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A teoria da compensação, relativa aos trabalhadores deslocados pela maquinaria

No documento O Capital - Volume II (páginas 67-76)

Toda uma série de economistas burgueses, como James Mill, Mac- Culloch, Torrens, Senior, J. St. Mill etc., afirma que toda maquinaria que desloca trabalhadores sempre libera, simultânea e necessariamen- te, capital adequado para empregar esses mesmos trabalhadores.172

Suponha-se que um capitalista empregue 100 trabalhadores, por exemplo, numa fábrica de papel de parede, cada homem a 30 libras

171 URE. Op. cit., pp. 368, 7, 370, 280, 321, 281 e 475.

172 Ricardo de início compartilhava desse ponto de vista, mas retratou-se expressamente mais tarde com sua característica imparcialidade científica e amor à verdade. Ver op. cit., cap XXXI, “On Machinery”.

esterlinas por ano. O capital variável gasto por ele anualmente importa, portanto, em 3 mil libras esterlinas. Suponha-se que ele despeça 50 trabalhadores e empregue os 50 restantes com uma maquinaria que lhe custe 1 500 libras esterlinas. Para simplificar, suponha-se que não se leve em conta construções, carvão etc. Admita-se ainda que a ma- téria-prima anualmente consumida custe depois como antes 3 mil libras esterlinas.173 Por meio dessa metamorfose, algum capital foi “liberado”?

No modo antigo de produzir, a soma global despendida era de 6 mil libras esterlinas, metade constituída de capital constante, metade de capital variável. Agora ela é constituída de 4 500 libras esterlinas de capital constante (3 mil para matéria-prima e 1 500 para maquinaria) e 1 500 libras esterlinas de capital variável. Ao invés de metade, a parte do capital variável, ou a parcela investida em força de trabalho viva, só constitui 1/4 do capital global. Ao invés de liberação, aqui tem lugar vinculação de capital numa forma em que ele deixa de se trocar por força de trabalho, isto é, transformação de capital variável em constante. O capital de 6 mil libras esterlinas agora não pode, perma- necendo invariáveis as demais circunstâncias, ocupar mais de 50 tra- balhadores. A cada aperfeiçoamento da maquinaria, ele ocupa menos. Custando a recém-introduzida maquinaria menos do que a soma da força de trabalho e das ferramentas de trabalho deslocadas por ela, portanto, por exemplo, ao invés de 1 500 apenas 1 000 libras esterlinas, então um capital variável de 1 000 libras esterlinas se transformaria ou se converteria em capital constante, enquanto um capital de 500 libras esterlinas seria liberado. Este último, suposto o mesmo salário anual, constitui um fundo para dar ocupação a cerca de 16 trabalha- dores, enquanto 50 são despedidos; na verdade, para muito menos do que 16 trabalhadores, já que, para sua transformação em capital, as 500 libras esterlinas precisam ser de novo transformadas parcialmente em capital constante, portanto só podem, também, ser em parte con- vertidas em força de trabalho.

Suponhamos também que a fabricação da nova máquina dê em- prego a maior número de mecânicos; deve isso ser uma compensação para os produtores de papel de parede postos no olho da rua? Na melhor das hipóteses, fabricá-la emprega menos trabalhadores do que sua utilização desloca. A soma de 1 500 libras esterlinas, que só re- presentava o salário dos produtores de papel de parede despedidos, representa, agora, na figura da maquinaria: 1) o valor dos meios de produção requeridos para sua construção; 2) o salário dos mecânicos que a constroem; 3) a mais-valia que cabe a seu “patrão”. Além disso, uma vez pronta, nunca mais a máquina precisa ser renovada até sua morte. Portanto, para ocupar continuamente o número adicional de

mecânicos, é necessário que um fabricante de papéis de parede após outro desloque trabalhadores por meio de máquinas.

