A teoria da agência, conforme Jensen e Meckling (1976), é o relacionamento de agência como um contrato de um principal com um agente para realizar uma atividade, delegando autoridade. Os conflitos da agência têm como fundamentos a inexistência do contrato completo e a inexistência do agente perfeito.
Nos contratos firmados entre os stakeholders, ocorrendo a separação entre propriedade e gestão, há o aumento da fomentação de crescimento e perpetuidade. Concentram-se, como outorgantes, os acionistas e, como outorgados, os gestores contratados para a direção executiva. Os outorgantes se concentram nas decisões financeiras, alocação eficaz de recursos, riscos e diversificação de aplicações. Os outorgados focam no negócio, gestão e estratégia. Um alimenta o outro com as informações necessárias. Dessa forma a propriedade está separada da gestão. Como na maioria das vezes os interesses das partes são distintos, configura-se o conflito de agência.
Na medida em que uma grande corporação tem sua propriedade pulverizada e seu controle entregue a executivos não proprietários coloca-se o problema como garantir que o comportamento destes executivos esteja afinado com a maximização do valor para os acionistas. (RABELO E SILVEIRA, 1999, p.6)
Estabelece-se, entre outorgante e outorgado, uma relação de agência. O objetivo é maximizar o retorno total dos acionistas e maximizar o interesse dos gestores, tudo preestabelecido em contrato. Espera-se que o agente tome decisões e atitudes que visem o atendimento dos interesses do principal. Conforme Silveira (2004) os acionistas podem limitar as divergências monitorando as atividades dos executivos e estabelecendo incentivos para eles, o que gera custos. Tais custos são chamados de custos de agência e englobam custos de estruturação dos
contratos, gastos de monitoramento e perdas residuais oriundas da diminuição da riqueza por divergências entre as decisões do agente.
De acordo com Jensen e Meckling (1976) os custos de agência englobam:
QUADRO 1: Custos de agência
Custos Origem Formas
Monitoramento Principal Auditoria, relatórios internos
e visitas
Comprometimento Agente Auditoria, aceita restrições
contratuais para mostrar que suas ações e intenções não são prejudiciais ao principal
Perdas residuais Principal Divergências entre decisões
Fonte: JENSEN,M.C.;MECKLING,W.H.Theory of the firm:mamagerial behavior,agency costs and ownership structure.Journal of Financial Economics ,n.3,1976
Para Shleifer e Vishny (1997), o problema de agência refere-se às dificuldades que os investidores têm em garantir que seu capital não seja expropriado ou investido em projetos não atrativos. O ideal seria um contrato completo, especificando tudo que o agente deve realizar. Mas existem situações futuras imprevisíveis que dão aos administradores o direito de tomar decisões não estabelecidas no contrato.
Segundo Klein (1983) no mundo real em oposição ao modelo econômico padrão, os contratos completos, totalmente contingenciais e minimizadores de custos não existem. Os contratos seriam incompletos por duas razões: primeira, que as incertezas implicam em um vasto número de possíveis contingências e seria extremamente dispendioso se determinar e especificar as situações para ambas as partes do contrato; segundo, os contratos seriam incompletos devido à dificuldade de mensuração e especificação das respostas ou reações e desempenho em relação ao que foi contratado. Rabelo e Silveira (1999) sugerem que o ideal seria uma empresa com um sistema de governança contratual que minimizasse os custos de transação.
A inexistência do contrato perfeito foi abordada por Klein em 1983, com a análise do ambiente imprevisível, sujeito a turbulências. Tanto os ambientes externos quanto os internos
sofrem mudanças com o tempo, e isso inviabiliza a perpetuidade do contrato perfeito. O interesse próprio em confronto com o interesse de terceiros causa tal instabilidade.
Essas relações de agência não se restringem apenas a acionistas e gestores. O arranjo contratual serve como ligação entre todos os stakeholders da empresa. O modelo é flexível e conforme Martinez (1998), vários stakeholders estão nessa relação, conforme quadro abaixo:
QUADRO 2: Relação principal e agente nos conflitos de agência
Relações Principal - Agente O que o Principal espera do Agente?
Acionistas- Gerentes Gerentes maximizem a riqueza do Acionista ( ou o valor das ações)
Debenturistas - Gerentes Gerentes maximizem o retorno do Debenturista
Credores - Gerentes Gerentes assegurem o cumprimento dos contratos de financiamento
Clientes - Gerentes Gerentes assegurem a entrega de produtos de valor para o Cliente
Governo - Gerentes Gerentes assegurem o cumprimento das obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias
Comunidade - Gerentes Gerentes assegurem a preservação dos interesses comunitários, cultura, valores e meio ambiente.
Acionistas - Auditores Externos Auditores Externos atestem a validade das demonstrações financeiras (foco na rentabilidade e na eficiência)
Credores - Auditores Externos Auditores Externos atestem a validade das demonstrações financeiras (foco na liquidez e no endividamento)
Gerentes - Auditores Internos Auditores Internos avaliem as operações na ótica de sua eficiência e eficácia gerando recomendações que agreguem valor
Gerentes - Empregados Empregados trabalhem para os gerentes com o melhor de seus esforços, atendendo as expectativas dos mesmos.
Gerentes - Fornecedores Fornecedores supram as necessidades de materiais dos Gerentes no momento adequado e nas quantidades requisitadas.
Fonte: MARTINEZ, A.L.Agency Theory na pesquisa Contábil. Foz do Iguaçu: 22 Enanpad. Set,1998.
É preciso utilizar toda expertise gerencial para administrar os conflitos existentes. Com as constantes mutações mercadológicas e a entrada de novas tendências, saber utilizar o conhecimento dos stakeholders envolvidos na organização, para contornar os conflitos, pode ser um diferencial. A governança corporativa tem como função tentar eliminar ou minimizar
os problemas de agência e os custos de transação, por meio de uma conduta regulada pelas partes envolvidas no negócio.