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CAPÍTULO 3  FORMAÇÃO CONTINUADA DO COORDENADOR

3.2 TEORIA COMO EXPRESSAO DA PRÁTICA: PRESSUPOSTO PARA A

O eixo epistemológico da teoria como expressão da prática, assumido nesta pesquisa, se fundamenta na vertente marxista, considerando os pressupostos do materialismo heterodoxo, que “concebe a transformação social como processo construído historicamente na e através das lutas dos trabalhadores” (MARTINS, 1996, p.87). Em face disso, pondera o conhecimento do sujeito, a ação prática, a luta de classes, visando a sistematização coletiva do conhecimento.

Ressaltamos o conceito das relações de tipo novo, abordado por Bernardo (1977) e Santos (1992), ao afirmarem que, no interior do sistema capitalista, os trabalhadores estabelecem entre si relações sociais coletivas e solidárias, geradas a partir da necessidade de sobrevivência dentro do sistema, modificando a forma competitiva e individual presente neste sistema. Nesse sentido, a prática de luta dos trabalhadores gera as relações sociais de tipo novo, e leva a repensar a prática pedagógica existente, de forma que esteja atrelada aos interesses dos trabalhadores (SANTOS, 1992).

Santos (1992, p.69) concebe que, desta relação, geram-se princípios para uma nova pedagogia, “Uma pedagogia voltada para os imperativos da própria prática dos trabalhadores. Uma pedagogia que permita aos trabalhadores produzirem um conhecimento capaz de instrumentalizá-los para a implementação do novo modo de produção.”; nesse viés, o eixo epistemológico se constituiu considerando esse movimento dos trabalhadores e reconhecendo a prática como base do conhecimento.

A teoria como expressão da prática (MARTINS, 1996) considera que a prática do sujeito, situada historicamente, é a base do conhecimento, ou seja, a partir da prática e das formas de agir é que as formas de pensar serão sistematizadas. A teoria não é o ponto de partida e não é guia da prática, ela será um auxílio para compressão da totalidade e para buscar a transformação da prática. Ou seja, o

ponto de partida é a própria prática pedagógica produzida na escola onde os sujeitos atuam.

Desta forma, concebemos que a formação continuada fundamentada na sistematização coletiva do conhecimento acontece em quatro momentos, sendo eles: a descrição da prática no plano empírico; a explicação da prática mediatizada pelas tendências da educação; a compreensão da prática pedagógica no nível da totalidade; e a elaboração de propostas alternativas (MARTINS, 2006).

O primeiro momento é a descrição da prática no plano empírico, que é o momento de relatar as práticas pedagógicas exercidas pelo profissional, considerando que nessas práticas há saberes do professor. Esse relato acontece “no sentido de explicá-las, compreendê-las para buscar algum tipo de alteração na direção pretendida” (MARTINS, 2006, p.92). Em consequência, é possível conhecer desafios e dificuldades enfrentadas e que muitas vezes não se entende a razão de estarem presente na prática, buscando-se, portanto, uma explicação para tais problemas.

Isso supõe situar historicamente o hoje, buscando suas raízes históricas, com o auxílio do saber sistematizado nas tendências da educação. De fato, embora os professores percebam os problemas vividos, na maioria das vezes não dispõem de um instrumento teórico que lhe permita analisar crítica e sistematicamente as suas práticas. (MARTINS, 2006, p. 95).

O segundo momento é a explicação da prática mediatizada pelas tendências da educação, em que “torna-se necessário procurar as mediações que possibilitem explicar e compreender esse produto, para negá-la dialeticamente, transformando- a.” (MARTINS, 2006, p.100). Busca-se nas tendências educacionais essa compreensão, percebendo-se que as práticas não acontecem isoladamente; assim, confere-se sentido a elas, não significa que essas práticas acontecem em função das teorias, mas elas são elaboradas a partir das práticas.

A partir dessa relação com as tendências da educação, o terceiro momento buscará a compreensão da prática pedagógica no nível da totalidade, ou seja, a prática nas múltiplas determinações. Esses determinantes são históricos, políticos e sociais e que a partir da compreensão dessa totalidade é possível negar dialeticamente a prática e buscar sua transformação, chegando-se, então, ao quarto momento, da elaboração de propostas alternativas (MARTINS, 2006).

O quarto momento acontece após a compreensão dos determinantes que influenciam a prática e da análise crítica baseada em um referencial teórico, sendo possível elaborar coletivamente propostas concretas de intervenção, para iniciar um processo de mudança da prática, podendo aprofundar ou dar mais consistência a ela (MARTINS, 2006). É com essa concepção de formação continuada que a questionamos; a formação continuada tem como ponto de partida a prática dos coordenadores pedagógicos.

Compreendendo a formação continuada a partir do eixo epistemológico que assumimos, é necessário considerar os conceitos abordados por Santos (1984) sobre o campo da produção ou da distribuição do conhecimento. Conforme o autor, o campo da distribuição do conhecimento é instaurado quando apenas alguns sujeitos produzem o conhecimento que será distribuído aos outros que não possuem esse poder, assim, indo a favor da classe dominante, desconsiderando o sujeito. Já a produção do conhecimento considera o sujeito histórico, a sua prática social, seus conhecimentos, o que ele já sabe, para que, nas relações, de forma coletiva, possa gerar novos conhecimentos de interesse da classe trabalhadora.

A partir desses conceitos de produção e distribuição que nos perguntamos: a formação continuada dos coordenadores pedagógicos define-se no campo da produção ou distribuição do conhecimento?

Portanto, quando assumimos a teoria como expressão da prática, consideramos que a formação continuada necessita ter como ponto de partida a prática pedagógica produzida pelo sujeito, no caso da pesquisa, o sujeito é o coordenador pedagógico. Propor uma formação continuada que desconsidera as questões da prática, priorizando a distribuição do conhecimento, reforça a teoria como guia da ação prática.

3.3 FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O COORDENADOR PEDAGÓGICO:

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