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O conceito de autoeficácia foi construído por Albert Bandura em 1997, a partir dos pressupostos da Teoria Social Cognitiva74. A evolução da teoria de aprendizagem social para social cognitiva buscou enfatizar o papel da cognição na capacidade das pessoas de construir a realidade, auto-regularem-se, codificar informações e executar comportamentos22. Desse modo, Bandura passa a definir a teoria social cognitiva, como base conceitual para o constructo de autoeficácia22. Segundo esta teoria os indivíduos são proativos, auto- organizados, auto-reflexivos e auto-regulados19. Assim, o pensamento e ação humana são resultados da inter-relação dinâmica entre as influências pessoais, comportamentais e ambientais75.

Os processos cognitivos influenciam o comportamento, o nível de motivação, o padrão de pensamento e a reação emocional19,76,17. Além da cognição, os processos vicários, auto- reguladores e auto-reflexivos exercem papéis centrais no funcionamento humano mediando as situações de adaptação e mudança75.

As crenças de autoeficácia se destacam no conjunto de pensamentos que afetam o funcionamento humano. São percepções dos indivíduos sobre suas próprias capacidades e por sua vez, proporcionam a base para a motivação humana. Desse modo, a autoeficácia está associada aos julgamentos das pessoas em desempenhar com sucesso determinadas tarefas ou comportamentos76. Há evidências empíricas de que essas crenças influenciam todos os aspectos da vida das pessoas, determinam como os indivíduos regulam o pensamento e o comportamento21.

O conceito de autoeficácia foi inserido no glossário de promoção da saúde da OMS (WHO Health Promotion Glossary) a partir da atualização realizada em 2006 em que foram acrescentados dez novos termos. Nesta lista, a autoeficácia está relacionada às crenças das pessoas em transformar as ações e a influência no tempo e esforço que irão desprender para superar obstáculos e experiências adversas77.

As crenças de autoeficácia são provenientes de quatro fontes de informações: experiência de domínio, experiência vicária, persuasão verbal e estados somáticos e emocionais. A experiência de domínio ou experiência pessoal é considerada a fonte mais influente, tendo em vista que uma experiência positiva e negativa, aumenta e diminui a autoeficácia, respectivamente. Ressalta-se que muitos fatores influenciam a forma como as informações são processadas cognitivamente e afetam a autoavaliação do indivíduo21.

Além de interpretar os resultados de suas ações as pessoas formam as crenças de autoeficácia por meio da experiência vicária ou observacional. Nesse caso, compartilha experiências de pessoas próximas que podem servir como modelos com informações sobre o grau de dificuldade de um determinado comportamento22. A autoeficácia aumenta se os modelos ensinarem melhores maneiras de fazer as coisas. Da mesma forma, quando os modelos fracassam podem prejudicar as crenças dos observadores e interferir em sua percepção quanto à sua capacidade75. Embora a observação de modelos seja uma fonte de autoeficácia frágil em detrimento da experiência pessoal, pode contribuir para o julgamento da pessoa em relação à sua capacidade22.

As crenças de autoeficácia também se desenvolvem por meio das persuasões sociais/verbais. Esta é uma fonte de informação que pode complementar as demais, pois, à medida que as pessoas são convencidas de suas habilidades, podem ser estimuladas a

preservá-las22. Portanto, as persuasões positivas podem encorajar, enquanto as negativas podem enfraquecer as crenças de autoeficácia75.

Os estados somáticos e emocionais também são fontes de informação sobre as crenças de autoeficácia. Pois, a ansiedade, fadiga, estresse e excitação podem diminuir o senso de autoeficácia, enquanto o estado afetivo e fisiológico positivo pode aumentar. Quando as pessoas consideram suas capacidades negativas, as reações afetivas podem reduzir as percepções de autoeficácia e desencadear situações de estresse e agitação, de modo que interfere no desempenho. A promoção do bem-estar emocional e a redução de estados negativos aumentam as crenças de autoeficácia75.

As avaliações gerais por meio de instrumentos abrangentes visam medir um sentido geral de eficácia sendo, portanto, obscuras com relação ao que avalia75. Para avaliar as crenças de autoeficácia, deve-se criar medidas específicas para o domínio do funcionamento que deseja investigar. Dependendo da tarefa que pretende prever e do contexto em que ocorre, as crenças de autoeficácia diferem em poder preditivo75. Devem ser mensuradas por meio de julgamentos particularizados de capacidades, tendo em vista que variam em nível, força e generalidade20.

A partir dos pressupostos da Teoria Social Cognitiva de Bandura, foram construídas escalas para avaliar a autoeficácia do indivíduo em diversos comportamentos. A autoeficácia é um importante preditor para comportamentos preventivos relacionados à saúde da criança81 e para comportamentos maternos na realização dos cuidados infantis25. Nesse sentido, Dennis e Faux (1999) desenvolveram a Breastfeeding Self-Efficacy Scale (BSES), capaz de mensurar a confiança da mulher para amamentar78. No Brasil a BSES foi traduzida e validada por Oriá et al.(2009)79. A Escala de Autoeficácia Materna para Prevenção da Diarreia Infantil (EAPDI) foi criada por Joventino et al. (2010) para mensurar a autoeficácia materna na prevenção da diarreia infantil80.

Para avaliação da autoeficácia no cuidado da criança há instrumentos que medem a confiança dos pais em relação a habilidade para cuidar dos filhos. O Infant Care Survey (ICS)23 desenvolvido por Froman e Owen (1989) avalia a autoeficácia materna nos cuidados da criança com menos de um ano de idade, cujos itens do instrumento estão relacionadas à dieta, segurança e cuidado da saúde, mas, não inclui os comportamentos interativos.

O Parent Expectations Survey (PES)24 desenvolvido por Reece (1992) para avaliar a autoeficácia na parentalidade precoce, confiança da mãe em desempenhar o papel parental, pode ser utilizado durante o período perinatal. Foi testado em 82 primíparas que estavam entre um a três meses após o parto. Este instrumento não contém itens que avaliam os

comportamentos interativos entre pais e crianças. O Maternal Efficacy Questionnaire desenvolvido por Teti e Gelfand (1991) avalia a autoeficácia materna com ênfase nos aspectos afetivos25.