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Pinto Jr. e Pires (2000) tratam a informação como aspecto fundamental das relações econômicas, principalmente em situações concorrenciais. Na área de Estratégia, o processo de decisão é influenciado pelo montante de informação que cada empresa possui sobre si mesma e sobre suas concorrentes. No âmbito regulatório, que é o objeto desse estudo, os autores afirmam que a informação sobre as firmas reguladas é de grande importância para as agências reguladoras, pois é por meio dela que os órgãos agirão para incitar a empresa regulada a operar de forma eficiente. Entretanto, cumpre ressaltar que o custo de obtenção das informações relevantes é muito elevado.

Logfgren, Persson e Weibull (2002) afirmam que a teoria moderna dos mercados com assimetria de informações mudou a forma como os economistas pensavam sobre o

funcionamento dos mercados. Os modelos analíticos de Akerlof (1970), Spence (1972) e Rothschild e Stiglitz (1976) foram aplicados em várias instituições econômicas e sociais e em diferentes tipos de contratos, conforme os autores. Segundo Akerlof (1970) em todas as relações de troca há assimetria de informações. Assim, diferente do que diz a teoria econômica clássica, o mercado é ineficiente, uma vez que possibilita um ganho extraordinário à parte que possui mais informações sobre determinada transação. Dessa forma, faz-se necessário que o agente que detém a completude da informação possua incentivos para agir eficientemente, reduzindo o custo de monitoramento e controle da outra parte.

A assimetria informacional foi tratada por tais autores clássicos como um mecanismo comum nas transações do mercado, aplicado em situações distintas. No trabalho de Akerlof (1970), verifica-se a existência de informações imperfeitas no mercado de automóveis antigos, em que o vendedor de carros sabe mais sobre a qualidade do seu produto que o comprador. Spence (1972) retrata o problema com base no mercado de trabalho, em que o potencial empregado sabe mais de suas habilidades que o futuro empregador. Por fim, Rothschild e Stiglitz (1976) retrata a situação exemplificando com uma companhia de seguros, em que o contratante sabe mais sobre seus riscos que a seguradora.

Dados tais exemplos de assimetria presentes nas transações do mercado, os autores preocupam-se em responder sobre quais as implicações econômicas de tal problema. Nesse sentido, Logfgren, Persson e Weibull (2002) ressaltam que as principais questões referem-se a preços, quantidades e qualidade dos bens negociados sob tal condição.

Akerlof (1970) retratou o problema de seleção adversa em seu contexto de análise. O modelo do autor divide o mercado em dois tipos de bem (carros usados): de baixa qualidade; e de alta qualidade. Os compradores definem um valor justo a ser pago por cada tipo. Porém, como eles não sabem, antes da transação, qual é, de fato, a qualidade do bem que está sob avaliação de compra, estão dispostos a pagar o valor médio entre aquele definido para o de alta e o de baixa qualidade. Nesse caso, os vendedores de bens de alta qualidade não concordaram em vendê-los por tal preço abaixo do que realmente vale. O mercado, portanto, fica repleto de bens de baixa qualidade, uma vez que o produto estará sobrevalorizado. Assim, os vendedores de tal tipo de bem obtêm vantagem, enquanto os compradores selecionam de forma adversa, devido à falta de informação.

Spence (1972) trouxe à literatura a abordagem da sinalização no mercado. Como em advento da seleção adversa no mercado de trabalho, os sujeitos mais produtivos podem ficar de fora

do mercado. Eles têm incentivos para sinalizar sua produtividade superior na hora da contratação. Tal sinalização deve ter um custo suficiente para não permitir a adoção das mesmas medidas por indivíduos menos produtivos. Um dos principais exemplos de sinalização é o investimento em níveis maiores de escolaridade, que tende a ser considerado pelo empregador como um indício de maior produtividade, e por isso se dispõe a pagar melhores salários para esses empregados.

Rothschild e Stiglitz (1976), contribuíram com o modelo de screening, ou filtragem, para a redução da seleção adversa aplicada ao mercado de seguros. Segundo os autores, agentes com menos informações podem minimizar o problema adquirindo informações daqueles mais bem informados por meio da oferta de inúmeros contratos alternativos para uma situação específica. Assim, no caso de uma empresa de seguros, ela pode dividir seus clientes em várias classes de risco e cada uma com preço e prêmios condizentes com tal classificação. Nesse sentido, os consumidores tendem a escolher contratos próximos de seu perfil.

Tais problemas relacionados à assimetria de informações ocorrem no momento anterior ao da efetivação da transação. Há, ainda, o problema clássico de risco moral envolvendo a assimetria de informações. Esse ocorre após a contratação de determinado bem ou serviço. Kreps (1994) indica que o problema de risco moral refere-se ao fato de ser impossível saber, em algumas ocasiões, se uma das partes envolvidas em uma transação irá, de fato, cumprir o que foi negociado no contrato.

De acordo com o autor, tal problema ocorre quando uma das partes toma atitudes posteriores à negociação que afetem o resultado obtido pela segunda parte. Esta, por sua vez, é incapaz de monitorar ou ter controle absoluto de tais comportamentos. Nesse sentido, anteriormente à transação, a informação é simétrica em relação aos entes envolvidos. Porém, ao se firmar o contrato, o agente utiliza a assimetria informacional, decorrente da impossibilidade de total controle por parte do principal, e a usa com vistas a maximizar sua função utilidade.

O trabalho de Kreps (1994) exemplifica a situação por meio de uma transação de seguro contra incêndio. A seguradora não poderá verificar se o contratado está realmente tomando medidas para evitar o sinistro ou se ele passa a se expor a maiores riscos. Nesse sentido, há um incentivo para o consumidor consumir mais seguros. Porém, caso ele o faça, racionalmente ele tomaria atitudes mais arriscadas, o que levaria a seguradora a restringir a oferta, pela incapacidade ainda maior de monitorar. Por isso, uma das soluções propostas por Stiglitz (1985) consiste em adotar mecanismos de incentivo aos segurados cuidadosos, como descontos na renovação de seguros àqueles que não se envolveram em sinistros.

Em nível contratual, Pinto Jr. e Pires (2000) consideram que o problema de risco moral decorre não pela assimetria de informações acerca de características desconhecidas dos agentes, mas de um comportamento oportunista, escondido e revelado pela outra parte do contrato, no momento de sua elaboração.

Williamson (1985) estabelece os seguintes mecanismos para a compensação do problema: a) Monitoramento - estabelecimento de auditoria independente ou acompanhamento

e controle das condições de execução do contrato, com o intuito de detectar condutas inapropriadas com antecedência.

b) Contratos de incentivo - assim como abordado por Stiglitz (1985), trata-se de mecanismos orientados para incentivar os comportamentos positivos, convergindo as condutas para eliminar o risco moral.

c) Joint-ventures - refere-se à detenção conjunta dos ativos, de forma que as partes fiquem integradas em compromissos mais sólidos.

Cumpre ressaltar que esse ambiente de assimetria informacional e os problemas dele decorrentes estão presentes em vários setores e contratos. Embora os exemplos clássicos tenham sido dados em casos de compradores-vendedores, sua aplicação é possível tanto a acionistas e administradores, como será tratado mais a fundo na seção 2.2, como entre agentes reguladores e empresas operadoras (seção 2.4).