Aqueles apologetas também não têm, de fato, em mente essa espécie de liberação de capital. Eles têm em mente os meios de sub- sistência dos trabalhadores liberados. No caso acima, não pode ser negado que, por exemplo, a maquinaria não só libera 50 trabalhadores e, assim, torna-os “disponíveis”, mas, ao mesmo tempo, suprime a co- nexão deles com meios de subsistência no valor de 1 500 libras esterlinas e, assim, “libera” esses meios de subsistência. O fato simples, e de modo algum novo, de que a maquinaria libera os trabalhadores dos meios de subsistência significa, portanto, economicamente, que a ma- quinaria libera meios de subsistência para o trabalhador ou transfor- ma-os em capital para lhe dar emprego. Como se vê, tudo depende do modo de se expressar. Nominibus mollire licet mala.174

Segundo essa teoria, os meios de subsistência no valor de 1 500 libras esterlinas eram um capital valorizado mediante o trabalho dos 50 produtores de papel de parede despedidos. Esse capital perde, em conseqüência, sua ocupação assim que os 50 se tornam ociosos, e não descansa nem sossega enquanto não encontrar nova “aplicação” em que os ditos 50 possam de novo consumi-lo produtivamente. Portanto, mais cedo ou mais tarde, capital e trabalho precisam reencontrar-se e é quando se dá a compensação. As provações dos trabalhadores des- locados pela maquinaria são, portanto, tão transitórias quanto as ri- quezas deste mundo.

Os meios de subsistência no valor de 1 500 libras esterlinas nunca se confrontaram, enquanto capital, com os trabalhadores despedidos. O que se confrontava com estes como capital eram as 1 500 libras esterlinas agora transformadas em maquinaria. Observando-se mais de perto, essas 1 500 libras esterlinas representavam apenas parte dos papéis de parede produzidos anualmente pelos 50 trabalhadores despedidos e que eles recebiam de seu empregador como salário em forma-dinheiro e não in natura. Com os papéis de parede transformados em 1 500 libras esterlinas eles compravam meios de subsistência da mesma importância. Estes não existiam, portanto, para eles como ca- pital, mas como mercadorias; e eles mesmos não existiam para essas mercadorias como assalariados, mas como compradores. A circunstância de que a maquinaria os “liberou” dos meios de compra transforma-os de compradores em não-compradores. Daí, menor procura daquelas mercadorias. Voilà tout.175 Se essa procura diminuída não for compen-

sada por procura aumentada de outro setor, então cai o preço de mer- cado das mercadorias. Se isso dura por mais tempo e em maior escala,

174 É lícito abrandar o mal com palavras — OVÍDIO. Artis Amatoriae. Livro Segundo. Verso 657. (N. da Ed. Alemã.)

então ocorre um deplacement176 dos trabalhadores empregados na pro-

dução daquelas mercadorias. Parte do capital, que antes produzia meios de subsistência necessários, passa a ser reproduzida de outra forma. Durante a queda dos preços de mercado e o deplacement de capital, os trabalhadores empregados na produção dos meios de subsistência necessários também são “liberados” de parte de seu salário. Ao invés, portanto, de provar que a maquinaria, mediante a liberação dos tra- balhadores dos meios de subsistência, transforma os últimos simulta- neamente em capital para o emprego dos primeiros, o Sr. Apologista prova, com a consagrada lei da oferta e da procura, que a maquinaria põe, não só no ramo da produção em que é introduzida, mas também nos ramos da produção em que não é introduzida, trabalhadores no olho da rua.

Os fatos verdadeiros, transvestidos pelo otimismo econômico, são estes: os trabalhadores deslocados pela maquinaria são jogados da ofi- cina para o mercado de trabalho, aumentando o número de forças de trabalho já disponíveis para a exploração capitalista. Na Seção VII vai-se mostrar que esse efeito da maquinaria, que nos é aqui apresen- tado como uma compensação para a classe trabalhadora, atinge o tra- balhador como o mais temível dos flagelos. Aqui, só isso: os operários postos fora de um ramo da indústria podem, na verdade, procurar emprego em qualquer outro ramo. Se o encontram e, com isso, se re- compõe o laço que havia entre eles e os meios de subsistência com eles liberados, então isso acontece por intermédio de novo capital adi- cional, que procura aplicação; de nenhum modo, porém, por intermédio do capital que já funcionava antes e agora se transformou em maqui- naria. E mesmo então, quão limitada perspectiva têm eles! Atrofiados pela divisão do trabalho, esses pobres-diabos têm tão pouco valor fora de seu velho círculo de atividade que só conseguem acesso a alguns poucos ramos inferiores de trabalho, portanto, ramos constantemente saturados e sub-remunerados.177 Além disso, cada ramo industrial atrai

anualmente novo afluxo de seres humanos, que lhe fornece seu con- tingente para substituição e crescimento regulares. Assim que a ma- quinaria libera parte dos trabalhadores até então ocupados em deter- minado ramo industrial, o pessoal de reserva também é redistribuído e absorvido em outros ramos de trabalho, enquanto as vítimas originais em grande parte decaem e perecem no período de transição.

