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A teoria da aprendizagem social de Akers (1973) fundamenta suas raízes teóricas na associação diferencial de Sutherland (1947) e nas teorias psicológicas de Skinner (1953) e Bandura (1977). Burgess e Akers (1966) inicialmente formularam a teoria do reforço da associação diferencial, na qual buscaram integrar a teoria da associação diferencial (SUTHERLAND, 1947) com os princípios básicos da psicologia analítico comportamental (SKINNER, 1953). Essa integração resultou na proposição de que o “comportamento criminoso é aprendido de acordo com os princípios do condicionamento operante” (BURGESS; AKERS, 1966).

A teoria do reforço da associação diferencial apresenta sete princípios para descrever como ocorre o processo de aprendizagem do comportamento criminoso: (1) o comportamento criminoso é aprendido de acordo com os princípios do condicionamento operante; (2) o comportamento criminoso é aprendido tanto em situações não-sociais, que são reforçadoras ou discriminativas, como por meio da interação social na qual o comportamento de outras pessoas é reforçador ou discriminativo para o comportamento criminoso; (3) a parte principal da aprendizagem do comportamento criminoso ocorre nos grupos que constituem a principal fonte de reforços do indivíduo; (4) a aprendizagem do comportamento criminoso, incluindo técnicas específicas, atitudes e procedimentos de prevenção, ocorre em função dos reforçadores efetivos e disponíveis e das contingências de reforço existentes; (5) a classe específica de comportamentos que são aprendidos e sua frequência de ocorrência se dá em função dos reforçadores que são eficazes e que estão disponíveis, e das regras ou normas pelas quais esses reforçadores são aplicados; (6) o comportamento criminoso é uma função das normas que discriminam tal comportamento, cuja aprendizagem ocorre quando esse comportamento é mais altamente reforçado do que uma resposta não criminal; (7) a força do comportamento criminoso é uma função direta da quantidade, frequência e probabilidade de seu reforço (AKERS; JENNINGS, 2009; BURGESS; AKERS, 1966).

De acordo com Jennings e Henderson (2014), depois de receber algumas críticas teóricas, Akers realizou modificações na teoria do reforço da associação diferencial, se afastando da lista dos sete princípios e do behaviorismo radical de Skinner, e elaborando a teoria

da aprendizagem social, na qual deu maior ênfase ao behaviorismo social de Bandura (1969). Jennings e Henderson (2014) afirmam que a teoria da aprendizagem social pode ser considerada uma teoria geral do crime e do desvio, pois procura explicar por que os indivíduos participam de comportamentos criminosos e desviantes, bem como por que não os emitem. Essa teoria é composta por quatro elementos principais: associação diferencial, reforço diferencial, imitação

e definições (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014).

No que se refere à associação diferencial, assim como Sutherland (1937), Akers (2009) afirma que o comportamento criminoso é aprendido e parte fundamental dessa aprendizagem advém de grupos pessoais íntimos (como família e amigos), considerando também a importância de grupos secundários e de referência (como vizinhos, igrejas, professores e figuras de autoridade), como fornecedores de modelos comportamentais. Tais grupos com os quais os indivíduos se associam diferencialmente fornecem contextos em que os mecanismos de aprendizagem social operam (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014). Além disso, esse elemento pode variar nas seguintes dimensões: frequência, duração do tempo e quantidade absoluta/relativa de tempo gasto em diferentes associações, prioridade e intensidade. Nesse sentido, as associações que: (1) são mais frequentes, (2) duram e ocupam mais tempo, (3) acontecem mais cedo (possuem maior prioridade); e (4) envolvem pessoas cujo relacionamentos são mais importantes (intensidade), terão um maior efeito sobre o comportamento, seja ele criminoso ou não (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014).

O reforço diferencial se refere ao equilíbrio entre reforços e punições que são consequências do comportamento. Assim, a probabilidade de um determinado comportamento ser emitido é maior, em comparação com um comportamento alternativo, quando a consequência reforçadora for mais frequente e intensa do que a consequência punitiva (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014). A imitação, por sua vez, diz respeito à emissão de um comportamento que foi modelado a partir da observação de um comportamento semelhante de outras pessoas. Esse componente da aprendizagem social pode ocorrer por meio da observação direta ou indireta e a chance de que determinada resposta seja imitada depende das características dos modelos, dos comportamentos observados e dos reforços vicários que tais comportamentos possibilitam (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014). Por fim, as

definições são as orientações e racionalizações próprias do indivíduo em relação a um

comportamento específico. Portanto, são racionalizações e outras atitudes que rotulam um comportamento como desejável ou indesejável, justificado ou injustificado. Assim, quanto mais favorável for a atitude em relação à aprovação de determinados atos, maior é a probabilidade

de que o indivíduo se engaje em tal comportamento (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014).

Nessa lógica, a teoria da aprendizagem social (AKERS, 2009; JENNINGS; HENDERSON, 2014) afirma que a probabilidade de uma pessoa se engajar em comportamentos criminosos e desviantes aumenta e a probabilidade de aceitar e seguir a norma diminui quando: (1) os indivíduos se associam com outros que cometeram comportamentos criminosos e que apresentam definições favoráveis ao crime; (2) ficam relativamente mais expostos (simbolicamente ou pessoalmente) a modelos criminosos ou desviantes; (3) o indivíduo considera o comportamento criminoso como algo desejável ou justificável em determinadas situações; (4) antecipa na situação atual ou futura uma consequência reforçadora relativamente maior do que punitiva pelo comportamento criminoso, justamente por já ter recebido no passado uma consequência reforçadora pelo comportamento criminoso.

A teoria da aprendizagem social, portanto, considera que o processo de aprendizagem de qualquer comportamento, como a inserção de indivíduos em gangues, acontece por meio da associação diferencial, reforço diferencial, imitação e definições (AKERS, 2009). A partir dessa perspectiva teórica, é possível considerar que a probabilidade de um indivíduo se afiliar a uma gangue aumenta quando: o indivíduo se associa com familiares e amigos envolvidos em gangues, os quais apresentam modelos comportamentais desviantes e definições favoráveis a tal grupo; o indivíduo considera a participação em gangues como um comportamento justificável e desejado; e percebe que o envolvimento em gangues pode lhe dar acesso a mais consequências reforçadoras significativas do que consequências punitivas.

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