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crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.

Notamos que o ordenamento, à priori, consagrou expressamente sua filiação à corrente Relativa, ao trazer no corpo do Código Penal as expressões

“reprovação” e “prevenção” como necessidades que o Juiz deverá observar ao aplicar a pena.

Assim, não haveria hierarquia entre as finalidades, ambas deveriam ser atendidas simultaneamente e com mesma intensidade.

Acontece que, posterior ao Código Penal, entrou em vigor a Lei de Execuções Penais, legislação dedicada a regulamentar todos os detalhes da aplicação das penas no Brasil.

Por sua vez, tal legislação se inicia com o seguinte dispositivo: “Artigo 1º: A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.”

Observa-se que a lei dedicada a tratar especificamente da aplicação da pena no Brasil possui caráter essencialmente Ressocializador, ao iniciar seu texto fazendo menção às condições necessárias para integrar socialmente o condenado.

Entretanto, a própria lei, em seu artigo 10 garante que “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.”

Vejamos que não se dispensa a necessidade de buscar meios para viabilizar o retorno do condenado ao convívio social, porem, este artigo já abrange traços de prevenção.

Além disso, dada a vasta legislação nacional, inclusive no tocante às infrações e penas, bem como em relação a todos os institutos penais, não é possível assegurar que o Brasil segue uma ou outra teoria, preponderantemente.

Temos o caso, por exemplo, da Lei nº 9.099/95, com institutos despenalizadores baseados na composição de danos, enfatizando a desnecessidade da retribuição penal para as infrações abrangidas por essa lei.

Podemos concluir que o Ordenamento Jurídico Pátrio levanta ambas bandeiras, buscando suprir na aplicação das penas, concomitantemente, a finalidade Preventiva e Retributiva, nos seus aspectos positivos e negativos.

Porem, fato é que as normas não condizem com a realidade penitenciária do país, onde os presídios estão longe de conseguir ressocializar, ocupando, na verdade, um caráter oposto, sendo o local melhor para

“aperfeiçoamento” do crime, fortalecimento de organizações criminosas e piora considerável daquele condenado primário, que, nos presídios, aprimora suas aptidões para o crime e absorve a sub-cultura carcerária, regido por normas paralelamente editadas, que contribuem para aumento da criminalidade, estrutura de organizações criminosas e impossibilidade de reinserção social.

Na verdade, a idéia de privar da liberdade alguém para ensiná-lo a comportar-se quando livre, é contraditória e ineficaz no mundo todo, porem, é certo, para tranqüilidade social, que a pena privativa é um mal necessário, o problema é que no Brasil as políticas para o setor são poucas e de cunho eleitoreiro, afastando-se cada vez mais do ideal ressocializador.

4 MODELOS PENITENCIÁRIOS

Desde que se tem notícia da existência do direito penal, caracterizado pela pena como forma de punição a um ato reprovável, tem-se também da existência de penitenciárias.

Acontece que, originalmente, a prisão não teve caráter essencialmente penal, visto que sua função não era a reprimenda, sendo, como já destacamos, a pena caracterizada por violação corporal do condenado ou até sua morte.

Presídios tinha, portanto, característica cautelar, sendo o local de recolhimento até que a pena fosse aplicada.

A idéia da pena como privação de liberdade (e não corporal) surgiu com a Igreja Católica, que aplicava aos seus Monges o isolamento quando se descobria o cometimento de algum pecado ou infração à legislação canônica.

Dessa forma, o intuito era de que os Monges recolhidos refletissem, silenciosa e compenetradamente, sobre o erro que cometeram e buscassem o perdão de Deus.

Notamos o ideal de prevenção geral (pecar é errado, contrário às normas, e, além disso, resulta no isolamento), mas principalmente, de reabilitação, o período de afastamento do convívio com os demais clérigos tinha o objetivo do arrependimento e reciclagem para a volta às relações entre seus pares.

Como já demonstrado, os preceitos católicos se difundiam pelo mundo influenciando os mais diversos setores e costumes, e com a pena privativa de liberdade não foi diferente.

Expoente crítico à forma prisional da Igreja, o Abade Beneditino Dom Jean Mabillon, tornou-se influência relevante pelo fato de ser um membro do alto escalão clérigo, e, ao mesmo tempo, um reformador de ideais iluministas.