176 Deslocamento. (N. dos T.)

177 Um ricardiano observa quanto a isso contra as sensaborias de J.-B. Say: “Com divisão de trabalho desenvolvida, a qualificação do trabalhador só é aplicável no ramo particular em que ela foi adquirida: eles mesmos são uma espécie de máquina. Por isso, não adianta em absoluto palrar como um papagaio que as coisas têm tendência a encontrar seu nível. Precisamos olhar ao nosso derredor e ver que não podem por longo tempo encontrar seu nível; e, quando o encontram, o nível está mais baixo do que no começo do processo”. (An

É um fato indubitável que a maquinaria não é, em si, responsável pela “liberação” dos operários dos meios de subsistência. Ela barateia o produto e aumenta sua quantidade no ramo de que se apodera e deixa inalteradas as massas de meios de subsistência produzidos em outros ramos industriais. Tanto depois quanto antes de sua introdução, a sociedade possui, por conseguinte, tantos ou mais meios de subsis- tência para os trabalhadores deslocados, isso mesmo sem considerar a enorme massa do produto anual que é desperdiçada por não-traba- lhadores. E essa é a grande conclusão da apologética econômica! As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria não existem porque decorrem da própria maquinaria, mas de sua utilização capitalista! Já que, portanto, considerada em si, a maquinaria encurta o tempo de trabalho, enquanto utilizada como capital aumenta a jornada de trabalho; em si, facilita o trabalho, uti- lizada como capital aumenta sua intensidade; em si, é uma vitória do homem sobre a força da Natureza, utilizada como capital submete o homem por meio da força da Natureza; em si, aumenta a riqueza do produtor, utilizada como capital o pauperiza etc. O economista burguês declara simplesmente que a observação da maquinaria em si demonstra com toda precisão que essas contradições palpáveis são mera aparência da realidade comum, mas que nem sequer existem em si e, portanto, também não existem na teoria. Ele se poupa, assim, à necessidade de continuar quebrando a cabeça e, ainda por cima, imputa a seu adver- sário a bobagem de combater não a utilização capitalista da maquinaria, mas a própria maquinaria.

De forma alguma o economista burguês nega que surjam também aí aborrecimentos temporários; mas onde existiria uma medalha sem reverso! Para ele, é impossível outra utilização da maquinaria que não seja a capitalista. A exploração do trabalhador pela máquina é, por conseguinte, para ele, idêntica à exploração da máquina pelo traba- lhador. Quem, portanto, revela o que realmente ocorre com a utilização capitalista da maquinaria simplesmente não quer sua utilização, é um adversário do progresso social!178 Igual ao raciocínio do célebre dego-

lador Bill Sikes:

“Senhores jurados! Sem dúvida, a garganta desse caixeiro-via- jante foi cortada. Esse fato não é, porém, culpa minha, é culpa da faca. Por causa de tais aborrecimentos temporários, devería- mos nós eliminar a utilização da faca? Pensem uma vez! Que

178 Um virtuose desse desmesurado cretinismo é, entre outros, MacCulloch. “Se é vantajoso”, diz ele com a ingenuidade afetada de uma criança de 8 anos, “desenvolver mais e mais a habilidade do trabalhador, de modo que ele seja capaz de produzir uma quantidade sempre crescente de mercadorias com a mesma ou menor quantidade de trabalho, então deve ser também vantajoso que recorra ao auxílio da maquinaria que lhe sirva de modo mais eficaz para atingir esse resultado.” MACCULLOCH. Princ. of Pol. Econ. Londres, 1830. p. 182.

seria da agricultura e do artesanato sem a faca? Será que ela não é tão benéfica na cirurgia quanto sábia na anatomia? Além disso, um auxiliar prestimoso em alegres ágapes? Eliminem a faca — e lançar-nos-ão de volta à mais profunda barbárie”.179

