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A Teoria crítica dos Direitos Humanos e a relação com a educação em Direitos

3.3 Aspectos da Teoria crítica dos Direitos Humanos

3.3.1 A Teoria crítica dos Direitos Humanos e a relação com a educação em Direitos

indiferente aos apelos humanos e necessidades básicas para uma formação humana que se volte à cidadania e o respeito aos mais vulneráveis. Uma geração humana imune a esses quesitos, não entenderá o papel dos Direitos Humanos, preferindo, como solução, criminaliza-los, como, de fato, na atualidade se propaga.

3.3.1 A Teoria crítica dos Direitos Humanos e a relação com a educação em Direitos Humanos

Em consonância com o objeto desse trabalho, sobre a Formação Docente e a educação em Direitos Humanos, é de bom alvitre observar como algumas acepções da Teoria Crítica podem aproximar-se do objeto aqui trabalhado, com vistas a formar sujeitos emancipados e conscientes de seu papel na história.

Façamos uma memória ao que aludimos nos parágrafos anteriores, sobre a Teoria Crítica dos Direitos Humanos trazendo os seguintes questionamentos: Afinal, as garantias humanas que as declarações internacionais explicitam, conseguem se efetivar? A referência ocidentalista desses direitos atinge outras realidades culturais? Essas questões podem encontrar uma resposta, mantendo a lógica argumentativa entre os aspectos da Teoria Critica e a educação em Direitos Humanos, quando associarmos ao aspecto da interculturalidade proposta por Flores (2009) e Santos (1997).

Na intenção de sugerir uma resposta, ressaltamos que a interculturalidade pode ser um caminho solucionador dessas questões, pois os Direitos Humanos devem ser concretizados a todos, dentro ou fora do ocidente, a todos os povos de diversas culturas e sempre no propósito de construir uma política social que refute o autoritarismo e a negação de direitos.

Nesse sentido, a Teoria Crítica dos Direitos Humanos, longe de ser uma negação a importância desses direitos e na intenção de estabelecer uma relação com a temática da educação em Direitos Humanos pode colaborar para detectar em quais situações a concretização dos Direitos Humanos não é factível. Afinal, a exemplo das declarações internacionais, a proposta de formação docente e de educação em Direitos Humanos só se encontra como algo disposto, considerando um dos elementos pesquisado nesse trabalho, nos planos educacionais, sem uma presença junto aos espaços escolares?

Se a resposta for afirmativa, dentro do que preconiza a Teoria Crítica, ela pode não atingir os sujeitos, além de desvirtuar sua finalidade. Porém, faz-se necessário que, ao contrário dessa premissa, a educação em Direitos Humanos se concretize e atinja as pessoas onde elas estejam como uma proposta pedagógica multicultural capaz de proceder à transformação dos indivíduos para assim, como aponta os ideais freireanos, libertá-los. No chão da escola, portanto, é que se pode fazer uma leitura contemporânea dos Direitos Humanos, na busca de tentar responder se de fato o espaço educativo favorece uma real compreensão desses direitos.

A Teoria Crítica, ao contrario do que preconizava a conceituação burguesa dos direitos do homem no século XVIII, direciona a reflexão do papel dos Direitos Humanos a um exercício de liberdade e ação modificadora da cultura de exclusão. E nesse aspecto, encaixa-se a educação em Direitos Humanos, como instrumento de formação e emancipação dos sujeitos. Os Direitos Humanos deve marcar-se por uma linguagem progressista, numa luta, conforme aludia Bobbio (2004) pela permanente garantia de direitos.

A contribuição da Teoria Crítica dos Direitos Humanos visa desconstruir a criação de um sujeito individualista, insensível e descompromissado com o espaço social, em especial dentro da escola, marcado por tantas contradições, além de instigar a construir “[...] un paradigma sociopraxico de los derechos humanos” (FLORES, 2005b, p.22-23). Para tanto, é necessário sair um pouco da visão de

Direitos Humanos como algo positivado só nos textos normativos, mas que não se compromete com as realidades cotidianas das pessoas.

Os Direitos Humanos deve ser uma realidade presente na escola. Sendo assim é preciso fazer com que a escola não seja um ambiente reprodutor do medo e da indiferença com os que ali transitam. Nesse contexto, a Teoria Crítica, como caminho de ressignificação dos Direitos Humanos, oferece ao estudo da Formação Docente e da educação em Direitos Humanos uma forma de olhar o mundo pela ótica multicultural e diversa, lançando mão de uma política que não se enquadre, apenas, no contexto mercantilista do capital, meramente ocidental ou indiferente aos anseios sociais.

Nesse quesito, olhando, mais uma vez a situação do Brasil a partir de 2019 vê-se o quanto à noção de Direitos Humanos tornou-se necessária, como resistência a uma politica conservadora e de direita, que busca detratar o papel dos Direitos Humanos e a sua importância na construção de uma sociedade mais humana. A atual situação brasileira, na contramão, busca desconstruir as bases democráticas, a liberdade e as politicas de inclusão social, afugentando os Direitos Humanos sob o discurso de sua criminalização e da diminuição das políticas públicas que tratam desses direitos, pois “[...] no Brasil [...] os limites e os riscos colocados à manutenção da democracia estão relacionados às desigualdades sociais e econômicas” (VIOLA e ZENAIDE, 2014, p. 236).

Assim, a Teoria Crítica, guardada as devidas proporções a inquestionável importância dos Direitos Humanos, abriu um caminho crítico reflexivo de como a noção de universalidade desses direitos foram sendo construídas de forma equivocada. Desta feita, faz-se necessário, para os dias de hoje, uma urgente releitura dos Direitos Humanos a partir de espaços sociais e políticos, buscando fazer ressurgir um “[...] contexto del reconocimiento de la diginidad de cada persona” (MORÁN, 2014, p. 317)

Cada docente, ao estudar os Direitos Humanos se torna um multiplicador de uma cultura capaz de olhar o mundo como um espaço de experiências cotidianas de respeito à dignidade humana e a diversidade. Por isso que:

No terreno dos direitos temos um grande paradoxo: a cada vez maior consolidação e proliferação de Textos Internacionais, Conferências Protocolos... em contraste, paralelamente, com o aprofundamento das desigualdades e injustiças que cada vez mais amplia a separação entre os polos, não só geográficos, mas também econômicos e sociais, do Sul e do Norte (FLORES, 2009a, p.33-76).

Na verdade, formar em e para os Direitos Humanos pressupõe diminuir as barreiras e desconstruir a cultura da distância, em que as pessoas formadas nessa dimensão possam ser multiplicadoras de políticas públicas que visem diminuir as desigualdades sociais. Para tanto, essa diminuição passa também, pela urgente implementação dos Direitos Humanos na escola, destituindo qualquer resistência as suas abordagens e ao seu estudo.