Condenou a realidade penitenciária afirmando que os preceitos sob o prisma católico estavam diretamente feridos, citando as condições precárias das prisões que inviabilizavam o mínimo para uma vida digna (falta de água, por

exemplo), penas altamente repressivas e desproporcionais aos delitos, preponderância de ações de opressão ao prisioneiro.

A indispensável autora Armida Bergamini Mioto (1992, p. 27-28), cuja obra é de leitura obrigatória ao abordar o tema penitenciário, expõe sobre Dom Mabillon, o seguinte:

“(...) facilmente se percebe que ainda hoje merece atenção o que Mabillon preconizou, constituindo diretrizes para um bom tratamento penitenciário, e fonte remota de uma boa política penitenciária, respeitada a dignidade humana do réu, do preso, do condenado e, daí, também germe remoto do Direito Penitenciário, permanecido séculos em letargia. Como observou Thorsten Sellin, o relatório de Mabillon continha ideias notavelmente avançadas para o seu tempo.”

Assim, se iniciou a adoção de penitenciárias como forma de aplicação da pena, deixando de atingir o apenado fisicamente.

O problema é que se imaginou que bastava a construção de lugares para “armazenar” os delinqüentes sem qualquer estrutura para a ressocialização, já que, somente o fato da privação de liberdade, faria com que o preso repensasse os seus atos e se arrependesse, conseguindo, sozinho, sua regeneração social.

Não olvidamos que, a simples preocupação em construir lugares com esse fim já demonstrava um progresso, haja vista que a prisão como forma de aguardar a condenação se dava nos piores lugares possíveis, como castelos abandonados, principalmente em seus calabouços, além das “marmetinas” na Itália, que eram poços que secavam e passava a receber esses prisioneiros, bem como as famosas galés, embarcações movidas pelo incessante trabalho dos presos, que acorrentados, removam e a propulsionavam.

O que podemos assegurar é que a prisão, por si só, fracassou. Se já fracassa atualmente com os inúmeros cuidados em busca da ressocialização, se imagine em um local feito somente para prender e nada mais.

Nas cogentes lições de Foucault:

“Pensava- se que somente a detenção proporcionaria transformação aos indivíduos enclausurados. A idéia era que estes refizessem suas existências dentro da prisão para depois serem levados de volta à sociedade. Entretanto, percebeu-se o fracasso desse objetivo. Os índices de criminalidade e reincidência dos crimes não diminuíram e os presos em sua maioria não se

transformaram. A prisão e a prisionização mostraram-se em sua realidade e em seus efeitos visíveis, denunciados como “um grande fracasso da justiça penal.”

(2002. p. 207).

É importante esclarecer, que, ainda antes de se formar um verdadeiro

“sistema penitenciário”, que só aconteceu com as influencias iluministas e tomou maiores proporções nos Estados Unidos a partir do século XVIII, instituições semelhantes proliferaram na Europa entre a segunda metade do século XVI e a primeira do séculos XVII.

As chamadas “Casas de Trabalho” surgiram como alternativa para a crescente delinqüência entre mendigos, prostitutas, vadios e outras minorias financeiramente desprovidas.

Esses lugares formaram o ideal e abriram portas para o Clássico Penitenciarismo, nas palavras de Bitencourt (2010, p. 511):

“Essa experiência deve ter alcançado notável êxito, já que em pouco tempo surgiram em vários lugares da Inglaterra houses of corrections ou brindwells, tal como eram denominadas, indistintamente. O auge das brindwells foi considerável, especialmente a partir da segunda metade do século XVII. O fundamento legal mais antigo das houses of correction encontra-se em uma lei do ano 1575, onde se defina a sanção para os vagabundos e o alívio para os pobres, determinando a construção de uma casa de correção em cada condado, pelo menos”.

Veremos, assim, os modelos penitenciários, suas características, funções e fracassos, para conseguirmos, a partir deles, idealizar um modelo que consiga, ou ao menos chegue o mais perto possível, de dar as condições para que o apenado saia melhor do que entrou, tendo em vista que o presídio ainda é um “mal necessário” para a sensação de paz e segurança social.

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