afetar a relação entre os gestores e os proprietários, impactando no processo de criação de valor da empresa.

Pode existir cinco situações em que os conflitos de interesse entre acionistas e credores: transferência de risco; recusa de contribuir com capitais próprios por temor de falência; diminuição da propriedade na iminência da falência; e prejudicar os antigos credores mudando a política de endividamento (JENSEN; MECKLING, 1976).

Além desses conflitos, surge a ideia de que os acionistas que detêm o controle dos negócios da empresa agiram sempre procurando o seu próprio benefício, prejudicando os interesses dos demais acionistas, ou seja, os acionistas ordinários teriam atitudes que os beneficiariam em detrimento aos acionistas preferenciais, que não possuem controle sobre a empresa (DEMSETZ; VILLALONGA, 2001). Aqueles acionistas que não tiverem poder para decidir sobre os projetos de investimentos e tomadas de decisões, por parte da empresa, tenderiam a se precaver nas restrições nos contratos de emissão de títulos, ou a exigência de um retorno maior sobre suas ações, o que acabaria gerando um custo de agência.

Berger e Patti (2006), examinaram, à luz da teoria de agência e da governança corporativa, como o endividamento afeta a performance dos bancos comerciais. Com dados de bancos americanos, eles encontraram que o aumento do endividamento em 1%, no período de 1990 a 1995 aumenta performance financeira do banco em 16%. Entretanto, esse resultado não é obtido quando o banco já possui um alto endividamento. Esse resultado está de acordo com a teoria de agência, pois reflete a teoria de que o aumento do endividamento reduz o custo de agência e aumenta o valor da empresa por encorajar os administradores a agir de acordo com o interesse dos shareholders. Mas esse efeito é anulado pelo risco de falência e o aumento do custo de endividamento quando o endividamento é muito alto.

Ao examinar características sociais e suas relações com governança corporativa e estrutura de capital das empresas do G20 (as vinte maiores economias do mundo), no período

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de 1995 a 2009, que contou com uma amostra de mais de 13.000 empresas, Fauver e McDonald (2015) identificaram que o alto grau de individualismo da sociedade está relacionado com o aumento do endividamento e baixo custo de capital. Além disso, as empresas de mercados emergentes são menos afetadas pela cultura nacional do que as dos países desenvolvidos. Também foi verificado que as empresas com maiores níveis de governança reduzem o efeito cultural na estrutura de capital.

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