Embora a maquinaria necessariamente desloque trabalhadores nos ramos de atividade em que é introduzida, pode, no entanto, suscitar aumento da ocupação em outros ramos. Esse efeito nada tem a ver, no entanto, com a assim chamada teoria da compensação. Já que todo produto de máquina, por exemplo 1 vara de tecido feito a máquina, é mais barato do que o produto manual similar deslocado por ele, segue como lei absoluta: permanecendo o quantum global do artigo produzido mecanicamente igual ao quantum global do artigo produzido manual ou artesanalmente por ele substituído, então diminui a soma global do trabalho aplicado. O acréscimo de trabalho exigido para a produção do próprio meio de trabalho, em maquinaria, carvão etc. tem de ser menor do que a diminuição de trabalho decorrente da utilização da maquinaria. Se não, o produto da máquina seria tão caro ou até mais caro do que o produto manual. Mas, ao invés de ficar igual, a massa global do artigo feito a máquina por um número reduzido de traba- lhadores cresce, de fato, muito além da massa global do artigo artesanal deslocado. Suponha-se que 400 mil varas de tecido feito a máquina seriam produzidas por menos trabalhadores do que 100 mil varas de tecido feito a mão. No produto quadruplicado há quatro vezes mais matéria-prima. A produção de matéria-prima precisa, portanto, ser qua- druplicada. Mas no que tange aos meios de trabalho consumidos, como construções, carvão, máquinas etc., modifica-se assim o limite, den- tro do qual pode crescer o trabalho adicional necessário à sua pro- dução, com a diferença entre a massa do produto de máquinas e a massa do produto manual que poderia ter sido feito pelo mesmo número de trabalhadores.

Com a expansão do sistema fabril num ramo industrial, aumenta, portanto, inicialmente a produção em outros ramos que lhe fornecem seus meios de produção. Até que ponto cresce, em função disso, a massa de trabalhadores ocupados depende, dadas a duração da jornada de trabalho e a intensidade do trabalho, da composição dos capitais apli- cados, ou seja, da relação entre suas componentes constante e variável. Essa relação por sua vez varia muito com a amplitude com que a maquinaria já se apoderou ou se apodera desses mesmos ramos. O número de seres humanos condenados às minas de carvão e metal cresceu enormemente com o progresso do sistema fabril inglês, embora

179 "O inventor da máquina de fiar arruinou a Índia, o que efetivamente pouco nos importa." (THIERS, A. De la Propriété. [p. 275.] O Sr. Thiers confunde aí a máquina de fiar com o tear mecânico, “o que efetivamente pouco nos importa”.

seu crescimento tenha-se tornado mais lento nas últimas décadas de- vido ao uso de nova maquinaria para a mineração.180 Uma nova espécie

de trabalhador nasce com a máquina: seu produtor. Já sabemos que a produção mecanizada se apossou mesmo desse ramo da produção em escala cada vez mais maciça.181 Além disso, quanto à matéria-pri-

ma,182 não há dúvida alguma, por exemplo, de que a marcha acelerada

da fiação de algodão promoveu de modo artificial a plantação de al- godão nos Estados Unidos e, com ela, não só o tráfico de escravos africanos, mas, simultaneamente, fez da criação de negros o principal negócio dos assim chamados Estados escravagistas fronteiriços. Quan- do, em 1790, foi feito o primeiro censo de escravos nos Estados Unidos, o número deles atingia 697 mil, enquanto em 1861 eram cerca de 4 milhões. Por outro lado, não é menos certo que o florescimento da fábrica mecânica de lã, com a transformação progressiva de terras cultivadas em pastagens para ovelhas, provocou a expulsão em massa e a “transformação em excedentes” dos trabalhadores agrícolas. A Ir- landa atravessa ainda neste instante o processo de diminuir ainda mais sua população, já reduzida desde 1845 quase à metade, até atingir a medida exata correspondente às necessidades de seus landlords e dos senhores fabricantes de lã ingleses.

