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SUMÁRIO

2.1 Teoria do capital humano

A teoria do capital humano explica a relação educação, trabalho e renda. A educação tem papel importante no aumento das modalidades de trabalho, na produtividade e na renda dos trabalhadores.

Essa teoria pode ter seu alicerce iniciado com Adam Smith (1776) ao introduzir em seu livro (Riqueza das nações) a percepção do ser humano como capital. Sem este entendimento não seria possível afirmar que pessoas mais instruídas produzem mais e são, portanto, mais “caras” (geram mais capital e auferem maiores rendas).

Lima (1980) descreveu a teoria do capital humano e sua sistemática. As pessoas buscam educação, essa educação possui o efeito principal de mudar suas habilidades e conhecimentos. Ao aumentar a instrução, a habilidade cognitiva e a produtividade também aumentam. Pelo aumento da produtividade as pessoas podem receber maiores rendas, gerando mais capital.

Alguns dos primeiros estudos, ou pelo menos os mais conhecidos e citados sobre a teoria do capital humano, são os de Mincer (1958) que avaliou os aumentos de renda provenientes de graus mais elevados de instrução e o de Becker (1964) que aplicou a teoria da utilidade na relação educação-capital humano. Outros trabalhos como os de Blaug (1976) e Ben-Porath (1967) trouxeram contribuições alternativas demonstrando as motivações ou razões dos investimentos em educação.

Segundo Schultz (1967), que foi um dos pioneiros da teoria do capital humano, quando os benefícios provenientes da educação ocorrem no futuro, a instrução se caracteriza como investimento.

Smith (1996), explica que as habilidades provenientes da educação são um bem de natureza econômica e possuem um custo para quem os adquire. Este custo educacional é, ou pelo

menos deveria ser, recompensado pela remuneração proveniente do trabalho.

Frigotto (2003) sugere que um acréscimo marginal na instrução, treinamento e educação corresponde a um acréscimo marginal na capacidade de produção do individuo. A ampliação de habilidades e a melhora da qualidade do trabalho são modalidades de investimento que tem como base de sustentação a educação.

Para Machin e Stevens (2004) a teoria do capital humano pode ser entendida como um investimento na educação, aumentando a produtividade futura do indivíduo e trazendo outros benefícios privados e sociais. As estimativas dos retornos privados e sociais da educação e da eficácia dos cursos podem ser usadas para orientar a alocação de recursos no setor público, na tomada de decisão por parte de candidatos e também pela coordenação dos cursos.

Robeyns (2006) explica que a teoria do capital humano é vinculada essencialmente a mudanças econômicas (aumento de renda e crescimento da economia), além de ser exclusivamente instrumentalista. A autora defende que os benefícios e as capacidades provenientes da educação são na teoria, modelos multidimensionais e abrangentes, que desenvolvem várias funções também intrínsecas e não somente econômicas. O objetivo intrínseco das políticas educacionais é desenvolver a capacidade social das pessoas, a economia nesse caso pode ser apenas consequência.

Existem algumas teorias aparentemente contrárias à teoria do capital humano, mas que não a contradizem se forem vistas sob diferentes óticas.

Silva (2005) esclarece que cada indivíduo possui uma inteligência diferente, assim como possuem diversas outras características genéticas diferentes entre si. As diferentes habilidades ou inteligências são, portanto, os fatores explicativos do desempenho individual, sucesso acadêmico e econômico. Ainda, de acordo com o autor, embora essas habilidades possam

ser melhoradas, ou aprendidas com a educação, os indivíduos não as terão na mesma proporção ou igualdade.

Segundo Ioschpe (2004), pessoas mais produtivas do que outras podem ser explicadas pelas habilidades ou inteligência inatas de cada uma. Os mais altos salários pertencem aos indivíduos com habilidades naturais propensas aos estudos em níveis mais elevados de instrução. Deste modo, indivíduos naturalmente mais inteligentes, ou com mais habilidades inatas, reprovam menos e possuem menos problemas de comportamento. Esses fatores, segundo o autor, tendem a aumentar a chance dessas pessoas de alcançar níveis mais altos de educação.

As duas teorias (capital humano e inteligência) podem ser complementares já que as diferentes habilidades e inteligências das pessoas não descartam a necessidade ou os benefícios da educação. De fato indivíduos que possam ser considerados mais inteligentes tendem a conquistar maior sucesso socioeconômico, entretanto a educação poderia ser um catalisador deste processo ou até mesmo aumentar esse sucesso. Por outro lado, pessoas que não possuem tais habilidades ou inteligência, podem com a instrução e esforço adequados, adquirir se não todas, parte dessas habilidades. Ao adquirir mais conhecimento e habilidade, mesmo que limitadas, as pessoas tornam-se mais qualificadas tanto do ponto de vista social quanto econômico.

A relação entre educação e inteligência, ou habilidades inatas, não é de mão única. As condições e o ambiente em que o indivíduo se desenvolve afetam sua capacidade e seu grau de aprendizagem. Assim, mesmo as pessoas “nascidas” mais inteligentes alcançam habilidades ou conhecimentos adicionais dependendo, por exemplo, do sistema de educação ao qual foram expostos (GRONAU, 2003).

A teoria da sinalização surgiu possivelmente com Spence (1973) que defende que níveis mais altos de instrução, ou diplomas e certificações, serviriam como sinalizadores de competências para empregadores potenciais. Assim, as pessoas

alcançam suas vagas de emprego por meio de sinalizações (certificações) em seu currículo. Essas sinalizações servem como indicação, junto aos empregadores, sobre uma provável produtividade do indivíduo.

Discute-se aqui que indivíduos que não tenham alcançado diplomas continuam a ser menos valorizados econômica e socialmente. Mesmo que a educação não trouxesse de fato produtividade ou competências ela serviu, pelo menos, para alcançar as necessidades do empregador no aspecto de seleção de seus empregados. Além disso, se a educação só serve como sinalizador, e não há ganho efetivo de competências, nem os próprios empregadores buscariam tais certificações em seus empregados.

Outra teoria é a credencialista. Cunha (2007) explica que essa teoria não admite nenhum vínculo entre educação e produtividade, nem entre produtividade e salário. A teoria defende que a credencial é a responsável pela reserva de mercado e salários mais altos.

Segundo Gamboa (2003), o credencialismo aumentou muito no Brasil depois da Nova Lei de Diretrizes Básicas. Com ela houve a exigência de mestres e doutores para pelo menos um terço do corpo docente das universidades. Esse fato, segundo o autor, deixou evidente que a titulação era importante, em detrimento da qualidade do conhecimento cientifico (credencialismo).