Quando a maquinaria se apodera de fases preliminares ou in- termediárias que um objeto de trabalho tem de percorrer até sua forma final, com o material de trabalho aumenta a procura de trabalho nos ramos ainda artesanais ou manufatureiros em que entra o produto da máquina. A fiação a máquina, por exemplo, fornecia o fio tão barato e tão abundante que os tecelões manuais podiam inicialmente trabalhar em tempo integral, sem maiores despesas. Assim, cresceu sua renda.183

Daí a afluência de pessoas para a tecelagem de algodão, até que, na Inglaterra, os 800 mil tecelões gerados pela Jenny, throstle e mule

180 Segundo o censo de 1861 (v. II, Londres, 1863), o número de trabalhadores empregados nas minas de carvão da Inglaterra e País de Gales era de 246 613, dos quais 73 546 com menos de 20 anos de idade e 173 067 com mais de 20 anos. À primeira rubrica pertencem 835 com 5 a 10 anos de idade, 30 701 com 10 a 15 anos, 42 010 com 15 a 19 anos. O número de ocupados em minas de ferro, cobre, chumbo, zinco e todos os outros metais: 319 222.

181 Na Inglaterra e no País de Gales, em 1861, estavam ocupadas na produção de maquinaria: 60 807 pessoas, incluídos os fabricantes com seus caixeiros etc., isto é, todos os agentes e pessoas do comércio nesse setor. Excluídos, no entanto, os produtores de máquinas menores, como máquinas de costura etc., bem como os produtores de ferramentas para as máquinas de trabalho, como fusos etc. O número de engenheiros civis atingia 3 329.

182 Como o ferro é uma das principais matérias-primas, registre-se aqui que, em 1861, na Inglaterra e País de Gales havia 125 771 fundidores de ferro, dos quais 123 430 do sexo masculino e 2 341 do sexo feminino. Daqueles, 30 810 com menos de 20 anos de idade e 92 620 com mais de 20 anos.

183 "Uma família de 4 pessoas adultas (tecelões de algodão), com 2 crianças como winders, ganhava, no final do século passado e início do atual, 4 libras esterlinas por semana para uma jornada de trabalho de 10 horas; sendo o trabalho muito urgente, podiam ganhar mais. (...) Antes disso, sempre haviam sofrido devido a um suprimento deficiente de fio." (GASKELL. Op. cit., pp. 34-35.)

foram, afinal, novamente liquidados pelo tear a vapor. Assim, com a superabundância de tecidos para vestuário produzidos a máquina, cres- ce o número de alfaiates, modistas, costureiras etc., até que aparece a máquina de costura.

Correspondendo à massa crescente de matérias-primas, pro- dutos semi-acabados, instrumentos de trabalho etc., que a empresa mecanizada fornece com um número relativamente baixo de traba- lhadores, a elaboração dessas matérias-primas se divide em inúme- ras subespécies e cresce, portanto, a diversidade dos ramos sociais de produção. A empresa mecanizada leva a divisão social do trabalho incomparavelmente mais avante do que a manufatura, pois amplia a força produtiva dos setores de que se apodera em grau incompa- ravelmente mais elevado.

O resultado mais próximo da maquinaria é aumentar a mais-valia e, ao mesmo tempo, a massa de produtos em que ela se representa, portanto a substância de que a classe dos capitalistas e seu cortejo se cevam, fazendo crescer essas camadas sociais. Sua riqueza crescente e a diminuição relativamente constante dos trabalhadores exigidos para a produção dos gêneros de primeira necessidade geram, além de novas necessidades de luxo, simultaneamente novos meios para sua satisfa- ção. Uma parte maior do produto social transforma-se em produto ex- cedente e uma parte maior do produto excedente é reproduzida e con- sumida em formas mais refinadas e mais variadas. Em outras palavras: cresce a produção de luxo.184 O refinamento e a diversificação dos pro-

dutos brotam igualmente das novas relações de mercado mundial, cria- das pela grande indústria. Não só se trocam mais artigos estrangeiros de consumo pelo produto doméstico, mas uma massa maior de maté- rias-primas, ingredientes, produtos semi-acabados etc. estrangeiros en- tra na indústria doméstica como meio de produção. Com essas relações de mercado mundial cresce a demanda de trabalho na indústria de transportes e esta se divide em numerosas subespécies novas.185

A multiplicação dos meios de produção e de subsistência com decréscimo relativo do número de trabalhadores leva à expansão do trabalho em ramos da indústria cujos produtos, como canais, docas, túneis, pontes etc., só trazem frutos em futuro mais distante. Consti- tuem-se, diretamente com base na maquinaria ou, então, na revolução

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